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16 DE ABRIL DE 1958 799

núcleos distintos: o do vale do Vouga, o do vale do Dão, o do Caramulo e terras de Besteiros, o dos planaltos centrais e o da cidade capital.
O primeiro núcleo, abrangendo os concelhos de S. Pedro do Sul, Vonzela e Oliveira de Frades, é o mais importante, porque deve englobar hoje mais de 100 000 cabeças de gado de toda a ordem, exceptuadas as aves; o do vale do Dão, com os concelhos de Mangualde, Nelas e Carregal do Sal, é o menor em número, porque não possui mais de 50 000 cabeças, embora o não seja nas possibilidades de futuro desenvolvimento; o núcleo de Besteiros, em que, por contiguidade e afinidade geográfica, incluímos os concelhos de Tondela, Santa Comba Dão e Mortágua, tem mais do 80 000 cabeças de gado, além de uma avicultura em promissor desenvolvimento; o do planalto central do distrito, formado pelos concelhos de Penalva do Castelo, Sátão e Vila Nova de Paiva, tem mais de 65 000 cabeias de gado; enquanto que o concelho de Viseu, em torno do qual todos os outros se agrupam, tem hoje, por si só, mais de 60.000 cabeças de gado.
A simples análise deste esquema faz ressaltar a justeza da decisão governamental de localizar na cidade de Viseu os novos organismos de fomento pecuário.
A todas as demais razões ponderosas acresce esta, verdadeiramente decisiva: a da posição geográfica.
Na verdade, os organismos agora criados são o complemento natural e lógico dos já existentes (Intendência de Pecuária e serviço de inseminação), de tal sorte que só a sua concentração no mesmo local permite aquele convívio e colaboração estreita entre todos eles que são necessários ao cabal desempenho da, missão de cada um.
Por outro lado, os recursos sociais, que são indispensáveis à acção de toda e qualquer actividade social, encontram-se mais na capital da província do que em qualquer outro ponto dela, acrescendo ainda a circunstancia de as condições materiais especificadamente necessárias ao funcionamento prático dos serviços de que estamos tratando (propriedades que permitam a sustentação dos animais necessários e a condigna instalação dos serviços) se verificarem amplamente na periferia da cidade e ato dentro dos seus limites.
Finalmente, a cidade de Viseu, que constitui desde todo o sempre o nó das comunicações daquela parte central do País - dispondo de amplos meios de comunicação -, constitui o centro e ponto de passagem obrigatório para a ligação entre os diferentes concelhos da região, que já atrás agrupei de acordo com as realidades materiais; e esta posição central ainda mais se destaca se lhe juntarmos a parte norte do distrito, que é tão beira como o sul e sem a qual a Beira Alta não apresentaria aos nossos olhos aquela forma inteiriça de coração, que já despertou a atenção de poetas e de pensadores.
Por isso a cidade de Viseu, à qual por todos os títulos pertencem os organismos recentemente criados, agradece efusivamente ao Governo a criação de tais organismos, já hoje indispensáveis ao seu pujante desenvolvimento pecuário, e fica aguardando ansiosamente - quase diria, impacientemente- a instalação dos referidos serviços.
E digo impacientemente porque não é impunemente que trinta anos de governo de Salazar habituaram a Nação a ver realizado imediatamente o que lhe é prometido.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Manuel Fernandes: - Sr. Presidente: foi hoje a enterrar o professor catedrático jubilado Doutor Henrique de Vilhena, sábio anatomista de grande renome no País e no estrangeiro, figura eminente de mestre, que dedicou toda a sua vida ao estudo profundo e minucioso da ciência anatómica e que tanto ajudou a elevar o prestígio da antiga Escola Médica e da actual Faculdade de Medicina de Lisboa.
Várias gerações, foram iniciadas por ele, no estudo da medicina, pois a cadeira de Anatomia, tradicionalmente das mais difíceis, era a primeira que se deparava aos estudantes.
A figura austera, mas ao mesmo tempo bondosa, do Prof. Henrique de Vilhena, inspirava aos seus discípulos o maior respeito, disciplinando o seu trabalho e os métodos de estudo, que os levariam a vencer as dificuldades de um curso assaz difícil.
Várias gerações puderam apreciar as suas invulgares qualidades e decerto é das mais gratas a recordação que dele perdura no espírito de todos os que puderam receber os seus ensinamentos e os seus ponderados e paternais conselhos.
Henrique de Vilhena era um pensador e linha um subtil espírito de artista e de crítico. Cultivava as letras com elevação, tal como sucedera ao seu antecessor na cátedra, o Prof. José António Serrano.
Publicou vários discursos, romances e novelas, onde se patenteavam invulgares méritos literários.
Professor na Escola de Belas-Artes, na cadeira de Anatomia Artística, aí defendeu uma tese brilhante sobre a «Expressão que para os alunos daquela Escola passou a constituir um livro fundamental.
Acendeu à cátedra, na antiga Escola Médica, sem concurso e por méritos próprios, tais eram os trabalhos notáveis que sobre anatomia já então havia publicado. Fundou o Instituto de Anatomia, centro de estudos para todos os que quisessem aprofundar a especialidade. Mais tarde, com o professor Rodriguez Cadarso, fundava a Sociedade de Anatomia Luso-Hispano-Americana e, com o professor Celestino da Costa, a Sociedade Anatómica Portuguesa. Foi ainda reitor da Universidade de Coimbra e senador da República.
O contacto frequente com o cadáver podia fazer supor que possuía um coração frio e impenetrável às dores alheias. Mas tal não acontecia. Henrique de Vilhena possuía, na realidade, uma sensibilidade delicadíssima, como demonstra um pequeno episódio que me ocorre referir.
Há anos, em plena vilegiatura pelo Norte do País, soube pelos jornais que se encontrava gravemente enfermo, numa clínica de Abrantes, o grande escritor Hipólito Raposo. Mal o conhecia pessoalmente, mas a admiração que os seus escritos lhe mereciam levou-o imediatamente a interromper as suas férias, vindo propositadamente àquela cidade para se inteirar directamente do estado de saúde de um escritor que considerava como um dos mais notáveis estilistas portugueses.
E dizia comovidamente Henrique, de Vilhena que a morte de tão notável romancista representava para as letras pátrias uma perda nacional.
Era assim a delicada sensibilidade do eminente professor e sábio anatomista português, cuja morte eu, como seu antigo discípulo e grande admirador das suas excelsas qualidades e virtudes, não podia deixar de sentidamente lamentar perante esta Assembleia.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.