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Sessão de 2 de Março de 1921 3

de Outubro, mas sim dos erros da República e dalguns dos seus homens de Estado.

Os erros cometidos por êsses homens levaram Machado dos Santos, que era conhecido lá fora, como o fundador da República, a trilhar muitas vezes um caminho bem diferente do que aquele que deveria seguir.

Era um republicano dos mais puros, dos mais honrados e dos que mais trabalharam.

O fundador da República que deu o exemplo da sua valentia e de uma grande coragem, na acção de segunda para terça-feira, do dia 3 de Outubro de 1910, devia ter sido apreciado como o merecia, o como faziam jus as suas grandes qualidades de democrata, e de português.

Todavia, V. Exa., Sr. Presidente e a Câmara sabem que Machado Santos foi um dos homens mais perseguidos, um dos mais vilipendiados e um dos mais atacados na sua obra republicana.

A Justiça ainda não se fez, nem se pode fazer, porque os homens que hoje pontificam na República Portuguesa não o conheceram bem para lha poderem fazer.

Isolaram-no completamente, puseram-no à margem, e êle sempre republicano e patriota, ainda apareceu na história da República, talvez como inimigo dos Govêrnos republicanos, por ocasião da revolução de 5 de Dezembro.

Mas os seus amigos mais íntimos, aqueles que sempre o acompanharam, sabem perfeitamente que êle se prestou a chefiar êsse movimento para evitar que fôsse cair nas mãos dos monárquicos.

Não obstante, os chauvinistas da República não lhe levaram a bem êsse acto, e tanto assim que o cognominaram de "zaragateiro-mór".

Não mereceu êle êsse título, porque era um espírito extremamente conservador dentro da República, o tam conservador que dez anos após implantada a República, foi o primeiro a assinar uma mensagem dirigida ao Sr. Presidente da República, pedindo a amnistia e o indulto para os monárquicos.

É preciso porém fazer notar à Câmara que se é a êle que devem, em primeiro lugar caber essas honras, que se antecipou ao ex-Senador e velho republicano dr. Jacinto Nanes, não foi para ser agradável aos monárquicos que Machado Santos assim procedeu, mas sim para mais uma vez salvar a honra da República, que nos tribunais militares não tinha sido aplicada como devia, pois não fazia sentido que tivessem sido condenadas em grandes penas creaturas sem grandes responsabilidades, ao passo que outras que tiveram grande parte nesse movimento monárquico, levando uma porção do exército para Monsanto, fôssem absolvidas, talvez por falta de provas, ou por meio de cartas de recomendação.

Machado Santos, amigo da Justiça, repugnava-lhe que sôbre a República caísse o labéu de falta de imparcialidade e de grosseira Justiça.

Já vê a Câmara que êsse gesto que o engrandeceu, e que o há-de engrandecer muito mais ainda, quando se fizer a verdadeira história da República, lhe oferece os louros dêsse acto magnânimo.

Eu não podia esquecer Machado Santos, porque fui seu companheiro, por acaso na Rotunda.

Com êle passei as amargas horas de quarta para quinta-feira de Outubro de 1910, até ser proclamada a República.

Depois disso, e embora filiado no Partido Republicano Português, acompanhei-o sempre porque sabia que estava ao lado do um republicano e de um homem de bem.

Os erros por êle cometidos foram bem poucos, comparados com os de outros, e que, aliás, tem sido esquecidos.

A Machado Santos, que podia e devia ser alguém neste País e nesta República, nem sequer lhe era permitido que dêsse a sua opinião, o seu voto, nas consultas que os Srs. Presidentes da República eram obrigados a fazer aos nossos políticos. Diziam que êle não era leader nem representante de nenhum partido da República, esquecendo-se assim de que êle era leader do um punhado de republicanos que se juntaram na Rotunda, e que foi o leader dêsse grande Parlamento por fôrça do qual puderam ser eleitas as anteriores e actuais Câmaras da República.

Mas, Sr. Presidente, V. Exa. sabe que Machado Santos tinha um defeito - não ser oficial combatente, ou não ter uma carta de bacharel, o que é preciso possuir, primeiro que tudo, nesta República!