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Sessão de 16 de Dezembro de 1925 9

O Sr. Presidente: - Eu marcarei para a ordem do dia da próxima sessão a eleição de vogal para essa comissão.

ORDEM DO DIA

Continua em discussão o caso do Banco Angola e Metrópole.

O Sr. Amâncio de Alpoim: - Sr. Presidente e meus senhores: há dias, nesta Câmara, quando apresentei uma proposta relativa ao incidente do Banco Angola e Metrópole, representava, para mal dos meus pecados, a figura ingénua e rude de Calisto Elói, o conhecido herói do romance de Camilo Castelo Branco.

Com a mesma ingenuidade rude do morgado eu vim a esta Câmara, convencido de que meia dúzia de palavras bem pensadas e correctamente proferidas sôbre um assunto que não tem outra solução possível haviam de cair, não digo só no coração, mas também na inteligência dos Srs. Deputados, por forma a resolver-se um problema cuja solução não admite delongas. E realmente com a mesma ingenuidade "calística" de Calisto Elói eu verifiquei que, emquanto eu proferia as desataviadas palavras que então disse, emquanto me incendiava - não me envergonho de o dizer - num sagrado fogo de entusiasmo pelos sadios e bons princípios republicanos, estava a meu lado a sensibilidade e consciência de quási todos os dignos Deputados que têm assento nesta Câmara.

Até o fim das minhas considerações, até o fim da leitura da minha proposta de inquérito, fui acompanhado pela solidariedade dos meus colegas da Câmara. E depois de ler essa proposta, sem uma objecção - digo-o porque, foi verdade, - quási todos os meus ilustres colegas desta casa do Parlamento vieram ao meu lugar cumprimentar-me e apertar-me a mão.

A seguir, depois duma pequena pausa, fizeram uso da palavra várias entidades categorizadas da política republicana. Rompeu filas a figura, que ou muito estimo como pessoa e como republicano, do Sr. Álvaro de Castro. Prende-me a S. Exa. um laço de parentesco por afinidade que eu me orgulho de possuir.

Depois do Sr. Álvaro de Castro, falaram outras entidades também categorizadas, e o assunto que parecia destinado a ser votado quási por aclamação, se tal fôsse permitido dentro do Parlamento, está-se apresentando hoje num tem que aos meus olhos de ingénuo, de Calisto, me parece monstruosamente inexplicável.

Eu não compreendo, e como não compreendo vou falar aqui um pouco para explicar e um pouco para que V. Exas. me expliquem.

Tenho a impressão de que, não sendo demasiadamente estúpido, e parece-me que o não sou - porque pessoas que não têm necessidade do me lisonjear muitas vezes mo dizem,- devo pensar que o país não compreendo com certeza uma cousa que eu não sou capaz de compreender.

Eu já vejo de boca aberta a olhar para minha estátua da eloquência; não mo reconhece como seu discípulo, mas eu vou falar claro, gritando talvez, porque às vezes a gente perde um pouco a serenidade e diz cousas que não quere, cousas que brotam do subconsciente no calor verbal com que se era.

Eu vou dizer a verdade, o não há cousa mais explosiva, de mais perigoso alcance do que a verdade.

Sem censuras para ninguém, não é frequente que as verdades nuas, de peito aberto a sangrar, entrem e se instalem nesta sala. Envolvemo-las com frequência em figuras de retórica e assim ataviadas perdem muito da sua clara e vitoriosa nudez.

Eu quero a verdade crua e é essa que vou falar.

Chamo para as minhas palavras a atenção dos Srs. trabalhadores da imprensa, e digo trabalhadores da imprensa porque sempre que se fala na imprensa eu distingo entre trabalhadores da imprensa e directores dos jornais.

E indispensável fazer esta distinção. Na imprensa, como em todas as indústrias, existe o honrado trabalhador que se esfalfa - porque o termo não é outro,- sem garantias de horário de trabalho, sem garantias de reforma nem de continuidade de ocupações do seu lugar, num esfôrço absolutamente inglório, que por ser mental é tanto mais extenuante.

Não acusamos êsses trabalhadores, despreocupados do joguinho do patrão, dos interêsses dos directores dos jornais. A