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5 DE DEZEMBRO DE 1975 2933

na sua vistosa farda. E com a agravante de se acumularem nele - diga-se de passagem - duas condições profissionalmente contraditórias consistentes nas suas qualidades de médico e simultaneamente de militar. E isso me recorda o que suponho fosse um gracejo de um velho amigo dele, que me assegurava tê-lo visto a tratar com estrema solicitude um dos inimigos que, no decurso da escaramuça alvejara com relativo êxito.
Ainda agora no decurso da insurreição - que um sector das forças armadas (que já nos habituámos a designar de «o são») mais consciente e mais digno, foi forçado a dominar, tendo-o feito, aliás, com requintes de generosidade - se acumularam motivos para que todos nós democratas convictos nos sintamos no dever indeclinável de lhes manifestarmos o nosso alto respeito e o nosso mais profundo reconhecimento.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Impõe-se, porém, não esquecer, para bem de todos, que foi o mesmo Exército que nos libertou no 25 de Abril o que nos despojou de todos os direitos e nos submeteu à mais longa e feroz das ditaduras no 28 de Maio.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- Isso nos leva a concluir que o Exército se avilta quando se insurge contra um Governo legítimo, porque representativo do povo, e se exalta e glorifica quando intervém a assegurar o predomínio da vontade soberana da Nação.

Vozes: - Muito bem!

Aplausos.

O Orador: - Eis por que não é com o Exército do 28 de Maio que estou, mas com o do 25 de Novembro.
Simplesmente, para que os 28 de Maio não voltem a ser possíveis e para que os 25 de Novembro constituam um salutar aviso a dissuadir permanentemente, dos seus nefandos intentos, os factores da desordem, os manipuladores de minorias sectárias, os propugnadores de «vanguardas revolucionárias», importa que as forças militares se alheiem da política e se recolham à missão específica que lhes cabe de infatigáveis defensores da integridade territorial do País e de mantenedores resolutos da paz social.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - É por isso que lhes dirijo daqui um apelo, que desejaria vibrante, no sentido de que se debrucem humildemente sobre si próprios e reconheçam sem constrangimento o erro enorme que cometeram ao decidirem conduzir o «processo da Revolução» como se comandassem um destacamento entregue a exercícios ou manobras de «fogos reais».

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O povo que nas eleições para esta ?assembleia havia de revelar o alto grau da sua consciência política, resistindo tenazmente às «campanhas de dinamização» da famigerada 5.ª Divisão e aos incitamentos ao «voto em branco», merecia trem que respeitassem a vontade manifestada e lhe confiassem a direcção dos seus próprios destinos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Com o pacto MFA-partidos - imposto a estes pela «linha gonçalvista» daquele propunha-se institucionalizar a intervenção política aos militares, atribuindo-lhes, por mais alguns anos, actividades políticas para que não estão preparados, que os diminuem aos seus próprios olhos e que os arriscou à incompreensão e ao repúdio do povo, naturalmente fiel aos que escolheu e designou, numa formidável e inesquecível jornada cívica, para o orientarem e representarem nos mais altos escalões do Poder Público.
Ninguém ignora em que estranhas condições se celebrou esse acordo, que constituiu, para todos os afeitos, uma autêntica chantagem política - a reclamar, há muito, total e completa anulação.

Vozes: - Muito bem!

O Odor: - Mas a iniciativa da sua proposta ;partiu do Conselho da Revolução e é a ele que cabe fazer o público reconhecimento do que se acha ultrapassado, inválido e rescindido por repetidas infracções exclusivamente dos seus proponentes.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Entretanto é evidente que não se ,pede do Conselho da Revolução que se desinteresse do movimento em boa hora desencadeado e de que é natural quê muito se orgulhe; e nem se lhe sugere mesmo que determine um regresso pleno à legalidade democrática personificada por esta Assembleia democraticamente eleita e pelo actual Governo com ela identificado; - apela-se apenas para que, ponderadas as razões fortes que o fundamentam - o Conselho da Revolução - com a mesma decisão e dignidade com que sufocou a insurreição do 25 de Novembro, reconheça as imprevidências, as precipitações, os abusos cometidos pelos que o orientavam então - violando sem escrúpulos a letra e o espírito do seu límpido «programa» inicial - e se disponha, se não a renunciar totalmente aos privilégios e posições que se atribuiu, a reservar-se uma simples função fiscalizadora, exercida em termos discretos e correctos, segundo fórmulas e termos a negociar.
Só assim o MFA terá levado até às últimas consequências a sua missão revolucionária e ganhará, sem limitações nem reservas, a gratidão do povo português, a gratidão de todos nós, portugueses.
Disse.

Vozes: - Muito bem!

Aplausos.