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11 DE MARÇO DE 1976

existiu, em elevado grau, no regime derrubado em 25 de Abril de 1974.
Ora, é bom que estas coisas sejam lembradas, pelo menos de vez em quando, numa época como esta, em que parece andarem já tão arredadas do espírito de certas pessoas. E tal não acontece por acaso ...
Não tenhamos dúvidas, alguém está seriamente interessado em que os Portugueses percam a memória em, relação a todos os males do passado, levando-os a reagir somente contra os erros do presente processo democrático.

Uma voz: - Muito bem!

O Orador: - Alguém está interessado em desmobilizar o povo da Revolução para mais facilmente se apossar dele e o manejar a seu bel-prazer.
As forças reaccionárias estão organizadas e, às claras ou utilizando ainda alguns disfarces, vão desenvolvendo a sua actividade e espreitam a melhor oportunidade para agir em pleno.
A sua engenhosa máquina sente-se e ouve-se e vai sugando pouco a pouco os ingénuos, os incautos, os menos firmes nos seus ideais, aqueles que não sabem que a transformação profunda de uma sociedade não pode fazer-se de repente, aqueles que não sabem que essa transformação tem de passar necessariamente por excessos, por avanços e recuos, por reajustes sucessivos de critérios e de posições, por descontroladas paixões, por tensões sociais de maior ou menor intensidade.
Nenhuma revolução - que o seja efectivamente - se faz sem abuses, convulsões, solavancos e atropelos de vária ordem.
É a natural ânsia de se atingirem os objectivos que fizeram despoletar uma revolução que conduz a decisões pouco meditadas, rápidas, em que o factor político sobreleva muitas vezes a ponderação paciente, prudente e demorada de outros factores e de todo um completo condicionalismo.
Também, evidentemente, na nossa revolução tem havido precipitações, leviandades e erros de consequências graves.
Também muita coisa tem corrido mal, sendo censuráveis muitos dos processos e meios usados, quantas vezes apenas por oportunismo ou por demagogia.
Houve até (por que não reconhecê-lo?) verdadeiras «loucuras» por parte de sectores de certa esquerda, que tentaram desvirtuar o espírito e a finalidade da Revolução, procurando monopolizá-la, moldá-la a seu gosto próprio e consoante as suas conveniências.
Houve irrealismo, houve utopia, incorrecta interpretação da vontade popular, dirigismo. Quis-se passar, em corrida vertiginosa, de um extremo ao outro!
Embora reconhecendo tudo isso, penso, porém, que não há o direito de, generalizando o que apenas é parcial, concluir, como já se vai fazendo, pelo fracasso do processo revolucionário, abrindo a porta à desilusão ou à desesperança.
A revolução que estamos a viver não merece só acusações, não merece que só se faça ressaltar a sua parte negativa, como tantos, e até políticos responsáveis, têm feito, numa campanha bem orquestrada.
Entendo que não se deve passar o tempo a carpir mágoas, a dizer mal de tudo e de todos ou adoptando a cómoda posição de passividade.
Essas atitudes, essa renúncia, essa abdicação, será o que, presentemente, mais convém à reacção, que, por todas as formas, tem procurado fomentar e aproveitar os desânimos e a fraqueza de espírito dos menos esclarecidos e atentos.
A reacção, manhosamente, faz o seu jogo, e uma das suas cartas mais valiosa é precisamente a da exploração da descrença na Revolução.
E o que é lamentável é que algumas vezes são os que se dizem mais progressistas que lhe fornecem esse trunfo, com as suas atitudes insensatas, com os seus desatinos, com o seu orgulho e com a sua cegueira partidária.
A direita reaccionária tem-se alimentado e reforçado, principalmente, à custa das faltas, das asneiras, das fantasias e até da ingenuidade de certos grupos de esquerda, que têm teimado numa política irresponsável, desordenada, caótica, de terra queimada.
É uma tolice grave facilitar o jogo a essa reacção!
Há, sim, que contrariá-lo, há que denunciar todos os inconvenientes de uma direita que tenta recuperar os privilégios perdidos e que, ao contrário do que proclama, não possui o remédio para todos os males. Urge reagrupar à volta do processo revolucionário, interessando-os na sua dinâmica, todos aqueles que de início a ele aderiram e estão agora a ficar peso caminho, engrossando, talvez alguns inconscientemente, as hostes dos que querem, afinal, o regresso a formas retrógradas.
Mas como?
Sr. Presidente, Srs. Deputados: É às forças e organizações verdadeiramente dispostas a realizar neste país a democracia integral - política, económica, social e cultural -, é a essas forças, que têm como ideal e propósito sério o socialismo, que compete mostrar, inequivocamente, não só através de palavras, mas da prática, toda a importância e valimento das soluções progressistas que defendem.

Uma voz: - Muito bem!

O Orador: - Superando sectarismos exagerados: corrigindo erros e desvios que afectaram o projecto revolucionário; tendo sempre presente a realidade portuguesa; não deixando destruir mais sem ter com que substituir; revendo posições, com humildade, quando necessário; conjugando esforços quanto ao que pode ajudar a resolver os mais graves e prioritários problemas nacionais - é a essas forças que compete a tarefa patriótica de salvar o nosso povo do apetite e das garras de uma direita reaccionária, que, neste momento e quanto a mim, é o principal inimigo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - É a essas forças que cumpre provar, com a sua praxis e capacidade de realização, que a revolução portuguesa tem de ser não só democrática, mas socialista, porque paina isso ela se fez.

Vozes: - Muito bem!

Aplausos.

O Orador: - As forças progressistas, sem quebra do que é próprio de cada uma, não podem negar a sua colaboração a uma acção urgente e eficaz no