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Sessão de 15 de Dezembro de 1925 23

ginando que Santos Bandeira e Alves dos Reis eram pessoas honestas, veio a saber depois que estavam pronunciados no Pôrto pelo crime de falsificação e burla.

Ora nós não temos culpa de que os homens de Estado da política republicana se enganem, se iludam na sua boa fé, os prejuízos são para o país, e portanto, o país tem de os tornar responsáveis por desempenharem em casos desta natureza o simples papel do comparsas.

Mas. Sr. Presidente, chegamos precisamente ao ponto fundamental para o efeito da responsabilidade política do regime.

Sabendo o Sr. Presidente do Ministério e Ministro das Finanças de então que havia no Banco pessoas de menos idoneidade moral, e porque não mandou seguir essas pessoas, a passo o passo?

Porque não mandou seguir as pessoas que lhe pediram autorizações?

Porque não entrou num franco e minucioso inquérito sôbre quem eram e o que valiam essas pessoas?

Nada disso fez S. Exa. Vemos assim que esta gente comprou quintas por preços fabulosos, comprou prédios por preços fabulosos, comprou a própria sede social por três ou quatro vezes mais que o seu valor.

Iam para os clubes luxuosos gastar contos e centos. E nada disto viu o Govêrno, nada disto viu a polícia e o inspector do Comércio Bancário!

Que maiores responsabilidades se podem pedir a um Govêrno e à própria política que êle representa no Poder?

Mas, mais ainda. A medida que se queriam converter as notas falsas em dinheiro bom, os falsários iam para o Algarve, onde à custa das suas confessadas influências - confessadas aqui, ontem, pelo Sr. Vitorino Guimarães, porque êles tinham quem os protegesse abertamente perante as instituições do Poder - e o que fazem?

Conseguem que se abrisse concurso para as obras do porto de Leixões. Êsse concurso fez-se e veio para o Diário do Govêrno o decreto respectivo.

Lá apareceu um dos falsários a depositar 2:000 contos. Fizeram o mesmo que no Algarve: tantas trocas fizeram de notas falsas por dinheiro bom, que êste se acabou nas agências. Sei-o por informação duma pessoa que veio do Algarve recentemente.

Vejam quanta responsabilidade têm aqueles que concorreram para êste estado de cousas!

Mas o Govêrno, a polícia, o inspector do Comércio Bancário nada sabiam, de nada queriam saber! Estavam cegos!

Mas estavam cegos por falta de vista? Não, Sr. Presidente?

Estavam cegos pelas altas influências que se moveram ,à sua volta para proteger esta onda de bandidos!

Apoiados da extrema direita.

Mas os falsários continuam a semear dinheiro falso. Vão para Braga e depositam também milhares do contos.

O Govêrno, pela boca do Sr. Presidente do Ministério, que tem responsabilidades especiais, veio dizer à Câmara apenas que suspeitou dessa gente. Porque não a mandou seguir com o maior cuidado, como deve fazer em face de pessoas suspeitas?

Não o fez, e tem por isso responsabilidades tremendas, responsabilidades políticas que não pode de modo nenhum declinar.

Ouvi com toda a atenção o Sr. Vitorino Guimarães. Estou convencido - e a Câmara, por certo, está convencida também - do que S. Exa. falou com sinceridade. Mas S. Exa. não deixa de ter responsabilidades, fortes responsabilidades políticas.

Ficou com essas responsabilidades, mais do que nunca, desde ontem.

Cada um de V. Exas. devo ler bem na sua consciência como eu estou a dizer a verdade.

Não só se não prosseguiram as investigações, como se não vigiou essa gente: deixou-se praticar tudo o que ela quis.

Essa gente não se contentou em roubar os portugueses residentes em Portugal; e, então, na ânsia de querer trocar dinheiro falso, o que fez? Foi para o estrangeiro o lá aproveitou todas as colónias numerosas de portugueses para trocar milhares e milhares de contos.

Isto é tam grave, que V. Exa. há-de ver que hão-de chegar milhares e milhares de contos das agências do Banco de Portugal no estrangeiro para serem trocados.

Espere V. Exa. pela cifra, e eu já lhe afianço, pelas informações que tenho, que ela há-de ser elevadíssima.