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5 DE DEZEMBRO DE 1975 2923

O Orador: - Mas Portugal não começa em Rio Maior, como ridiculamente pretendiam os promotores fascistas lá concentrados, porque os trabalhadores portugueses não deixam que os dividam entre Norte e Sul, porque a sua luta e os seus interesses são comuns.
A sublevação contra-revolucionária de Rio Maior inscreve-se de alto a baixo na crise criada pela actuação das forças de direita no Governo e nas forças armadas, pela repressão contra a esquerda militar, pelos saneamentos à esquerda, pela nomeação de reaccionários para postos de comando. Sempre que a direita avança, avança o fascismo na sua peugada. Não para a deixar caminhar em sossego, mas para a ultrapassar e esmagar na primeira oportunidade. Por isso os fascistas promoveram uma reunião em Rio Maior, no dia 24, para cortar as vias de acesso a Lisboa e para ameaçar perigosamente as liberdades duramente conquistadas pelas massas trabalhadoras e pelo povo português.

Uma voz: - É falso.

O Orador: - Em S. Luís, no concelho de Odemira, também no dia 24 (estranha coincidência ...), um grupo de mais de uma centena de meliantes armados atacou uma herdade ocupada por trabalhadores.

Uma voz: - Mentira.

O Orador: - (Descansem os mais inquietos, que não se tratava de uma «ocupação selvagem», porque ia ser legalizada no dia seguinte pelos organismos competentes.) Transportados em camiões, furgonetas e um jeep e exibindo armas de guerra, montaram um cerco à herdade. Homens armados ocuparam os pontos altos do terreno, enquanto outros, equipados com megafones e pequenos aparelhos de transmissão, comunicavam entre si. Na Herdade do Roncão encontravam-se apenas sete trabalhadores, que foram ameaçados de morte, selvaticamente espancados e insultados.

Vozes de protesto.

Depois de dominados pela violência fascista foram fechados num palheiro. Alguns dos assaltantes, para se divertirem, tentaram arrancar a roupa aos heróicos defensores da herdade para os verem correr, nus, pelas terras do Roncão.

Vozes de protesto.

Uma voz: - Melhores que a PM ...

O Orador: - Mas, quando compreenderam que os trabalhadores estavam dispostos a defender a sua dignidade com o sacrifício das próprias vidas, os agressores meteram-nos nos camiões e tomaram o caminho de S. Luís. Aí, já amedrontados pela certeza de que trabalhadores de Beja vinham a caminho para libertarem os seus camaradas, restabelecer a administração operária do Roncão e castigar os provocadores fascistas comandados pelo famigerado Vital Furtado, começaram a debandar. A resposta do Alentejo revolucionário, a resposta solidária daqueles que estão construindo a Reforma Agrária, apavorou a tal ponto o bando de provocadores que muitos não conseguiram fugir. Apesar de armados, vários entregaram-se sem resistência e confessaram, tremendo, que haviam sido contratados ou aliciados para o ataque criminoso. Entre eles havia algumas curiosas filiações partidárias. E logo que estas foram conhecidas, logo alguém se prontificou a dizer que o Vital Furtado era um médio rendeiro e até nem era má pessoa.
Ficou demonstrado que o ataque ao Roncão foi minuciosamente preparado e executado por quadros com preparação militar e não uma simples revolta de um médio agricultor ilegalmente atingido pela Reforma Agrária, como já alguém pretendia. É que nem o Vital Furtado é um médio rendeiro, como ainda a Herdade do Roncão se insere nos limites pontuais fixados pela Lei da Reforma Agrária. É que o Vital Furtado era rendeiro por desporto e para lhe servir de capa às suas rendosas «actividades». Conhecido contrabandista de alta nomeada, está rodeado de um bando bem armado de marginais e criminosos da pior espécie. Muitos dos fascistas que ilegalmente saíram do País tiveram a preciosa ajuda do gangster Furtado, que, segundo testemunhos recolhidos em Sagres e Vila do Bispo, estaria também implicado no tráfico de armas destinadas a organizações terroristas, como o ELP e o MDLP.

O Sr. Santos Silva (PPD): - Apanharam aqueles que estavam aqui à porta outro dia?

Uma voz: - Fora o ELP!
Vozes de protesto.

Gera-se diálogo entre as bancadas da esquerda e da direita impossível de registar.

O Sr. Presidente: - Não travam diálogo, pois o Regimento não o permite. Faz favor de continuar, Sr. Deputado.

O Orador - É este conhecido fascista, protegido ainda por algumas forças deste país, que aparece em 24 de Novembro a dirigir pessoalmente uma séria provocação contra a Reforma Agrária, que não pode ser entendida isoladamente, mas que muito tem a ver com toda a série orquestrada de ataques e provocações ocorridos por todo o País, com vista a intimidar os trabalhadores, a fazer recuar a Revolução e a criar um clima de instabilidade política e social.
São acções deste tipo que nos demonstram que o perigo de uma ditadura fascista aparece claramente no horizonte se não se unirem rapidamente todos os que querem fazer-lhe frente. Por isso se devem tomar de imediato medidas severas contra actividades contra-revolucionárias, designadamente do ELP e do MDLP. Por isso devem cessar imediatamente as prisões, a repressão, os saneamentos à esquerda e as perseguições a todos quantos se têm entregado à causa da Revolução.
Os ataques ao PCP serão igualmente aplaudidos pela fera fascista, que nos espreita, como igualmente serão aproveitados os silêncios que se fizerem de actos como os que aqui acabamos de denunciar.