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21 DE FEVEREIRO DE 1964 3319

Na mecanização, apressada umas vozes, acordada às sugestões dos stands, imprópria s menos criteriosa outras vezes, foram cometidos erros sem couta.
Demasiado individualismo o explica - em vez de parques, de centros de maquinaria, de compras gremiais ou de cooperativas, cada herdade, cada quinta, cada casal, cada lavrador, quis lutar por um equipamento avançado e completo.
E a mecanização ficou caríssima.
Um tractor parece custar pouco, mas com os seus pertences, grades e raspadores fica em muitas dezenas de contos.
A principal dificuldade da mecanização é a falta de adestramento e cautelas do pessoal empregado.
De 30 tractores comprados, num concelho dos meus sítios, só 3 ou 4 funcionavam, pela mão dos seus donos, que os manobravam e tratavam capazmente.
O que vem aí mais me preocupa.
A pequena motorização, de que os nossos amigos ingleses são mestres, requer, para o seu trabalho nas vinhas, hortas, ferragiais, cuidados e delicadezas, atenções e apuros que não sei como vai ser. E as suas pannes também levantam problemas.
A planificação privada como escolha de tipos de exploração, de sistema de rotações de consociação pecuária, de arranjo de instalações, de linha geral de benfeitorias, de programa de trabalhos desejáveis, de financiamento e administração financeira, têm razão de ser e permite que, nos aspectos sociais e tradicionais, se firme e desenvolva o negócio.
A assistência técnica e a assistência contabilista deviam vir até ao lavrador, prepará-lo e ajudá-lo, orientá-lo melhor.
Tenho a impressão, de que a assistência técnica dos Estados Unidos, da França e da Espanha se desenvolvem em moldes práticos superiores aos nossos. Mas não me atrevo a dizer que os seus técnicos suo de categoria mais eminente que os nossos.
Mesmo quando socialmente útil e benéfica no ponto de vista social, a empresa deve administrar-se com critérios de lucratividade.
A perder ninguém é rico!
Financiar sem contabilizar, sem deslindar sobras, recorrer a queima de meios e de capitais, obter financiamentos irrecuperáveis, tirar doutros lados para pagar falhas e amortizar erros ou fantasias, só podem fazê-lo o Estado, os organismos, as escolas e postos. O lavrador, no sistema em que vivemos, não pode renunciar a lucros ou trabalhar «para inglês ver», tem de ser compensado pelo seu trabalho de direcção, de organização, de perseverança, de riscos, de boa vontade e de esforço ingente que não encontra tréguas.
A empresa agrícola modernizada deve possuir o segredo do êxito - o que se consubstancia na palavra eficiência. Eficiência na produção; eficiência na selecção das culturas; eficiência na utilização da pecuária; eficiência nos trabalhos; eficiência na capacidade e equipamento; eficiência tanto nas vendas como na amplitude, dos negócios agrícolas. Existem para estas averiguações e tácticas indicadores, percentagens, contabilidade e medidas esquematizadas que conduzem a economias e taxas ampliadas de resultados.
Na arquitectura das dependências agrícolas, na formação de granjas e herdades, na organização do assento da lavoura, podemos destacar dois períodos:

1.º No tempo do príncipe regente que viria a ser D. João VI, foram apresentados esquemas e projectos à Mesa de Agricultura, em 1800, aos quais se deveram modificações e aperfeiçoamentos relevantes - nas granjas, celeiros, tulhas, moinhos, estrebarias, telheiros para gados, casas de sustento, oficinas, pátios, cabanas, etc.;
2.º E aí pelo ano de 30 a arquitectura rural passou a ser ditada pela especialização, pelo avanço técnico e pelos materiais como o cimento.

Agora centenas de livros de arquitectura, de revistas, miríades de artigos, à parte o esforço dos Italianos, dedicam-se às casas de fim de semana, às vivendas imponentes ou minúsculas e, a bem dizer, nada existe para ajudar o empresário agrícola.
Parece que a vida vai sendo ditada pelo capricho e não tem de obedecer às necessidades.
Mesmo dispondo de terreno apropriado, de cantaria e madeiras, de camiões e carros de boi para o seu transporte, uma casinha decorosa, nas nossas aldeias e quintas, não custa menos, hoje, de 28 contos. Meia dúzia delas custam perto de 170 contos.
Há grandes propriedades que têm o problema resolvido Palmo, a Cardiga, a Abegoaria, o Barrocal de Reguengos, Vila Ruiva, com a sua aldeiazinha, D. Pedro. Mas para as médias e pequenas explorações o problema põe-se em moldes proibitivos.
Esperemos que o Ministério das Obras Públicas, que é imagem da Providência, e a Junta de Colonização Interna, que tem realizado uma obra, ajudem a realizar o que se impõe.
Está agora muito em voga nos programas oficiais o capítulo da conversão das culturas arvenses em florestas.
Creio que isto se propõe com base em critérios estritos de rentabilidade.
O que o lavrador fez foi adaptar-se às circunstâncias mesmo contrárias, lutar contra a pobreza do solo arável e a hostilidade do clima, trabalhar em diferentes direcções, ensaiar mesmo culturas pouco rentáveis.
Vale a pena cultivar o centeio em terras de fragada e o trigo em terreno? arenosos?
Vale a pena plantar amendoeiras em terrenos sem cal e de rocha que não fende?
No ponto de vista humano, no ponto de vista das quintas, vale a pena lutar, criar trabalho, segurar a terra dar emprego.
No ponto de vista de uma planificação nacional, terá de abandonar-se o que não resulte perfeitamente.
É moda agora dizer-se mal da política de valorização do solo e até de um gentleman que teve assento nesta Casar um político construtivo que foi Linhares de Lima.
Não posso olhar na direcção do meu lugar sem uma névoa de saudade.
Vamos então para a reconversão.
Ela não será poeticamente simples nem teatralmente mágica.
Suponho que a reconversão não será simplesmente o florestamento do Sul, concebido assim numa base muito estreita.
A reconversão deverá abranger: as pastagens, os matos altos e as novas culturas de sequeiro.
Não temos, pois, de julgar severamente o que se fez nem entregar-nos a critérios puros de lucratividade, onde a terra ingrata não amamenta os seus filhos. Temos de vau os problemas à luz das estagnações, dos dificuldades de emprego, das benfeitorias ostensivas, não de despesas a reconverter, sim mas criteriosamente.
Outra coisa é a especialização, a qual representa uma mais perfeita divisão e competência do trabalho comum, melhor técnica e alto nível de adequação e eficiência.