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13 DE JULHO DE 1990 3545

Aliás, esta Interpelação está desde já justificada e até vencedora como instrumento de fiscalização e responsabilização do Governo pelas suas políticas.
Numa interpelação sobre política geral, é justo reconhecer que o Governo tem de facto uma política definida e clara: ganhar as próximas eleições legislativas.

Risos do PS, do PCP e do PRD.

As presidenciais já o sabemos - recusa-se a disputá-las.
É sabido que o PSD não tem líder sobressalente: o actual Primeiro-Ministro detém, dos todo poderosos, o atributo da unicidade. E já o vamos conhecendo o bastante para podermos antecipar que ou bem que se repete o bambúrrio da maioria absoluta - e eu ia em pensar que nem ele próprio acredita nisso! - ou bem que tem de enfrentar o seu próprio apocalipse.
Depois de ter governado como quis, sem a sombra de um entrave, perdoar-me-á que eu o não imagine à frente de um governo de apoio parlamentar minoritário a pescar as leis uma a uma, com uma cana de bambu, sob o risco de deposição a cada roda do sol, nem, na fragilidade dessa contingência, a ter de mugir as tetas ressequidas das vacas magras que vêm aí outra vez- depois de se ter habituado à ordenha dos úberes mais túrgidos. Provavelmente, vai mesmo definir uma estratégia eleitoral em que dirá: «Ou me dão de novo a maioria absoluta ou não serei o próximo primeiro-ministro».

Risos do PS.

Se nem a maioria relativa conseguir - hipótese que ele mesmo não afasta -, é de recear pela sua sobrevivência. Tanto que me sinto no dever de lhe lembrar que, nesse caso, existirá sempre o refúgio do Convento do Rato. Não somos rancorosos!...

Risos do PS e do deputado independente Raul Castro.

Em qual dos PSD há-de o eleitorado votar? No que numa primeira fase o repele ou no que numa segunda o namora?
O Primeiro-Ministro entrou no palco de má catadura. Hostilizou tudo quanto era corporação e gente. Foi a guerra contra os médicos, o conflito com os funcionários, o desentendimento com os militares, a batalha das custas judiciais, a agressão fiscal, a perda do poder de compra dos salários a desvalorização das eleições presidenciais, do Parlamento, dos partidos, das ideologias e da política. São dessa fase a greve nossa de cada dia; o enterro da concertação social, após um primeiro lampejo; a reforma fiscal e o duplo imposto; as farsas em torno da revisão constitucional; a irrecusabiiidade do fiasco das metas da inflação e do saldo das balanças e o reforço da dívida pública.
Desiludido, o eleitorado expediu-lhe primeiro um aviso - o das eleições para o Parlamento Europeu - e depois um chumbo - o das eleições autárquicas. Aí, o Sr. Primeiro-Ministro teve a primeira dúvida da sua vida: será que não era tão infalível como julgava ser? Quem unha errado? Ele a governar o povo ou o povo a julgá-lo a ele? Na dúvida, fez um golpe de teatro e de rins: disse adeus às políticas que o haviam impopularizado e abriu o dossier das estratégias encantatórias.
Os pensionistas queixam-se de pensões de miséria? Para já o 14.º mês, que mais não cabe no Orçamento; no fim do ano, uma pensão mínima com sabor a máxima!...

Protestos do PSD.

Os militares inquietam-se? Sobe-se-lhes o pré!...
Os funcionários gemem? Reforça-se-lhes o vencimento!...
Os directores-gerais recusam-se a dirigir? Ordenado e meio para já; no ano que vem há mais!...
Os trabalhadores insistem na semana das 40 horas? É dar-lha!...
O Ministro da Saúde está de relações cortadas com os médicos? Põe-se no lugar dele um ministro dialogador e lépido no prometer!...
O Ministro da Justiça, aqui presente e meu amigo, já não recupera da síndroma das custas judiciais? Arranje-se o substituto mais simpático, com cheirinho a esquerda, mas sem veleidades sobre o que a justiça custa!...

Risos do PS, do PCP e do deputado independente Raul Castro.

O Ministro da Agricultura, Pescas e Alimentação é inteligente demais para não ter percebido que vem aí um lindo enterro para o futuro do nosso agro e passa o tempo a querer «dar o fora»? Promova-se o ajudante a - salvo seja - gato-pingado da reforma agrária e faça-se disso um retumbante facto político! Um bom de profundis legislativo desviará as atenções das inclemências agrárias que vêm aí e das recriminações da CAP, que já vieram!...

Protestos do PSD.

O Ministro das Finanças não o substituto, aqui presente e que saúdo, mas o substituído deixou derrapar a inflação, as balanças, a dívida e o consumo e por sobre tudo isso é sobranceiro e fala demais? Procure-se o mais comedido de falas e modesto de atitudes e encomende-se-lhe o arrefecimento da economia!... Para começar, o corte de uma suculenta fatia orçamental. Explica-se-lhe depois por que altos desígnios se devolve à inflação o que é da inflação!...
O Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações desconhece as elementaridades do fontismo? Ponha-se no seu lugar o desembaraçadíssimo Ministro do Comércio e Turismo! São precisas inaugurações, logo obras. No mínimo, o anúncio delas e, sempre que possível, algo que se filme!...
O Ministro da Defesa Nacional é paisano demais? Livre da justiça, assente praça o de Estado!...

Risos do PS.

A rapaziada quer menos tempo de tropa? Prometa-se a redução a um terço!... Fica mais caro? As contas fazem-se depois!...

Risos do PS, do PCP, do PRD e do deputado independente Raul Castro.

No Ministro da Educação não se toca! Ninguém melhor do que ele justifica e gere o caos em que o pandemónio das escolas se tornou. Enquanto as escolas abrirem a tempo dos exames, a luta continua!

Risos do PS.

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