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20 DE DEZEMBRO DE 1975 3223

neste país, dizia, verificou-se o fim de uma época que durava há séculos. E, como em todas as inadaptações patológicas, transferimos desde o primeiro dia todas as conivências, as frustrações, as impotências e incapacidades para uma radicalização de posições que, tragicamente, não levaram nem levam a coisa alguma senão à iminente fronteira do retorno ao passado.
Ao MFA deve-se a revolução da madrugada de Abril. Porém, é às massas trabalhadoras, único e grande motor das revoluções, que se' deve o avanço das conquistas que concedem a possibilidade da construção do socialismo pela via pacífica e democrática.
Isto vem contrariar não só as teorias do fascismo provinciano e ronhen2.º do Sr. Salazar e os arremedos tecnocratas do Dr. Marcelo Caetano, mas também a demagogia de todos os que, com análises simplistas, resolveram criar o mito dia divisão deste país em dois. Isso é crime. Partir-se dos órgãos pseudo-dinamizadores da ex-5.ª Divisão - mais propriamente violadores de civilizações e formas de viver que se ligam às estruturas comunais ancestrais nortenhas -, partir-se de partidos políticos cuja implantação no Norte do País é diminuta, é simplesmente explorar um conjunto de condições que apenas beneficiaria a reacção. E eles souberam aproveitar-se ... Até inventaram uma nova fronteira ...
Mas, definitivamente, este povo, seja o Norte, com ou sem a matraquinha de alguns, seja a dita cintura industrial de Lisboa-Setúbal, ou o subproletariado rural alentejano, este povo é só um. E é um povo que optou pela via socialista, porque, no seu conhecimento empírico da política, ele sabe que só o poder da sua mão, o contrôle operário, poderá pôr fim a uma sociedade de exploradores e explorados.
Definitivamente, o socialismo, progressismo, não são propriedade de um sector político, de um grupo, ou de uma região. O socialismo é do conjunto das massas trabalhadoras, único e verdadeiro motor da revolução socialista portuguesa.
E só poderá .aceitar a tão fácil análise da divisão quem pretender retirar às massas operárias a direcção do avanço do processo, através das suas conquistas diárias, nos seus sectores de trabalho, na luta contra os inimigos comuns: o capitalismo e o imperialismo.
Ao ritmo soluçante, não sincopado, de golpes que ora se verificam nos salões palacianos, à boa maneira renascentista, ora se faziam notar na exibição grandiosa dia verborreia pseudo-revolucionária, passando pelas tentativas frustradas de Setembro, Março e Novembro - umas de cariz neo-direitista, a outra de feição verdadeiramente aventureirista de extrema esquerda -, os avanços e conquistas das massas trabalhadoras foram sendo efectuados.
Consolidadas algumas destas conquistas, carecem outras ainda de estabilidade, que, a não se verificar já, poderá afectar seriamente a existência da própria revolução socialista, já que umas e outras se conjugam.
Mas as transformações sociais como a que vivemos, rumo ao socialismo, não podem fazer-se sem uma base de sustentação económica passível de sustentar os ataques que lhe são feitos. Assim, não há revolução sem economia, nem economia sem planeamento. De outra forma, será uma contabilidade permanentemente débil, que só aproveitará a golpes de grupos totalitários. É evidente, portanto, que só com uma economia independente poderá avançar mais rapidamente o processo.
E como exemplo surge-nos, de trás da serra do Caramulo, no distrito de Viseu, em Campo de Besteiros, a prova de que o desejo de não ficar sujeito a pseudovanguardas revolucionárias os motores de fabrico alheio é inquebrantável.
No meu distrito, onde se encontram ainda laivos de comunidades ancestrais, onde a independência, a liberdade e a coerência nascem, vivem e morrem lado a lado de cada homem, no meu distrito, dito dos mais reaccionários do País, mas permanentemente roubado e explorado desde há séculos, encontra-se um exemplo de luta de trabalhadores pela sua total e absoluta emancipação. Na empresa de exploração avícola Avicriz, trinta trabalhadores demonstraram e demonstram que os senhorios, o caciquismo, são batidos pela unidade de esforços dos operários.
Negaram-se estes homens a deixar afundar uma empresa quando um seu co-proprietário e capitalista os abandonou, fugindo para o Brasil e deixando-a em situação de tecnicamente falida. Atrás de si deixava letras, hipotecas, fraudes fiscais, débitos.
Assim, há sete meses atrás, altura da fuga, acumulava cerca de 14 500 contos de débitos. A saída de divisas no bolso do senhor co-proprietário pensa-se ter orçado os 6000 contos. Isto chama-se boicote económico.
Os operários organizam-se. Passa-se á autogestão!
Apoiados pelo Ministério do Trabalho e Sindicato dos Bancários, conseguem o capital necessário para o arranque da agora sua empresa. Como fim último, a criação de uma cooperativa, nesta região avícola, cujo registo já foi pedido. E, de tecnicamente falida como estava, passa imediatamente a uma situação de recuperação: sete meses após o início do processo autogestionário, conseguem recuperar 3500 contos, verificando-se ainda o reajustamento de salários ao nível de compatibilidade com ais funções específicas de cada operário.
A solidez do avanço, o processo de gestão, o futuro cooperativo, criaram um aumento de produtividade e um renome a nível de mercados de ciclo que lhes permitia antever, a breve prazo, a estabilização total da empresa.
Porém, os golpismos de grupos políticos minoritários, que levaram ao 25 de Novembro, permitiram pensar que as viragens à direita na política portuguesa se efectuavam como desejariam os saudosistas. Por outro lado, os ataques ao Governo e outros órgãos de poder incapacitavam-nos de fazer cumprir leis. Ainda mais, a burocracia e a inconsciência de elementos que, por tácticas políticas, são colocados nos escalões intermédios dos Ministérios, obstaram a que fosse aplicado não só o congelamento das contas bancárias do sócio desertor - pedido feito ao Copcon mas também o Decreto-Lei n.º 660/74, alíneas b), c), d) e e), de 25 de Novembro de 1974, que permite a intervenção do Estado.
Estranhamente, verifica-se o regresso do ex-co-proprietário.
Impunemente, legalmente poderá, se quiser, reocupar a sua posição na empresa.
Estranho! ... Penso ser um dos tais soluços, e, neste caso, fedorento, da revolução portuguesa. Um homem que defrauda e foge certamente que não está com o processo; se regressa, é porque tem apoio ou pensa que se fez qualquer recuo - ou ambos os casos,