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3856 DIÁRIO DA ASSEMBLEIA CONSTITUINTE N.º 117

sentido de serem resolvidos problemas muito concretos, sobretudo de natureza económica e social, que afligem largas camadas da população.
Isso é essencial.

Uma voz: - Muito bem!

O Orador: - Mas há que fazer mais: há que fazer a revolução espiritual ou ideológica, que dê aos Portugueses um correcto esclarecimento político, uma maior educação cívica, a visão realista e justa das questões que carecem de solução, a vontade férrea de trabalhar e produzir riqueza, a apetência de viver e conviver democraticamente e de caminhar, com convicção, para o socialismo.
Já tarda essa revolução espiritual!
Tem sido, infelizmente, esquecida, e, no entanto, só por ela pode conseguir-se que a maioria do nosso povo compreenda bem todas as conquistas alcançadas depois do 25 de Abril de 1974, fazendo-a dispor-se a, firmemente, zelar e lutar por tais conquistas.
Só através dessa revolução muitos portugueses poderão vir a aceitar muitas coisas que não podem perder-se, como, por exemplo: o desejo e a vivência de democracia a todos os níveis, a participação efectiva das massas populares em todos os sectores da vida nacional, uma reformulação de conceitos, a eliminação de monopólios e latifúndios, a maior consciencialização e organização dos trabalhadores uma nova estruturação das relações de produção e de trabalho, a consagração na Constituição, que estamos a elaborar, de regras e princípios francamente progressistas e que alguém já pretende pôr em causa.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - É através dessa revolução espiritual ou ideológica que se poderá mostrar ao povo português toda a pureza de um socialismo construído e vivido em pluralismo e liberdade, que tem o condão de aliciar, de apaixonar, os que desejam sinceramente uma sociedade em que haja justiça social, fraternidade, igualdade e solidariedade.
Há que apagar a imagem defeituosa, deturpada, de socialismo, a ident.ifiear-5e quantas vezes com mero anarquismo, que, infelizmente, alguns têm exibido.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - As forças e partidos políticos verdadeiramente interessados no processo democrático têm de saber estar à altura da sua missão, neste momento e neste país.
Têm, quanto antes, de ocupar-se seriamente da parte que lhes compete nessa revolução espiritual, a qual deve ser devidamente planificada e realizada com método, bom senso, honestidade, boa fé e, sobretudo, sem violentar quem quer que seja. Há que orlar, pacientemente, a mentalidade socialista em cada um dos Portugueses.
Há que transformar não só as estruturas e as instituições, mas também o espírito e o pensamento dos homens que nelas hão-de servir, que nelas hão-de trabalhar.

Uma voz: - Muito bem!

O Orador: - Julgo que dessa acção pedagógico-política dependerá muito o êxito da luta que é preciso travar piara impedir não só o avanço e a instalação de uma direita reaccionária, mas também para evitar a acção nefasta de uma esquerda inconsciente, aventureirista e golpista, de que já tivemos dolorosa experiência.
Acredito, Sr. Presidente e Srs. Deputados, que o povo, bem esclarecido, optará sempre pelo ideal do socialismo democrático, para a concretização do qual, quanto a mim, se deve caminhar progressiva e pacificamente, através de reformas profundas e estruturais, respeitando a realidade portuguesa e a vontade popular, utilizando os esquemas e a metodologia da social-democracia evoluída.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O povo, esclarecido, rejeitará os falsos profetas da democracia, os hipócritas e fariseus da política portuguesa, que pregam o que não sentem nem querem realizar. Rejeitará todos os projectos ou propostas que possam conduzir a qualquer regime totalitária que destrua a liberdade conquistada.
Tenho ainda muita esperança que as forças progressistas saberão agir com inteligência e realismo, levando o povo a amar a Revolução, a entregar-se-lhe com entusiasmo, a crer nela, a trabalhar dedicadamente na sua continuação, como melhor forma de conquistar a felicidade que ele merece.
Tenho dito.

Aplausos.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Pedidos de esclarecimento? Sr. Deputado Romero de Magalhães, tenha a bondade.
Mais algum Sr. Deputado deseja inscrever-se para pedido de esclarecimento? Mais alguém?
Sr. Deputado Simões de Aguiar, não é verdade? Mais alguém? Tem V. Ex.ª a palavra.

O Sr. Romero de Magalhães (PS): - Ouvi com muito agrado a exposição do Sr. Deputado Melo Biscaia, do qual apenas discordo em determinados problemas conceptuais, mas que, na sua generalidade, me parece uma contribuição altamente positiva neste momento em Portugal.
No entanto, no seu longo exórdio, o Sr. Deputado pôs determinados problemas que eu gostaria de ver clarificados. Nomeadamente, disse o Sr. Deputado que há quem esteja seriamente interessado em esquecer o passado, em desmobilizar o povo, e que esse alguém (mais abaixo disse-o) são políticos responsáveis que querem pôr em causa as conquistas revolucionárias do povo português.
Eu gostaria, se V. Ex.ª assim estivesse disposto, que concretizasse este ponto.

(O orador não reviu.)

O Sr. Presidente: - O Sr. Deputado Simões de Aguiar tenha a bondade.

O Sr. Simões de Aguiar (PPD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Não me choca absolutamente nada