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4 DE DEZEMBRO DE 1975 2881

não siga os caminhos que estão previstos nos seus esquemas e recuse, assim, a felicidade infalível que eles lhe oferecem.
A dificuldade para os comunistas estaria apenas em conseguir fazer chegar as suas científicas verdades junto das massas trabalhadoras, o que se obteria com a eliminação das barreiras que a isso se opõem. Barreiras várias, mas que se resumem, nos tempos modernos, numa que é a informação, constituída, fundamentalmente, pela televisão, rádio, imprensa, cinema e teatro.
São, efectivamente, estes os meios com os quais é possível influenciar de forma profunda a opinião, os hábitos e os desejos de qualquer povo.
Se, nos regimes capitalistas, vazios de mensagem moral e estética, a posse desses meios pêlos detentores do poder económico-financeiro consegue, por um processo de intoxicação psicológica, condicionar em muito a vida social, é evidente que os marxistas-leninistas, convencidos de serem possuidores de uma razão e de uma moral superiores a todas e de um modelo de vida incomparavelmente melhor para as classes trabalhadoras, não poderiam admitir dúvidas de que, conseguida a posse desses meios de informação, em pouco tempo teriam do seu lado a opinião e a vontade de amplas camadas do povo português.
Alcançado esse objectivo pêlos comunistas portugueses, o outro grande obstáculo que, numa visão leninista-estalinista, se poderia levantar à revolução por eles chamada proletária era a resistência oferecida pelas forças armadas tradicionais. Mas também, a partir de certo momento, e com uma rapidez e uma facilidade que não teria estado nem mesmo na imaginação do PCP, esse obstáculo do processo revolucionário foi por si em grande parte dominado, através do subtil controle da direcção e comando dessas forças.

É, pois, fácil compreender o triunfalismo de que se embriagou o PCP.
Tinham afinal conseguido ter nas mãos as condições essenciais para avançar a sua revolução, de acordo com a sua doutrina.
Contudo, é claro hoje para toda a agente, incluindo os próprios comunistas, que o PCP falhou nos seus objectivos de conquista do apoio do povo português.
Não só falhou como criou um clima de repulsa por parte da esmagadora maioria dele.
Não vou fazer agora análises detalhadas das razões de um tal falhanço e de uma tal repulsa.
Acabaria, aliás, sempre por chegar à conclusão de que na base do falhanço estão os erros inerentes à própria doutrina na marxista-leninista-estalinista que perfilham, e na base da repulsa as tácticas que não souberam ou não quiseram, por um lado, evitar que às fileiras do Partido tivesse aderido legião considerável de oportunistas sem qualquer ideologia e escrúpulos, por outro, demarcar-se com clareza suficiente dos grupúsculos esquerdistas e, por outro ainda, abandonar em tempo oportuno as atitudes triunfalistas e arrogantes.
Estou convencido que são agora cada dia mais os comunistas portugueses que já não alimentam esperanças de ver recuperada a hegemonia do seu partido na Revolução Portuguesa, pois é evidente que se aperceberam já, por um lado, do descrédito e da hostilidade em que caíram perante a esmagadora maioria das massas populares do nosso país, não obstante terem disposto por longo tempo (ou talvez por isso mesmo) dos grandes meios de informação, por outro, porque acabam de perder os firmes apoios de que ainda dispunham dentro das forças armadas.
Acresce ainda dizer que não posso conceber ignorarem eles a situação geo-política e o contexto mundial em que Portugal está inserido.
Interrogo-me, por isso, com a angústia do cidadão que em toda a sua vida nunca deixou de se preocupar com a sorte e o destino do povo a que pertence, quanto ao que se passa no pensamento e nas intenções dos dirigentes do PCP.
Que os pode levar a persistir na continuação de uma política e numa actuação que é para quase toda a gente certo só poder arrastar-nos para uma situação de perigosa deterioração social?
Não escondo que estas preocupações vêm-me do reconhecimento de que o PCP, mesmo pequeno, mesmo cada vez mais insignificante na sua base de apoio social, mesmo com a derrota que as forças democráticas acabam de lhe inflingir, é uma organização que, pelas características e recursos e ajudas que recebe de vária ordem e de vários lados, tem tido e terá por muito tempo ainda forte influência, boa ou trágica, no destino desta nossa pátria.
Será que os dirigentes do PCP, marcados por uma longa formação estalinista, de que não foram ou não quiseram jamais libertar-se, e traumatizados por longos anos de cadeias, de clandestinidades e exílios, continuarão obstinados em auto atribuírem-se o direito de tomar nas suas únicas mãos esta Revolução, desprezando ostensivamente a opinião e o querer de um povo quase inteiro que não os deseja seguir e até da maioria da própria classe operária, de quem se querem arvorar em vanguarda iluminada e dirigente?
Será que os dirigentes do PCP, embora sabendo que estão a fazer a autodestruição do seu partido e a comprometer a independência do seu país, têm acima de tudo em vista servir uma causa internacionalista, planeada superiormente pêlos seus correligionários da União Soviética?
Estarão assim desinteressados do destino concreto do povo português concreto, desejando acima de tudo continuar a alcançar alguns ganhos mais para o império do leste, que teimam em considerar a sua matriz?
Ou será que os dirigentes do PCP, olhando para o que tem sucedido a partidos da sua índole nos países onde se instauraram regimes da verdadeira liberdade democrática, estão decididos a impedir por todos os meios que aqui se alcance também uma democracia política?
Que prefiram, a não poderem desta vez tomar total e definitivamente conta do poder, voltar a que se reinstaure o fascismo, na convicção de que assim teriam possibilidades de poderem mais tarde triunfar e impor finalmente a sua própria ditadura? Mesmo sabendo que a voltar-se ao fascismo só os comunistas privilegiados que pudessem exilar-se ficariam livres de represálias e violências, mas não o ficariam as massas dos seus militantes que cá teriam de permanecer?
Será que tal estratégia está ao serviço de uma política internacional que obriga os dirigentes do PCP a triunfar agora ou então a fazerem com que se ins-