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1394 I SÉRIE - NÚMERO 41

A obra é empolgante, exigentes são as metas e o tempo urge.
O momento é propício, os ventos estão de feição. Lancemo-nos, confiadamente, a essa tarefa, num esforço solidário à realização dessa nova gesta.
Tenho a certeza, a convicção plena, de que o vamos conseguir.
Ao traçar a sua rota estamos assinalando-a, aqui e agora, com um novo padrão de coragem, de determinação e de fé no futuro, que desejamos.
Temos rompido no tempo com alguma dificuldade, vencendo procelas, escolhos e ventos contrários.
Mas temo-lo feito com uma vontade indomável de vencer, de realizar, de cumprir esse destino.
O 25 de Abril nasceu com a força e a audácia de um destino irrenunciável que tem de ser cumprido.
Os militares de Abril, na expressão autêntica da vontade colectiva que tão bem souberam assumir, haverão de ver realizado, concretizado, defendido e animado o sonho que os motivou, o projecto que os justificou, as certezas que movimentaram.
Tem sido difícil a caminhada mas os vencimentos feitos autorizam-nos à confiança. Os méritos conseguidos, dão-nos direito à esperança numa política cada vez mais audaciosa, com rupturas mais espectaculares, com mudanças mais profundas, num realismo mais exacto.
Nessa caminhada auspiciosa, muitas têm sido as lutas, as discussões, os diálogos, as mensagens, as armadilhas, as polémicas na formação e gestação de um pensamento novo, de uma nova consciência, de um novo relacionamento, de uma nova maneira de estar no mundo.
Sair do fosso em que vegetámos por muitos e dilatados anos é tarefa ingente mas aliciante, a realizar em cada momento, em todos os dias, com firmeza, com dedicação, com honestidade, com coragem.
O povo português, os políticos e responsáveis, do nosso tempo, que têm vivido a angústia de cada momento, na formação de tal pensamento, no desenvolvimento da nossa cultura, não esquecerão o homem que teve de suportar a procela das contradições, a euforia incontrolada dos momentos da vitória ou a decepção amarga de muitas vicissitudes, no processo de formação política de Portugal, para ser, ponto de referência da serenidade, da compreensão, da firmeza, numa diligência atenta às emulsões necessárias de uma gestação social, impetuosa porque revolucionária, revolucionária porque urgente e necessária.
O Presidente cessante, Sr. General Ramalho, Eanes, neste período difícil da nossa história, onde a grandeza foi tantas vezes mesclada pelo atropelo e a violência, soube manter, de forma ajustada, o equilíbrio das forças democráticas.
É sempre fácil escolher entre extremos. A opção é demasiado simplista.
Mas manter o equilíbrio das tensões, num trabalho consequente e eficaz, manter-se acima das salutares paixões políticas, para ajustar soluções e obter a justiça de compromissos,, é a suprema e difícil função dos governantes e, muito especialmente, a pesada responsabilidade do Presidente da República.
Dela se desempenhou, por entre louvores e criticas acerbas, por entre aplausos e censuras, com tal serenidade e firmeza, com tal isenção e independência; com tal dignidade que não desejo perder esta oportunidade solene para manifestar a V. Ex.ª, Sr. General Ramalho Eanes, o meu reconhecimento.
O equilíbrio e a moderação manifestados prestigiaram as instituições democráticas, asseguraram a estabilidade política possível, garantiram a liberdade dos Portugueses.
Tive com V. Ex.ª, Sr. General Ramalho Eanes, vários contactos, por exigência da função, e troca de impressões que ultrapassaram, muitas vezes, o frio rigor dos parâmetros ditados pela «solidariedade institucional». Eles habilitaram-me à formulação do juízo de que estava na presença de um homem honesto, que, como diria Bernanos, «se dá ou se recusa, mas que nunca se empresta». Esta a homenagem que devo a V. Ex.ª e que aqui lhe deixo expressa.
Srs. Deputados: se é certo, como dizia um poeta, que «nem sempre se entende este povo sem noite que em cada crepúsculo vê uma madrugada» de esperança, não, é menos verdade, dizemos nós, que são essas madrugadas que fabricam a intrepidez e a audácia de ultrapassar os riscos ou os temores para correr à aventura, num desejo incontido de afirmar a nossa irrequietude, a nossa insubmissão para, em cada dia, irmos mais longe na garantia da nossa soberania, da nossa independência, da nossa identidade.
Estamos em nova madrugada que Garrett, Oliveira Martins, Sacramento Monteiro e tantos outros há muito haviam pensado.
Dela se fez projecto para integrar o ideal da nossa geração, como uma necessidade económica, uma exigência política, um imperativo de ordem histórica, geográfica e cultural.
No fluxo indomável da história retornamos às origens. Estamos na Europa para, pela força dos sentimentos e da inteligência que cimentam as comunidades, darmos e recebermos, num esforço comum e solidário, os contributos que façam dela uma vivência, mais livre, mais democrática, mais justa, mais equilibrada, na paz, na tranquilidade e na segurança do mundo.
Para nós será ainda uma opção histórica que se repercutirá profundamente nas estruturas económicas, sociais e políticas da vida dos Portugueses.
Esta Europa aliciante, «centro da humanidade pensante e actuante», «pátria da discórdia criadora», será espaço sedutor para desenvolver as nossas virtualidades, a nossa imaginação, a nossa criatividade, o nosso trabalho.
Penso que não será uma aposta nem sequer um desafio... É a fatalidade apetecida de um desejo feito projecto que corresponde ao apelo do «espírito europeu».
Na órbita deste nos fizemos portugueses.
Há séculos, andámos pelo Oriente e lá deixámos um padroado que é expressão daquele espírito, daquela cultura; rumámos às Américas e lá deixámos a expressão mais viva e portentosa da nossa lusitanidade que também foi consagração dessa cultura; andámos pela África, e por lá fizemos sementeira promissora do espírito europeu.
Cruzámos o mundo, como nação de corações por ele repartida, para deixarmos as primícias desse espírito europeu, dessa cultura.
Através dela, a Europa, a humanidade tomou consciência de si própria, das suas capacidades, das suas limitações. E prossegue, cada dia, com mais vigor, com mais vontade, em busca da felicidade e da verdade, desfazendo de dia a teia que teceu de noite para, com novos fios e mais fortes, construir a paz na liberdade, na justiça.