21 DE MARÇO DE 1964 3773
infra-estruturas económicas, em especial no aproveitamento de bacias hidrográficas ou na realização de grandes obras de rega".
Verifica-se, pelo que ficou transcrito, que é, portanto, da maior relevância o planeamento do vale do Tejo, considerados os distritos citados. Nem nos falta tão-pouco a experiência alheia: em Espanha, plano de Badajoz; em França, plano de Bas-Rhône, no Languedoc; a experiência italiana no Sul e no vale do Pó e a do vale do Tenessee nos Estados Unidos.
Sr. Presidente: o vale do Tejo constitui indiscutivelmente, dentro da panorâmica da economia nacional, uma região dinâmica portentosa.
De montante a jusante podem-se distinguir três zonas, que, em continuidade, não formam profundos contrastes agro-florestais nem são desiguais quanto a potencialidades, embora diferentes.
Há a considerar a zona oriental, constituída por parte do distrito de Castelo Branco e por parte do distrito de Portalegre, com os seus recursos energéticos de grandeza indiscutível, quer os existentes, quer os projectados, o povoamento florestal das espécies mais vulgares (pinheiro, sobreiro, oliveira e eucalipto, este até no cume dos montes xistosos) e o repovoamento silvícola de grandes áreas por espécies apropriadas; a zona central, que tem por limites a barragem de Belver até à Golegã, abrangendo também os concelhos de Sardoal, Abrantes, Constância, Barquinha, Tomar, Torres Novas, Alcanena e Rio Maior, zona intermédia, quer quanto a culturas arbustivas e arbóreas, quer quanto a extensas manchas de pinhal, eucaliptal, sobreiral e, principalmente, olival, quer quanto a pomares de frutos variados e de excepcional qualidade, quer quanto ainda a lezírias consideráveis, com os seus campos de arroz, quer finalmente quanto a culturas de tomate, pimentão e produtos hortícolas; e a zona ocidental, com as suas magníficas e exuberantes campinas ribatejanas, que podem, como nenhumas outras, permitir culturas intensivas e enormes pomares.
Estas regiões, assim esquematizadas, teriam naturalmente o seu pólo de desenvolvimento em Abrantes. De facto, a situação geográfica de Abrantes, Alferrarede e Rossio constitui um nó de rara importância em vias de comunicação rodoviárias, ferroviárias e amanhã fluviais, que ligam o Centro do País com as Beiras, Alentejo, Ribatejo e o Norte.
Além disso, Abrantes é uma área económica sem grandes desequilíbrios sectoriais. Tenham-se em atenção as empresas metalomecânicas e de montagem de camiões - esta última inaugurada há pouco com a inestimável presença do venerando Chefe do Estado, que generosamente se deslocou ao Tramagal, consagrando publicamente a obra de um homem, Eduardo Duarte Ferreira, e a sua ilustre família -; as que transformam os produtos da terra - resinas, massas alimentícias, madeiras e mobiliário, refinação de azeite, adubos e cortiça. Zona propícia ainda ao crescimento de culturas de árvores frutíferas de alta qualidade e já com extensos pomares. Região com algumas possibilidades de turismo, equipada com bom hotel, cómodas vias de acesso e motivos de atracção, constituídos pelas barragens que a cercam e locais de interesse cultural e artístico.
Abrantes reúne, por todas estas razões, aptidões naturais para um rápido desenvolvimento. Por sua vez, está bastante próxima de outras zonas do maior interesse económico, como Torres Novas e Tomar, onde não faltam ramos de indústria tais como fiação, metalurgia, fábricas de papel e de aglomerados de madeira e outras e que são centros demográficos com relevância.
O ensino, tanto técnico como liceal, está em pleno florescimento.
Quase todas estas actividades poderão ser encaminhadas para a exportação. Se a actividade agrícola passar de economia de subsistência para a economia do mercado, como se impõe, quando parte da nossa actividade económica se dirigir à exportação, um dos imperativos de sobrevivência, encontrará no desenvolvimento regional do vale do Tejo condições magníficas a esta finalidade. Para além do condicionalismo já existente, outro se poderá criar com maior amplitude, ou partindo do que está feito ou fazendo de novo.
Neste sentido, é digna de nota a tentativa da constituição de uma cooperativa agrícola em Abrantes.
Têm sido os seus principais promotores os técnicos da brigada agrícola, que são dignos de louvor pela pertinácia da sua acção. Nos lavradores da região e no Grémio da Lavoura têm encontrado também compreensão e solidariedade. Conheço em algum pormenor os seus propósitos. Pretendem, com efeito, a conservação dos frutos em frio e a sua industrialização em sumos e compotas, a desidratação de produtos hortícolas, a calda de tomate, o aproveitamento do pimentão, lagares de azeite e de vinho, aumento do armentio e comercialização de todos os produtos abrangidos pela cooperativa, desde o leite e seus derivados até à cortiça. Iniciativa de largo alcance, pretende ainda garantir a assistência técnica à altura das suas responsabilidades e abranger totalmente a área reputada económica, para a sua dimensão.
Outro aspecto da maior importância para o desenvolvimento regional é a possibilidade de rega do Alto Alentejo por barragens que, simultaneamente, produzam energia e consintam a utilização da água sobrante em esquemas de irrigação.
O distinto relator das contas preconiza esta utilização simultânea das águas no seu proficiente parecer deste ano.
Não se esquece, por outro lado, e como via de futuro desenvolvimento, a abertura do percurso n.º 3 de Vilar Formoso, Penamacor, Abrantes, Lisboa, encurtando a distância que separa Vilar Formoso da capital em cerca de 100 km.
A abertura da importante via valoriza extraordinàriamente aqueles concelhos interiores e permite a exploração da floresta, nomeadamente nos concelhos de Sardoal. Abrantes, Mação, Vila de Rei. Pedrógão, Oleiros, Vila Velha de Ródão, etc., podendo dar origem a uma unidade fabril de pasta de papel.
A este propósito formula o Sr. Eng.0 Araújo Correia, no parecer de 1961, ponderosas considerações que a seguir transcrevo:
A aceleração da eficácia de actividades que conduzirão a crescimento harmónico e mais acelerado [...] recomenda a modernização da rede nacional de estradas já existente, o estudo urgente de um plano rodoviário que atenda os interesses regionais e nacionais nos seus diversos aspectos e a construção de malha fundamental [...] que obedeça às imposições da técnica moderna. Isto pelo que diz respeito aos novos esquemas de localização e modernização das indústrias e às exigências de uma agricultura e silvicultura que não podem subsistir na sua forma actual e requerem para sua melhor estrutura e rendimento o auxílio de um bom sistema de comunicações.
Seja-me permitido um pequeno parêntesis nesta matéria. Entre as freguesias de Mouriscas, concelho de Abrantes, e Cabeça das Mós, concelho de Sardoal, existe