O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

13 DE DEZEMBRO DE 1975 3073

Tem a palavra o Sr. Deputado Mota Pinto.

O Sr. Mota Pinto (Indep.): - Ora bem, as perguntas são numerosas e muito me sensibiliza o facto de serem feitas num tom algo diferente daquele que acompanhou a minha intervenção, e algo contrastante, apesar dos protestos e das fórmulas de compreensão pelo carácter legítimo da discordância de ideias que agora rodearam as perguntas, um tom algo diferente do vozear e do tom emocional e, em larga medida, impeditivo da expressão do meu pensamento, enquanto eu estava a usar da palavra.
A primeira pergunta, que foi uma pergunta inserida numa série de considerações, do Sr. Deputado Simões de Aguiar, para além de alguns apelos à serenidade, de que eu creio ter dado, aliás, o exemplo, creio que esse apelo deve ser dirigido noutra direcção, que não na minha, visto que durante a minha intervenção foi do meu lado que houve, segundo creio, a maior serenidade.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A pergunta que avultou dessas considerações foi se eu me sentia enredado em determinadas manobras. Ora bem, pondo de parte o que pode haver de pessoalmente desagradável e um pouco, enfim, não direi ofensivo, não vou tão longe, mas desprimoroso, na ideia de que uma pessoa, e esta pergunta é-me feita a mim, mas certamente outros aqui sentados nestas cadeiras poderão pensar que também é dirigida a eles, desprimoroso pensar que as pessoas são assim, com facilidade, instrumentalizadas, tornadas uns instrumentos úteis não sei de que sinistros desígnios. Essa tentativa de assim explicar as coisas é uma forma de fugir às razões substanciais que determinam as atitudes. É uma forma de fugir às causas reais. É fechar os olhos e encontrar a explicação fácil de um complot alimentado não sei por quem, talvez por alguma sinistra capital ou por qualquer central localizada a leste ou a oeste. Pois, Sr. Deputado Simões de Aguiar, meu amigo, tenho a dizer-lhe que não me sinto enredado em nenhumas manobras. A decisão que tomei é uma decisão tomada em consequência, com o intuito de desfazer ambiguidades e corresponder a um grito, a um imperativo muito forte, tomado após muita reflexão, sempre segundo a minha análise, sempre segundo o meu sentimento: desfazer uma ambiguidade de cuja manutenção eu, em dado momento, entendi que podia ser cúmplice. Eu, em dado momento, entendi que, nestes dias subsequentes ao Congresso de Aveiro, qualquer coisa que eu tinha ajudado a criar e a desenvolver com muito entusiasmo, com muito esforço, com muito sacrifício, podia, e oferecia todas as probabilidades, à face de uma série de indícios e de manifestações concretas, vir a transformar-se em algo de muito diferente. E pura e simplesmente quis realmente dizer claramente que não estava de acordo com alguma coisa a que eu tinha aderido com um espírito muito diferente. Portanto, trata-se de uma atitude tomada em consciência. Só é desviar completamente o problema aventar sequer a hipótese de enredamentos em quaisquer manobras.
Depois, o Sr. Deputado Mário Pinto pôs-me várias perguntas. Perguntou-me primeiro qual era a caução social-democrata que eu dava a este partido. A pergunta é pessoal e eu entendo que não devo fazer aqui qualquer autopromoção acerca da minha imagem ou do meu passado político. Deixarei isso ao juízo de terceiros, deixo isso, em geral, ao juízo do público. Nem sequer pergunto ao Sr. Deputado Mário Pinto qual é a caução social-democrata ou democrata que ele dá ao Partido Popular Democrático, pois outros também o julgarão.

O Sr. Mário Pinto (PPD): - Aceito o confronto.

O Orador:- Em segundo lugar, foi-me feita uma pergunta de que apontei apenas esta parte: se eu achava que os outros eram de tal forma que aceitariam um autoritarismo.

Pois bem, eu não coloco as questões em termos maniqueístas: dos que se salvaram absolutamente e dos que se perderam absolutamente. Eu entendo a minha análise da situação política dentro do Partido Popular Democrático que efectivamente a evolução da sua organização interna reforça de uma maneira para mim intolerável o autoritarismo e a ditadura do secretariado, mas entendo que outros possam não ter a mesma sensibilidade e, como nesta medida não sou dogmático, e sou, portanto, em cada momento relativista, não tiro daí nem conclusões de salvação absoluta, para mim e para os que estão comigo, isto é, para os que fazem a mesma opção que eu, e juízos de condenação absoluta para os que reagiram diferentemente. Mais uma vez afirmo publicamente: não renuncio à minha análise e às minhas conclusões.
A terceira pergunta foi se eu considerava que o partido, tal como tinha ficado, era incompetente para realizar a social-democracia. Não se trata de um problema de incompetência, em sentido técnico. Trata-se do problema de saber se o partido é adequado, pela sua organização interna, que deve ser uma prefiguração da sociedade que ele quer realizar, pela pedagogia que pretende exercer sobre as suas bases sociais, se é adequado ou não para realizar esses objectivos. E naturalmente eu entendi que não era adequado a partir das transformações que se verificaram em Aveiro. É sempre a minha análise.
A quarta pergunta - não sei se o Sr. Deputado Mário Pinto tomou nota dela - eu tenho aqui ... Ah! Foi a ideia de que nós nos dirigíamos aos eleitores, mas que talvez não tivéssemos a mesma ideia sobre a nossa posição e que talvez devêssemos renunciar quando conhecêssemos as manifestações de desagrado que os eleitores dirigiam a esta nossa atitude. Se esta expressão não significa um pré-anúncio de uma manifestação de desagrado, ...

Risos.

... eu entendo que é uma previsão do Sr. Deputado Mário Pinto, que não se trata, portanto, de nenhuma manifestação organizada ou preparada de desagrado, ...

Risos.

... orquestrada em relação aos Deputados dissidentes ...

O Sr. Mário Pinto (PPD): - É uma hipótese.