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tiessão de 29 de Janeiro de 1920

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rante a guerra, einquanto S. Ex.a' esteve no país, promover a união de todos os republicanos.

Ninguém duvida também de qu,e ainda hoje, como então, indispensável é que todos os republica-nos se unam a fim de que todo o país, vendo o exemplo dos homens públicos e dos partidários do regime, se lhes venha juntar e unir; pois não basta a união de todos os republicanos, embora sejam a maioria. E necessário mais alguma cousa: é preciso que se faça a união de todos os portugueses, de todos os cidadãos, para que eficazmente possam ser atendidos os superiores interesses dá Nação.

Estou inteiramente de acordo. Mas S. Ex.% que é um espírito eminente, que é uma inteligência superiormente culta e tolerante, foi talvez, e de certo modo, contraditório no seu discurso.

S. Ex.a disse que não foram punidos ainda os homens que durante a ditadura dezembrista perseguiram os republicanos; que ainda se não fez o processo daqueles indivíduos que trataram os presos políticos republicanos como os inimigos externos tratavam os prisioneiros de guerra; qno também ainda se não fez a acusação daqueles que têm a principal responsabilidade na chamada leva da morte. Emfim todos os responsáveis por tais actos dormem descansados, sem terem sofrido a dura severidade dum tratamento idêntico por parte dos republicanos.

Sr. Presidente: é para 'mini muito doloroso recordar a \T. Ex.a e ao Senado qual o direito, que eu tinha, de sensibilidade e de coração, para .exigir que a República fosse não só justiceira, não só perseguidora, mas alguma cousa mais : impla-càvelmente feroz no castigo daqueles que me roubaram três irmãos e que a meu pai, com sessenta e cinco anos de idade, e pela primeira vez na vida, obrigaram a esconder-se num lugar incómodo e descçn-fortável para evitar a cadeia, quando quási tinha níi sua presença os cadáveres de três filhos que em^quinze dias viu desaparecer.

E todavia, tendo suportado tudo isto, havendo ou próprio estado preso e tendo-me refugiado durante muitos meses, acossado como se fora um bandido, só pelo crime da minha fé republicana, eu entendo que não vai a hora para perseguições -desnecessárias, para represálias, quê se- ,

riam contraproducentes, porquanto, seguindo nós semelhante orientação, não sairíamos dum círculo vicio.so—hoje nós, ontem e amanhã os outros, depois nós outra vez, e assim sucessivamente! (Apoiados],

Não pode ser!

E preciso a justiça serena, a justiça aplicada pelos meios normais, a justiça inflexível da lei. Essa sim!

Igualarino-nos aos outros, de modo nenhum ! 0 e»

,;Mas os Governos da República não têm promovido, não tem procurado, pelos meios legais, que os autores de tangos crimes sejam castigados?

Eu creio que os Governos não têm faltado a esse dever. E com relação ao hediondo crime da «leva da morte», que é a página mais sinistra do sinistro período a quo S. Ex.a só referiu, sabe-se que fot ordenado um inquérito, e esse inquérito leva.do a efeito por autênticos e inde-fcctíveis republicanos. Se ainda não estão julgados os criminosos essa lamentável circunstância é devida à natural morosidade imposta por uma averiguação sempre difícil.

Tais crimes, porém, não podem ficar impunes, nem certamente o ficarão por culpa do Governo.

Referindo-me há pouco ao discurso do ilustre Senador Sr. Paiva Gomes, eu já disse que o Governo afirmou na outra Câmara que cumpriria o seu dever mandando inquirir do caso do Terreiro do Paço e dos incidentes que com ele pos-sarn ligar-se. Não podia eu proferir no Senado palavras diferentes das que pronunciei na outra casa do Parlamento. E por isto se vê já que não estou inteiramente de acordo com o Sr. Bernardino Machado, relativamente à classificação que S. Ex.a deu aos factos ocorridos, chamando-lhes uma manifestação sagrada. Nem as minhas responsabilidades neste lugar, nem o meu critério de homem público me podem levar a aplaudir, ou a consagrar essa manifestação.