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1 DE FEVEREIRO DE 1964 3087

Nem se nos objecte repugnar u classificação que o artigo 85.º do estatuto liceal vigente fixa ao professorado em que a geografia constitui grupo diferente do da história.

Em primeiro lugar, por ser inadmissível que, em tal nível de classe, professores de qualquer destas duas disciplinas não estejam preparados para reger a outra. E, em segundo lugar, porque será coisa que se aceite que os professores não sejam preparados para corresponder às necessidades dos alunos, isto é, do ensino? Terão antes de ser os alunos que hajam de subordinar-se a excessiva especialização professoral?

Seja como for, pensamos que à história portuguesa em conjunção com a geografia, como dissemos, seriam de atribuir quatro horas de aula. O português ficaria com quatro horas. A outra hora, parece-nos, poderia tirar-se ao desenho.

As considerações do programa oficial em justificação do desenvolvimento desta última disciplina por três horas de aula neste ciclo não nos convencem. Para que de tal gasto de tempo se tire proveito, reconhece-se ser necessário o comando aliciante de professor excepcional. Ora, como isso se não pode considerar regra, o tempo se perderá em parte; e, se acontece aparecer um professor desses, nas duas aulas semanais sempre conseguirá obter dos alunos algo que se veja.

E, assim, se não excederiam as vinte aulas semanais ora previstas no 1.º ciclo.

Atentemos agora no 2.º ciclo, este o único actualmente típico da índole secundária do ensino, dado que o 1.º pretendeu-se degradá-lo a simples promoção da instrução primária, quando deve aí vir a ser o contrário, e o 3.º se processou por disciplinas, como introdutório ao ensino superior. E aqui, neste 2.º ciclo, depara-se-nos, não obstante a massa do seu esmagador programa, o vazio do latim.

Sr. Presidente: não posso prolongar quanto queria a minha intervenção em tal matéria. Mas devo confessar que a supressão, no curso geral, do latim, natural integrador do ensino estruturado do português, produziu-me ao tempo a mais inesperada surpresa. E de forma, alguma me convenceram os argumentos do relatório em que a tal iniciativa se defende, aliás quer-nos parecer com fraca convicção. Isto não obstante termos conhecimento dos limitados resultados que desse estudo em três anos colhiam os estudantes, que, evidentemente, não ficavam em condições de traduzir os grandes clássicos.

Foi para mim, todavia, como se houvesse desabado um monumento histórico nacional: os Jerónimos, as ruínas do- Carmo - ctiam periere ruinae -, ruínas essas bem cheias de história, tanto como sagrado monumento ainda altivo - Nun'Álvares -, quanto até mesmo, como ruínas - o Terramoto!.

Recordo, a propósito, que tal supressão havia sido sustentada, com radicalismo ainda para além do da lei actual, por espíritos alinhados num positivismo superficial - que não o de Comte -; e até nominalmente nos ocorre designar José Dias Ferreira - não será decerto isto preponderante degrau da sua glória -quando, em 1883, da discussão parlamentar sobre a reforma do ensino. O que facilmente se colhe do vol. 11.º das Farpas, de Ramalho, edição da Clássica, logo nas primeiras páginas.

Uma diferença profunda se pressente, contudo, entre a atitude daquele jurista e a do legislador actual. Naquele era o postulado da inutilidade desse estudo para o utilitarismo dó mundo moderno a determinante da supressão; no último, sente-se que as razões dela resultam antes de uma espécie de insatisfação de em tão curto tempo se não poder atingir no seu estudo suficiente perfeição para se manejar razoavelmente a língua:

Sr. Presidente: seja como for, esse ensino tem de ser restaurado e, mesmo insuficiente, reclamam-no:

1.º A defesa do nosso idioma, sobretudo no futuro próximo, em que os povos originários do nosso ultramar .vão ter connosco um cada vez maior intercâmbio de toda a natureza e que cumpre aprendam em cada vez maior numera a nossa língua que, portuguesmente, tem de ser a deles.

O Sr. Gonçalves Rodrigues: - Mas como é que V. Ex.ª, pode ignorar as exigências prementes do desenvolvimento industrial e da preparação de tecnologistas, obrigando toda a gente ao ensino do latim?

O Orador: - Ao aparte de V. Ex.ª, respondo com uma nota de memória. Quando, por 1923, no Parlamento Francês, no tempo em que Léon Bérard era ministro da Instrução Pública, foi largamente discutido com grande relevo o problema da preferência ou não das humanidades sobre a exclusiva preparação científica para os cursos superiores de ciências. Então se verifica por relatórios oficiais que, de uma maneira geral, nos alunos médios frequentando os cursos superiores de matemática e ciências sucedia que os que tinham preponderante preparação humanística ficavam atrás dos outros nos primeiros tempos mas passado esse período impunham-se e avantajavam-se aos que não possuíam tal preparação. Com a invocação deste facto respondo, suponho, a observação de V. Ex.ª.

O Sr. Gonçalves Rodrigues: - Não pense ¥. Ex.ª, que estou a atacar o ensino do latim no ensino secundário. Podia dar a minha contribuição pessoal com uma série de argumentos que reforçariam a posição de V. Ex.ª. Mas ponho o problema concreto de uma solução política viável.

O Orador: - Cumpre-nos velar pelo interesse nacional.

O Sr. Gonçalves Rodrigues:-Eu preferiria talvez que o Governo considerasse a criação de liceus humanísticos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Perfeitamente de acordo, o mesmo se podendo dizer dos liceus técnicos. Estou apenas a seriar factos, não estou a pôr sugestões, que pertencem mais ao Governo, que, certamente, tirará deste debate proveitosas lições.

2.º Não é possível atingir-se suficiente e confiante conhecimento da língua materna sem algum conhecimento desenvolvido, embora elementar, do latim. O teimar, gastando horas e horas, em aprender o português simplifica-se organicamente muito com o conhecimento, mesmo não muito aprofundado, do latim.

Nesse trabalho, noções sistematizadas de latim são como poldras colocadas para ultrapassar pegajoso lameiro.

3.º Não é necessário, por isso, que o estudo do latim sã leve no curso geral ao ponto de se poder cortar Cícero ou Horácio. De resto o purismo literário destes- autores culminantes largamente os distanciava já entre os seus contemporâneos do latim conversado, não dizemos mesmo do latim popular. Assim, com o essencial das declinações e conjugações, regras elementares de sintaxe, se pode entrar a traduzir textos fáceis, Fedro, Eutrópio, e, por que não? os próprios Evangelhos, segundo a Vulgata. Seria a forma de levar o latim aos olhos dos alunos tido como quebra-cabeças; na sua compreensão progressiva, entrariam eles com