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6 DE DEZEMBRO DE 1989 793

terísticas da sociedade portuguesa, com a existência de pobreza e desigualdade, com uma revolta contra a injustiça social.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Enganam-se os que pensam que isto não constitui uma forte motivação da acção do PSD.
Por seu lado, a pressão liberal encontra-se inscrita na opinião pública, na mobilidade social das novas gerações, no dinamismo da sociedade, e tem a ver com o papel modernizador do partido face ao Estado. As características reformistas do PSD emanam desta dupla condição e quando afirmamos a nossa solidariedade e a nossa congratulação com o que se passa nos países do Leste, fazemo-lo com especial sentido de comunidade e partilha, porque com esses povos partilhamos do mesmo movimento pela liberdade, da mesma luta pela reconstrução da economia, do mesmo desejo de progresso material.
É essa a nossa casa comum e é nela que nos sentimos bem.

Aplausos do PSD.

Entretanto, reassumiu a presidência o Sr. Vice-Presidente Marques Júnior.

O Sr. António Barreto (PS): - Peço a palavra, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: - Para que efeito?

O Sr. António Barreto (PS): - Para pedir esclarecimentos, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: - A Mesa informa que tanto o Sr. Deputado António Barreto como o Sr. Deputado Pacheco Pereira já não dispõem de tempo.

O Sr. Silva Marques (PSD): - Já sabemos que o Sr. Deputado António Barreto não pertence a nenhuma Internacional. Não precisa de se explicar!

O Sr. Narana Coissoró (CDS): - Sr. Presidente, o CDS cede um minuto e meio a cada um dos Srs. Deputados.

O Sr. Presidente: - Sendo assim, tem a palavra o Sr. Deputado António Barreto.

O Sr. António Barreto (PS): - Sr. Deputado Pacheco Pereira, há muitas maneiras de contribuir para mudar os comunistas. Os partidos socialistas, os partidos sociais-democratas, os partidos democratas-cristãos, os partidos liberais, nomeadamente o da Alemanha, durante muitos anos privilegiaram o debate permanente e frontal com os piores e mais sectários partidos comunistas da Europa. Em muitos casos e em muitos aspectos pode hoje dizer-se: ainda bem que o fizeram!
Se o exercício autárquico de Lisboa der o resultado que espero, em primeiro lugar uma vitória eleitoral, e em segundo lugar uma mudança dos comunistas, demore o tempo que demorar, desde que não sejam décadas, penso que corremos bem o risco e de que valeu a pena.
O Sr. Deputado está a ver as coisas só por um lado, como, aliás, é habitual no Parlamento, isto é diz: «Se VV. Ex.ªs fazem isto, vão correr um risco.» Vamos correr o risco! O Sr. Deputado não diz: «vamos correr o risco», mas, sim, «VV. Ex.ªs estão a fazer concessões». Não senhor!
A fronteira das concessões, da liberdade e das democracias está traçada.
Por outro lado, o Sr. Deputado usou argumentos que devia, todos eles, usar mutatis mutandis.
Quantas foram as pessoas que fizeram manifestações contra Brejnev, mas não contra Pinochet? Quantas? O Sr. Deputado só vê as de um lado. Graças a Deus estive em todas, Sr. Deputado: nas de Brejnev e nas de Pinochet.
Finalmente, Sr. Deputado, a inspiração fundamental socialista está em causa. Está com certeza! Gostaria que estivesse sempre em causa, sempre! Não está condenada como tentaram, hoje, alguns deputados da sua bancada dizê-lo aqui.
Quer as ditaduras na Europa do Sul, na América Latina, em Santiago do Chile, tantas ditaduras através do mundo, não puseram em causa sistemas de livre empresa, de iniciativa privada, de capitalismo controlado, de capitalismo limitado. Nada disso foi posto em causa e puderam renascer depois das ditaduras. O racismo nos Estado Unidos, em Alabama, em Little Rock, não pôs em causa o fundamental da democracia. O apartheid na África do Sul não põe em causa o fundamental da democracia. E o fundamental da democracia e o fundamental da iniciativa privada não pode ser posto de parte apenas ou só porque há estas monstruosidades do apartheid, do racismo e de dezenas de ditaduras, incluindo na Europa do Sul, em Portugal e na Europa mediterrânica. Dizer agora que alguém chamou um embuste..., há outros nomes. Dizer agora que o que se passa a leste é o falhanço, o fiasco monumental do sistema comunista, é o falhanço do sistema, dos homens e das ideias... Não tenho nada em comum com os que dizem que se estão a corrigir desvios. Os desvios, na Europa do Leste, no mundo comunista foram corrigidos em Praga, em Budapeste e em Berlim com tanques. Aqueles é que eram desvios e foram corrigidos com tanques. O comunismo naqueles 50 anos foi a aplicação dos princípios. Aquilo é que é o falhanço, aquilo é que é o fiasco.
Dizer agora, como o Sr. Deputado tentou aqui insinuar, que isto e o fim da esquerda, que isto é o fim do socialismo e que tudo está em causa ...

O Sr. Silva Marques (PSD): - Não foi o fim da esquerda!

O Sr. Pacheco Pereira (PSD): - Não foi isso o que eu disse!

O Orador: - Sr. Deputado, não é verdade. Se com isso quer dizer que o socialismo, os paradigmas, as ideias, os programas estão em causa, só lhe posso responder: felizmente! Graças a Deus! Espero que estejam sempre em causa. Excepto numa coisa: nas liberdades fundamentais. Excepto nisso. Se é isso o que pretende dizer, não senhor, como, aliás, há dias ouvi o próprio Primeiro-Ministro dizer na rádio - eu ouvi, não li nos jornais, por segundas mãos: «isto é o fim do comunismo e do socialismo; isto é a entorce intelectual; isto é uma reviravolta intelectual». Isto é de uma total falta de rigor, que certamente, com as suas tradições académicas, o Sr. Deputado Pacheco Pereira não partilhará.