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Sessão de 4 e 5 de Janeiro de 1926 15

Talvez haja, talvez. Eu cá por mim já espero tudo depois do tudo que se está a passar depois que eu vi nesta Câmara um ilustre Deputado afirmando por sua conta e por conta de nós todos que a nação não nos tomava a sério. Pela minha parte perdi toda a ingenuidade neste país, onde se estão perdendo todos os respeitos humanos. Mas como não perdi a cabeça nem a língua, falarei.

Impedido de ver em comissão de inquérito parlamentar, eu tratei de ver pelos meus próprios meios. Emquanto por indicações de cima se me despejavam sôbre a cabeça chapoeiradas de insultos, eu espreitava e estudava.

Nem me dei ao trabalho de me defender - a gente não caça percevejos quando luta com um adversário forte e desleal - e o adversário que eu tinha - não pela frente, mas por detrás da cortina - estimulando e pagando as navalhadas que se vibravam contra mim, é simplesmente a administração do Banco de Portugal.

Comecemos pelo princípio. Eu já estou escutando por anteciparão, Sr. Presidente, o clamor patrioteiro de certos órgãos da imprensa que recebem pela verba de publicidade do Banco de Portugal. Vão uivar contra mim indignados ou compungidos, acusando-me do trabalhar por conta de Trotsky ou de Zinovieff para derrubar o baluarte do crédito nacional, o sacrário da economia portuguesa, a imaculada vestal financeira, turris eburnea, sucessora dos falidos Banco de Lisboa e Companhia Confiança Nacional, que se chama o Banco de Portugal. Vou passar a ser traidor em letras de molde, pagas a tanto por linha.

Raciocinemos, se ainda é permitido fazê-lo em Portugal. O crédito da nação não deriva das barras metálicas e títulos de dívida estrangeira - mais ou menos empenhados - que todos somados não valem 3.000:000 de libras, existentes nos cofres do Banco de Portugal. Mal de nós todos se assim fôsse. O crédito do país baseia se exclusivamente no trabalho, na produção e capacidade tributária de 6.000:000 de portugueses, o que me parece ser uma base muito mais nobre e mais alta.

É tam forte êste pilar do nosso crédito, que resiste aos constantes assaltos que no Parlamento e na imprensa se dirigem à administração republicana em todos os seus organismos, sem que tenham receio os atacantes - e ninguém disso os acusa - de derrubar o nosso crédito pela constante propaganda do nosso descalabro administrativo.

O crédito nacional pertence à nação, e esta não passou, nem podia passar, procuração para a representar e defender à dezena de monárquicos que dirigem e digerem o Banco de Portugal.

Pois explica-se lá que a República s& tivesse proclamado para defender a nação e deixasse a base do seu crédito entregue às mãos de monárquicos eleitos pelos seus amigos e cúmplices dos seus negócios?

Que disparate seria êste?

Os republicanos que o afirmam terão de reconhecer que atraiçoam a República mantendo essa situação. Uma organização financeira de tal forma importante à economia da nação não podia, nem uma hora, estar entregue à mão de homens que não sejam escolhidos pelos legítimos representantes desta, que sejam, como os actuais, adversários do regime, reconduzidos como foram agora os directores do Banco do Portugal por aclamação de um grupo de amigos que descontam no Banco, sugestionada - para o não chega - pelo inclassificável truc que nessa assemblea se empregou. Refiro-me, Sr. Presidente, à fita visivelmente preparada para os efeitos da assemblea geral, à desprezível comédia da confissão dos presos, ao chefe Xavier, comunicada à assemblea por um cúmplice da administração.

Não, não se pode argumentar com a falta de patriotismo de quem não reconheça que o Banco não representa de qualquer maneira, felizmente - e já se compreenderá porque digo felizmente - a nação ou o seu crédito.

O crédito que o Banco ainda possui, através de uma administração cuja incompetência só é excedida pelo impudor, deriva da situação legal que se lhe criou. Daí e apenas daí. Mas se assim não fôsse, se realmente o Banco constituísse o mais importante departamento da administração nacional, teríamos de reconhecer, meus senhores, que também não era lícito manter o segredo por um único momento sôbre erros, crimes da sua administração. Traidor à Pátria, incontestável