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Sessão de 19 de Abril de 1926 29

no mesmo período demonstrou serviços eficazes e modelares como os da Caixa Geral de Depósitos e os florestais.

Mas no caso sujeito estamos na presença de uma indústria instalada, com largos lustros de laboração, que entra na posse do Estado completa, isto é, com imóveis, maquinismos e os quadros necessários do pessoal.

Deixamos, pois, os perigos da régie reduzidos à possibilidade de aumento da agitação política e de desenvolvimento da dissolução moral. Mas êstes perigos são comuns a todas as transformações. Se nos não sentimos com coragem para os prevenir e vencer, então não devíamos ter implantado a República, porque sôbre ela pendia a ameaça dos mesmos embaraços.

Tudo aconselha, pois, a adopção da régie neste caso dos tabacos. O Partido Republicano Português, preconizando e defendendo esta solução, é coerente com o sou passado o procura, honradamente, completar a revolução republicana, cujas soluções económicas estão por elaborar, o que é um dos maiores factores da perturbação política e social em que temos vivido. Por outro lado, como as sociedades se encaminham para a realização da democracia económica, procura aproveitar uma indústria que é do Estado para realizar um modelo de organização concorde com o sentido da evolução social moderna, onde se apliquem os métodos scientíficos de produzir, que pela incapacidade dos dirigentes das fôrças económicas são quási desconhecidos entre nós.

Mais uma vez o nosso glorioso partido sacrifica ao bem da Nação todos os interêsses. Mais uma vez se bate pela autêntica liberdade contra a pior de todas as tiranias, a dos argentários desvairados pela ânsia de lucrar. Mais uma vez o não entibiam os ódios excitados contra êle e mete ombros corajosos à obra de reconstrução republicana da sociedade portuguesa.

Por mim, republicano de sempre, que nunca se desviou do caminho traçado durante a propaganda, exulto de poder ter comigo, nesta batalha pela República, pela Pátria, o partido a que pertenço. Mesmo que assim não sucedesse, como fiz a propósito dos fósforos, defenderia as opiniões que acabo de expor, tanto as considero justificadas pela experiência e pelo conhecimento.

Em verdade, creio firmemente que as sociedades civilizadas do nosso tempo estão já realizando a instalação da democracia económica. Pretendo, por isso, que aquela a que pertenço se encaminhe no sentido da transformação que a natureza tornou inevitável. Procuro que êsse trabalho se faça com prudência, sem opressões nem vexames, sem expropriações nem extorsões. Aconselho por isso o aproveitamento dos bens do Estado para a execução gradual e experimental do plano que atrás esbocei de adaptação da vida económica portuguesa à fisiologia contemporânea das respectivas actividades.

Pode ser que as paixões movidas pelos interêsses se façam tempestade e nos vençam. Mas a posteridade nos fará justiça. Não se imagine que esta confiança no julgamento da posteridade tem alguma cousa de romântico. Mais do que nenhuma outra forma de actividade a política se dirige à organização do futuro. Já ninguém a considera como um jôgo de oportunismos ou como uma técnica elaboradora de imediatas utilidades. Na realidade, a política de hoje, baseada na sciência de previsões, é a arte de preparar o futuro.

Cumpro, por isso, com coragem, sem tibieza, apontando um verdadeiro temporal de lama, onde o sangue talvez venha a estender ainda manchas indeléveis, o meu dever de político e de homem.

A transformação é uma qualidade natural e fundamental das sociedades humanas, que, por êsse mesmo motivo, são consideradas um devenir, ou seja um "ir tornando-se", um "ir formando-se". A sociedade portuguesa tem de transformar--se também, sob pena de perecer. Prevejo que a sua transformação, como está a acontecer às outras sociedades do mundo, conforme demonstrei, terá de realizar-se no sentido da democracia integral. Preconizo, portanto, a adopção de uma política experimental que oriente e facilite a transformação em vez de a desviar e contrariar.

Fica bem claro o meu pensamento; está bem nítida a minha aspiração; defini com rigor os métodos que perfilho. Estou convencido que por êste caminho e desta