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12 DE DEZEMBRO DE 1975 3047

partidarismo doentio ou medo irresponsável perante grupos partidários que estão mais interessados no desprestígio da emprega do que na sua revitalização.
Com efeito, no período de estado de sítio, com admiração de alguns e a indignação de bastantes, o delegado do Governo na Lisnave consentiu, se é que não promoveu, no interior do estaleiro uma assembleia de comissões da zona sul com a participação de soldados e fuzileiros.
E sabe-se já que lhe foi chamada a atenção por trabalhadores da empresa para essa sua actuação à margem das determinações emanadas da Chefia do Estado-Maior das Forças Armadas.
Mas não se limitou a consentir; ele próprio participou nessa assembleia em 27 de Novembro com alguns outros trabalhadores que nem sequer pertenciam à comissão de trabalhadores da empresa. Este tipo de actuação está completamente fora dás competências de qualquer delegado do Governo.
A Lisnave, dependente em mais de 90 % de clientes estrangeiros e sendo a maior indústria que promove importação de divisas bem merece um delegado do Governo ou um administrador com o aval do Estado que, em vez de promover a divisão entre os trabalhadores, e eu repito, em vez de promover a divisão entre os trabalhadores, consiga antes a adesão de todos para que mais facilmente se alcance os grandes objectivos da revolução portuguesa.

Vozes: - Muito bem!

Requeiro, Sr. Presidente, que através dos órgãos competentes me seja dado conhecimento do que tenciona c Governo fazer perante as manobras do delegado do Governo na Lisnave, por ocasião do estado de sítio, e de quais as razões que o terão levado a consentir e a participar na assembleia já referida, bem como das razões por que permitiu a saída de gruas e outro material circulante para cortar o acesso ao Forte de Almada em 26 de Novembro e das razões que terão levado militares a fazer plenários fantoches na manhã de 26 e no fim do dia 27 de Novembro.

(O orador fez a sega intervenção na tribuna.)

Aplausos.

O Sr. Presidente: - O Sr. Deputado Amaro da Costa, tem a palavra.

O Sr. Amaro da Costa (CDS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: O secretário-geral do Partido Popular Democrático referiu-se, ontem, em conferência de imprensa, às relações entre o meu partido e o Partido Socialista, argumentando, em favor da sua tese, com o meu comportamento nesta Assembleia.
Não desejo entrar em polémica nem com o Dr. Sá Carneiro, nem com o PPD, nem julgo ser este o local mais próprio para tratar de assuntos desta natureza.
Dado, porém, o clima de expectativa criado na cena política portuguesa pelo recente Congresso do Partido Popular Democrático em Aveiro, e as consequências que desse Congresso podem advir para os trabalhos da Assembleia, permito-me fazer alguns comentários a este propósito.
Em primeiro lugar, gostaria de esclarecer aquilo que julgo serem incorrecções de informação do secretário-geral do PPD.
Interrogado por um jornalista sobre as provas de que o PPD disporia acerca de um alegado «namorou entre o PS e o CDS, o Dr. Sá Carneiro respondeu que ele era patente à luz do comportamento de dirigentes do CDS quando do recente discurso do Deputado socialista António Reis. E referiu, de modo muito específico, que eu próprio mostrara um grande entusiasmo por essa intervenção, aplaudindo de pé passagens, aliás, pouco significativas, no seu dizer, do discurso do Dr. António Reis.
Como argumento - se fosse verdadeiro - considerá-lo-ia de pouco pesa, enquanto alegada prova de: uma pretendida aliança táctica entre o PS e o CDS contra o PPD.
Mas a verdade é que apenas aplaudi de pé o Deputado António Reis no final da sua intervenção. E a verdade é que eu e o meu grupo parlamentar nos abstivemos claramente de qualquer manifestação de regozijo ou de aplauso quando o mesmo Deputado fez observações críticas acerca do Dr. Sá Carneiro.
Importa, todavia, sublinhar o porquê do nosso assentimento ao fundo da intervenção do Deputado socialista, uma vez que lhe demos, isso sim, um profundo significado político.
António Reis produziu há dois dias nesta Assembleia um notável e patriótico discurso. É bem conhecido que os pressupostos doutrinais de António Reis ou do PS são radicalmente distintos dos meus ou do CDS. As nossas filosofias políticas são, em muitos aspectos, que não em todos, opostas quanto aos seus fundamentos e ângulos de análise. Para nós a leitura personalista da vida social é, efectivamente, diferente da leitura socialista. Em múltiplos pontos haverá, decerto, convergência de soluções e as diferenças da análise esbatem-se para orlar uma plataforma em que a acção pode ser comum. O personalismo impõe que se veja a pessoa dentro do grupo ou da colectividade e que a sociedade se organize ,para a serviço da pessoa, nas suas dimensões individual e comunitária. O socialismo impõe que se veja, antes de tudo, o grupo ou a colectividade e que a sociedade se organize para o seu serviço, sendo no grupo, na colectividade ou no Estado que a pessoa se assume, não de forma individual e comunitária, mas na solidariedade socialista.
O que opõe personalismo e socialismo insisto não é, porém, radical. Se o individualismo se opõe radicalmente ao socialismo, o mesmo não acontece com o personalismo. Entre uma e outra filosofia há relações de complementaridade e zonas de encontro. E isso é tanto mais assim quanto mais a visão do socialismo tiver em conta a experiência histórica das tentativas socialistas e quanto mais o socialismo se empenhar na defesa do ideal da democracia política civil e das liberdades públicas. É principalmente neste plano - o da democracia política - que personalistas e socialistas democráticos se encontram num projecto comum que em muito transcende aquilo que os divide.
Ora, regressando ao ponto de partida, António Reis produziu na. Assembleia um vigoroso discurso eminentemente democrático e realista. E todos os que estejamos conscientes dos perigos, de todos os