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Sessão de 4 e 5 de Janeiro de 1926 13

que ponha em risco a honorabilidade de qualquer dos directores do Banco de Portugal.

Portanto, é necessário que o Sr. Amâncio de Alpoim imediatamente prove os factos de que vai acusar o Banco de Portugal.

Acima desta necessidade nenhum outro facto pode prevalecer.

E, se bem que entendo que realmente esta votação não seria oportuna, em todo o caso dou o meu voto, não direi com prazer porque o caso n3o é para isso, mas por entender que nas condições que se criaram o assunto se deve esclarecer.

Só direi a S. Exa. que neste momento, para empregar a imagem clássica, se está muito perto do Capitólio ou da Rocha Tarpeia.

Apoiados.

O orador não reviu.

O Sr. Vitorino Guimarães: - Em nome dêste lado da Câmara direi que não considero oportuno o tratar dêste assunto.

Direi que, estando numa nova legislatura, e sem desprimor para o Sr. Amâncio de Alpoim, nós, daqui para o futuro, não votaremos que qualquer Deputado venha aqui tratar nestes termos de questões desta ordem, que podem envolver uma questão moral, e podem representar uma coacção.

E preciso que as pessoas que desempenham adentro do organismo do Estado certas funções estejam revestidas de todo o prestígio.

Fazemos portanto esta declaração: de hoje para o futuro não mais votaremos um "negócio urgente" apresentado nestas condições.

Apoiados.

Tenho dito.

O orador não reviu.

O Sr. Presidente: - Vou pôr à votação o "negócio urgente" apresentado pelo Sr. Amâncio de Alpoim.

Aprovado.

O Sr. Amâncio de Alpoim: - Sr. Presidente: ficará surpresa a Câmara pela natureza dos factos e considerações que voa apresentar. Aguarda-se evidentemente que eu venha ao Parlamento comentar a campanha em termos de reclamo à americana, que para aí se desenvolveu contra mim. Sei bem que não posso nem devo fazê-lo. O Parlamento não é Tribunal Criminal para apreciar os actos de um Deputado mais criminoso do que Troppman, Landru ou o Diogo Alves - como parece que eu sou -, nem lhe compete também julgar dos aspectos administrativos da campanha que, na forma idónea, e a meu requerimento, vão ser apreciados por quem de direito. O Parlamento discute e vota em assuntos de interêsse nacional (é essa a sua missão, que não tem sido infelizmente cumprida), e não a abandonará por minha culpa.

Mas a obrigação, que eu reconheço, de me não defender pessoalmente aqui, estabelece para V. Exas., Srs. Deputados da Nação, a obrigação do me não atacarem pessoalmente nesta casa. Se tal sucedesse - o que não creio por justiça que lhes faço - eu compreenderia que mais do que à minha apagada pessoa se pretendia enxovalhar e derrubar em mim o ideal que modestamente represento. Então eu haveria de falar com inteira clareza, subindo e descendo até onde fôsse necessário, para desprazer de muitos e edificação de todos. Partiria muitos telhados de vidro - estou convencido disso - sem nenhum receio pela conservação das minhas telhas.

Não devo, não temo, e passo adiante...

A causa da campanha desenvolvida contra mim é o discurso que vou fazer. Em política verifica-se por vezes êste aparente contra-senso: o efeito precede a causa. E assim sucedeu na Itália que Matteoti foi assassinado por causa de um discurso que ia proferir no Parlamento; o assim sucede em Portugal que ao Deputado socialista Amâncio de Alpoim (nome legítimo, porque sou filho de pais cógnitos) vazaram sôbre a cabeça uma carroçada de esterco para lhe abafar a voz. Processo insensato o que se empregou em Portugal. O assassinato moral de um homem que tem razão para se defender e que sabe fazê-lo é muito mais difícil do que um sumário homicídio. A lama caiu aos meus pés, e, subindo sôbre ela, calcando-a com as minhas solas, estou em cima de um pedestal, convencido de que se me fez simplesmente, como já afirmei, um reclame à americana.

Antes ainda de entrar propriamente