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16 Diário da Câmara dos Deputados

traidor seria o homem que, conhecendo-os, se mantivesse em silêncio. Êsses, sim, êsses é que fariam, o jôgo de inimigos externos, e pela cumplicidade do seu segredo contribuiriam para se lançar o país nos horrores da ruína e da anarquia.

Eu não hei-de ser dêsses homens, Sr. Presidente.

Tive o mau sestro de espreitar lá para dentro e compreender. Sereno, sem arremessos de herói, que não sou, sem timidez de escravo, que também me prezo de não ser, venho afirmar a V. Exa., e ao país, que a administração do Banco de Portugal, numa assombrosa cumplicidade de homens elegantes que passam a vida a reclamar por sua honra, falsifica as contas, falsifica as notas e defrauda o país.

Afirmo e provo.

É esta constante falsificação e fraude, que vem já de há muitos anos num pavoroso crescendo, que vem do tempo da monarquia sem correctivos da República, a causa fundamental por que o Banco de Portugal pagou sem pestanejar, alegando o patriotismo-o patriotismo! - como causa determinante dêste ruinoso acto, as dezenas do milhar de notas falsas que foram espalhadas pelo país. O charco pretendeu voltar ao repouso depois da queda da pedra do escândalo, lançando para o ambiente a novos de uma campanha de imprensa que aspira a revolução. Não haverá de o conseguir. A consciência do povo trabalhador despertou, quando não hajam despertado outras, e não está disposta a tornar a adormecer.

Vamos a contas, meus senhores, neste assunto que é de contas.

Não calculem que os vou maçar com a exposição de cifras abstractas o narcóticas. De entro a infinidade de provas que eu conheço, e tenho, haverei de destacar apenas um punhado e nada mais, simples o nítidas tais como existem, fulminantes, esmagadoras, reclamando em altos gritos prisão maior celular. Tenho aqui à minha frente os três últimos relatórios do Banco (1922, 1923 e 1924); tenho aqui à minha frente, com as respostas que o Banco deu às célebres preguntas, as diabólicas preguntas, as tenebrosas preguntas dêsse homem de bem e grande republicano que se chama Joaquim Augusto Pinto de Lima. Possuo todas estas cousas em duplicado, e o duplicado das preguntas guardado em lugar seguro.

Êste material é bastante.

V. Exa., Sr. Presidente, conhece a história destas célebres preguntas de Pinto de Lima. Apareceu a certa altura o Sr. Luís da Silva Viegas fazendo uma entrevista com retrato, nas páginas de um jornal que o tinha enxovalhado dias antes, e que a propósito da entrevista o cumulava de elogios. A parte fundamental dessa entrevista era a acusação lançada contra Pinto do Lima de haver sugestionado ao Sr. Tôrres Garcia, Ministro das Finanças, uma série do preguntas que êste haveria de dirigir ao Banco de Portugal, tendentes a colocá-lo em estado de falência. Os despautérios que se dizem nesta terra!...

A falência de um Banco não se abre por preguntas, é por factos.

Um banco que esteja em boa posição financeira só pode lucrar quando só lhe formulem preguntas sôbre a sua capacidade e administração.

Preguntem V. Exas. ao Banco Morgan, à casa Kothschild, preguntem tudo quanto lhes apetecer e verão que não lhes abrem a falência. E um caso único de disparate afirmar que as muralhas do Banco de Portugal podem cair crivadas com pontos de interrogação, tal como caíram a toques de corneta as muralhas de Jericó...

As preguntas desorientaram a administração do Banco, desorientaram o Sr. Luís Viegas, desorientaram várias pessoas amigas da casa, e resumiam-se afinal em oito pequenas interrogações. Apenas oito, e por tal forma perturbantes que já andam para aí a dizer que foram vinte e três?

Vale por três cada uma aproximadamente...

Não tenho que fornecê-las ao Sr. Ministro das Finanças, porque as possui no seu Ministério com as competentes respostas. Mas devo informá-lo de que essas preguntas não foram formuladas como o Sr. Tôrres Garcia as redigiu. Intermediários, que para o caso não importam, as modificaram em termos de se responder mais fàcilmente, de se responder no ar.

Pinto de Lima pedia números, estado de contas, datas, com a secura de um questionário comercial, e amoldaram-se as suas preguntas, pretendendo-se-lhes dar um aspecto apaixonado e tendencioso que comprometesse o próprio interrogador;