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3316 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 132

Coutinho, Cincinato da Costa, D. Luís de Castro, Barros Gomes, Anselmo de Andrade, Rodrigues Morais, esses homens de alta craveira, sem os meios o colaborações que agora existem, deram o maior impulso á ciência agronómica e esclareceram as gerações de lavradores.
Foram acompanhados, no campo, nos trabalhos e nas produções, por criadores de riqueza agrícola, como José Maria dos Santos, Meneres, visconde de Coruche, Torres, marido da Ferreirinha, e uma legião de empresários agrícolas que aproveitaram a terra, desbravaram-na, melhoraram-na, e fizeram de maninhos, charnecas e bravios: vinhas, olivais, montados, folhas de cereais, florestas, valorizando o solo ingrato, lavrando a terra, desventrando-a pura a fecundar e fornecer alimento ao povo português.
Enquanto a Itália possuía os seus Serpieri e Mingioli e procurava valorizar ao máximo o solo ingrato e limitado, a nossa geração de 30 procurou ampliar ainda a cultura do solo, melhorar os processos, afinar as técnicas e buscar, através de tudo, um equilíbrio mais perfeito e, pelos melhoramentos rurais, pelas estradas, construções e participações, levantar o nível local, fornecer poder de compra, facultar as conquistas da técnica e da civilização e lutar contra o enfraquecimento económico.
No meio de continuadores daquela geração de agrónomos esclarecidos e correctores, irromperam, porém, com ímpeto nem sempre ostensivo, as preocupações da reforma estrutural da propriedade e de revolução agrária.
Intelectuais de polpa, criticistas que misturavam Descartes com Rodbertus, empenharam-se, pelo inquérito e pela estatística, pelo documento cruel e acidulado, em fazer o estendal da triste vida, nas aldeias pobres.
Carências de alimentação, desconforto e estreiteza de alojamento, analfabetismo e danos morais dos nossos campos não foram atribuídos aos governos passados, mas aos governos presentes; não foram atribuídos a uma lavoura que procurava quase sempre a última palavra, mas a uma rotina que é apenas a constância natural das coisas do campo e não Imagem de atraso e de decadência.
Hoje sabe-se o que valem esses reparos acidulados.
O atraso, além dos factores naturais insuperáveis, a que me referirei noutros passos da minha intervenção, devem-se a falta de industrialização, a electrificação morosa, à falta de mecanização agrícola e sensata e ainda ti má localização das indústrias.
Nos últimos tempos, o departamento da Agricultura, pelos seus burocratas e técnicos, tem-se empenhado num esforço intelectual de grande latitude. À sua produção em estudos, inquéritos, simpósios, forma avalancha. E, através das cooperativas locais, um belíssimo esforço se está tentando no sentido de orientar devidamente a produção local, criar instalações aperfeiçoadas, aproveitar da comercialização o mais possível. O seu a seu dono!
Parece que a actual geração se devia ter empenhado num esforço de regular distribuição das indústrias novas ou da transformação industrial em vez da sua polarização nas abas dos centros urbanos.
Cito o exemplo do Governo Inglês, por ser digno de reflexão.
O Governo Inglês criou um Ministério da Indústria e do Planeamento Regional e dispõe de um plano destinado a valorizar as regiões subdesenvolvidas e as regiões feridas de crise.
Escritores, econometras, técnicos, políticos afeitos a revolucionários intuitos apontam os males essenciais da agricultura portuguesa e com desenvoltura propõem reformas do maior significado e alcance.
Querem no campo, além de outros fermentos, um fermento maior.
É péssima a distribuição do rendimento nacional e na grande lavoura concentram-se lucros e excedentes indesejáveis - dizem.
A estrutura fundiária opõe gravíssimo obstáculo ao progresso agrícola - afirmam.
Sofremos de uma crise que começou com o pousio largo ou artificioso do derivado de 1930 a 1940 - opinam.
A gens rústica apega-se a técnicas ancestrais, impróprias destes tempos - proclamam.
Com a imensidade das explorações agrícolas, com a imensidade das suas formas, com a imensidade de tendências, não seria difícil encontrar paradigmas e exemplos capazes de abonar aquelas teses.
Todavia, é preciso aqui também dizer alguma coisa.
A distribuição do rendimento nacional não é precisamente justa porque no empresário e tio trabalhador rural fica, como veremos, o menos que pode ficar, pelas exigências usuais da política de alimentação das grandes massas.
Uma política demagógica como o «peronismo» teve o condão de empobrecer todos os homens do campo o fornecer, por baixo preço, o pão e a carne às grandes cidades. Resultou que a Argentina lutou com faltas, onde anteriormente os excedentes asseguravam larguíssimas exportações.
O arrendamento em escala, o emparcelamento, a colonização interna, a irrigação, já são capítulos de reformismo agrário que deverão bastar enquanto não forem inteiramente postos em vigor.
A política de autarquia económica é que está agora contrariada pela integração ultramarina e pelos esquemas de associação europeia.
Falar de técnicas ancestrais isso é difícil para mim de ouvir, uma vez que a vinha no Douro se cultiva com os primores da Universidade de Mompilher.
Não vejo que a oliveira em Tortosa, em Nice e em Bari se cultive com superior esmero ao que praticamos em várias das nossas regiões.
A partir da introdução dos trigos italianos e das adubações criteriosas, não sei que melhorias poderiam encontrar-se de um momento para o outro.
Cada vez que uma grande quinta sofre o influxo revisor de um agrónomo audacioso, sabemos o que sucede - as oliveiras são reduzidas as condições de carrascos; a vinha solta-se e dá menos uvas; as searas cumprem monos, e, no fim de coutos, os prejuízos acentuam-se e as receitas faltam.
Exemplos: - a galinha Leghora, as cruzas de Yorkshire, os garranos arabizados, os pastios rapados, etc., mostram quanto senso, cuidado, diligência o estudo são necessários untes de sujeitar a terra às macrudecisões.
Creio que a lavoura tem consciência dos seus deveres, dos suas dificuldades, mus também tem consciência das suas razões.
Muitos dos que a atacam ou menosprezam ignoram o constrangimento e a medida e do cultivo da terra terão as noções do príncipe Jacinto ao chegar a Tormes, quando não distinguia os olmos dos castanheiros.
Organizada corporativamente já tarde, muito embora correctamente dirigida, dividida pelos caracteres regionais e pelas distâncias do Terreiro do Paço, apesar de todo o acolhimento à simpatia, não tem jornal seu, revista sua, embora tenha todos os jornais, e muitos não tenha, como a Vie à la Campagne, o Field, no mesmo a espanhola de ganaderia; não tom um centro de estudos fiscais; não tem um observatório da marcha de preços. Não vigia a evolução das coisas mercantis, financeiras e bancárias.