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Sessão de 2 de Março de 1914

E claro que esta entente é económica, visto que ninguêm pensa expoliar-nos pela fôrça.

Ó assunto é muito delicado bem sei, mas os pourparlers na imprensa mundial são tantos e tam claros, que eu penso que toda a reserva é descabida, direi até prejudicial, e que o Govêrno não pode ficar calado, porquanto a verdade é que o assunto tem sido tratado na imprensa estrangeira, nos jornais nacionais, e até nos soalheiros cá da terra.

Todos cheios de anciedade preguntam: então no Parlamento não se diz nada sôbre um assunto tam grave?

Com o Parlamento aberto não se formula uma simples pregunta em assunto de tanta magnitude?

Pois é o que eu faço.

Dir-se-há que se trata só duma entente económica; mas todos sabem, Sr. Presidente, que o primeiro passo para a conquista política duma região é a sua conquista económica. Ninguêm desconhece que, os interêsses criados são a base de todas as conquistas e a razão invocada para invocar direitos.

Em 1885 assim sucedeu com o Congo, e o mesmo pode suceder amanhã com Angola, desde que não haja nos diferentes pontos desta província um forte núcleo de colonos, de arreigado amor a Portugal, que defenda o território, dizendo-se portugueses. E como na dinâmica social, nesse ponto igual à dinâmica física, uma forca é destruída por outra igual e contrária, fácil é saber o caminho a seguir: colonizar.

Sr. Presidente: vejo o futuro de Portugal ligado à existência do domínio colonial.

Bem sei eu, que o Sr. Augusto de Vasconcelos, quando Ministro dos Estrangeiros, negou a existência dêsse acordo. Ainda sei, que o Sr. António Macieira, último Ministro dos Estrangeiros, tambêm afirmou, e bem calorosamente na Sociedade de Geografia, que as notícias, que se referiam a entendimentos entre a Inglaterra e a Alemanha, acêrca das nossas colónias não eram verdadeiras. A verdade, porêm, Sr. Presidente, é que o país não acreditou nesse desmentido.

Não digo, que S. Exas. não tivessem o melhor desejo de acertar; mas a verdade é que, a diplomacia obriga muitas vezes a pôr um não onde se deve colocar um sim, e escrever um sim onde deve estar um não (Apoiados).

Por minha banda afigura-se-me, que essas negociações continuam e que se destinam à conquista da província de Angola, conquista económica, é claro.

Assim, é preciso que o Sr. Ministro das Colónias, pondo de parte melindres hoje inadmissíveis, nos apresente declarações terminantes e positivas a tal respeito.

Sr. Presidente: tudo quanto eu disse, há tempo, em relação aos desejos dos alemães, era profundamente verdadeiro, visto que tudo se realizou já.

Disse que em Janeiro chegaria a Udjiji, nas margens do Tanganika, a linha férrea Dar-es-Salam; pois bem, já lá está.

Disse que se ia estabelecer uma carreira de vapores alemães para a nossa África Ocidental, Lobito e Mossâmedes; pois já existe, leva malas e passageiros; é quinzenal.

Agora vai construir-se uma nova linha que porá em comunicação Tanganika com Katanga, e um outro ramal se vai construir de Otavi pelo Ovampo, de 155 quilómetros, a W. do pântano Etocha a enfrentar com o Cuanhama.

Some V. Exa. tudo e diga-me, Sr. Presidente, se não é indispensável resolver quanto antes a questão do sul de Angola, e se não é preciso que o Sr. Ministro das Colónias nos diga o que sabe a respeito das negociações entre a Inglaterra e a Alemanha.

Sr. Presidente: hoje não se fazem conquistas coloniais pelas armas.

Essa forma de conquista passou, o meio é mais pacífico e proveitoso.

As conquistas hoje fazem-se por processos económicos.

Se a província de Angola sofrer a influência económica da Alemanha, poderemos nós ficar com o domínio político, que só traz despesas; mas a Alemanha ficará com o domínio económico que traz o proveito sem os encargos da posse política. (Apoiados).

Ora, Sr. Presidente, já hoje é muito difícil, apesar de não haver meios de transporte até a fronteira sul da nossa colónia de Angola, fazer concorrência aos produtos alemães. Na Huíla os artigos de comércio europeu, que os nossos comerciantes lá põem, são hoje muito mais caros que os

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