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I SÉRIE -NÚMERO 84 2732

E ei-los peregrinando pelo País, envergando, despudoradamente, as vestes ministeriais e primo-ministeriais, em clara e ostensiva campanha eleitoral.
E qual é a receita que propõem? A mais simples, meus senhores: a escolha entre a estabilidade ou, de novo, o fantasma de uma coligação ou de um acordo secreto PS/PCP. Foi uma receita que não pegou em Lisboa, mas, quem sabe, talvez assuste na província.

O Sr. João Salgado (PSD): - Não pegou em Lisboa?!...

O Orador: - A pergunta «o Partido Socialista não será alternativa?», obterá como resposta: «Nem pensar! [...] Não tem capacidade de decisão nem sentido de Estado!»
«E se nos perguntarem qual é a nossa política de habitação?», dirão os sempre receosos do PSD. «Se nos perguntam pelas casas de habitação social que prometemos e não construímos? Se os jovens nos dizem que continuam sem possibilidades económicas para comprar ou alugar casa no mercado de habitação?» Responderá o Sr. Primeiro-Ministro: «Então parece-lhes que os Portugueses, depois de me terem visto na televisão, há dias, a entregar um cheque de 50 000 contos a um clube de campismo, daqueles clubes que tem tendas e barracas, ainda imaginarão que o problema da habitação não está resolvido em Portugal?»

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado, esgotou o seu tempo, queira terminar.

O Orador: - «E a cultura, Sr. Professor? Se nos perguntarem pela cultura e vierem com aquela história dos 40 milhões para o Centro Cultural de Belém?» A resposta será, certamente: «Bom, isso aí é complicado. Metemo-los em autocarros, trazemo-los a Lisboa, mostramo-lhes as vistas bonitas para o Tejo e pomo-los a imaginar um centro cultural cheio de livros, quadros e essas outras coisas de cultura».
«E se eles dizem que lêem pouco, que o orçamento não dá para livros, que de arte só ouvem falar, teatro só vêem na televisão e com sotaque brasileiro e exposições é coisa nunca vista?» Também para isso há resposta: «Aí, mandamo-los de volta para a terrinha e fala-se com o Sr. Governador Civil para ver o que podemos arranjar para esses ingratos. Sejamos práticos.»
«E os professores, Sr. Professor? Se eles nos aparecem a reclamar aqueles malfadados retroactivos? A resposta não se faz esperar: Ora essa! Digam-lhes que são uma classe por quem sempre tive o maior respeito e que não compreendo como se deixaram embalar por essa cantiga da oposição».

O Sr. Narana Coissoró (CDS):-Pagam em Setembro, ao pé das eleições!

O Orador: - «Afinal, nunca foi nossa vontade ficar-lhes com o dinheiro. Vai ser-lhes tudo pago, descansem! E, cá para nós, que ninguém nos ouve, a memória é curta, o cheiro a férias é anestesiante e receber tudo junto, lá para Julho, será de óptimo efeito, não acham? E se, por essa altura, fizermos ainda uma franqueza no preço da gasolina? Já imaginaram o resultado?»
Enquanto isto se pensa ou programa, o Sr. Primeiro-Ministro vai já fazendo visitas semanais às mais diversas regiões do País.

O Orador: - São tudo visitas oficiais e institucionais, no rigoroso exercício de uma obrigação governativa e sem qualquer sinal partidário ou eleitoralista. Veja-se que até visita, preferencialmente, câmaras socialistas e nelas se dispõe -num acto da mais elevada nobreza e estatura moral- a assinar o contrato-programa há tanto tempo prometido ou a subsidiar a obra que tantos ofícios reclamou.

O Sr. José Ferreira de Campos (PSD): - Matosinhos está-lhes atravessada na garganta!

O Orador: -E tudo em poses discretas, soberanas ou populares quanto bastem, porque o Moniz e a televisão fazem o resto, com a eficiência que se lhes reconhece.

Sr. Presidente, Srs. Deputados: Manda a verdade que aqui deixemos uma palavra de apreço por algumas qualidades, até há bem pouco tempo na clandestinidade, do Sr. Professor Cavaco Silva.
É estimulante para os Portugueses - e sobretudo para os jovens- veiem o Sr. Professor Cavaco abandonar aquela altiva pose, distante e inatingível, e distribuir agora dentífricos sorrisos e olhares cândidos para tudo quanto é gente.

O Sr. José Vieira de Mesquita (PSD): - Quem é que lhe escreveu isso? Foi o Almeida Santos?!...

O Orador: - Imagine-se o deleite das jovens da «jota» ao ouvirem, do seu amado chefe, esta frase electrizante: «boas em todos os sentidos».

Risos do PS.

A Sr.ª Thatcher corará de espanto quando tal souber!

Risos do PS.

E que dizer das performances internacionais desportivas do Sr. Primeiro-Ministro? É vê-lo a fazer alpinismo de coqueiro em São Tomé! E que dizer da marca brilhante, no salto em altura, obtida, o mês passado, no Brasil, com a fasquia transformada em capot de automóvel?

Risos do PS.

Permite-me um conselho e uma sugestão, Sr. Professor? Tente outras modalidades senão arrisca-se a que, qualquer dia, comecem a espalhar - lá virá a oposição!...- que V. Ex.ª tem a mania das grandezas e das alturas. Quer uma sugestão sincera? Dedique-se ao ténis de mesa. É uma modalidade muito popular, como convém, de aprendizagem fácil para um corpo ágil e, sobretudo, permitir-lhe-á, com a prática, ultrapassar provavelmente um bloqueio psicológico que o persegue e não favorece.
É que esta modalidade obriga a ter o adversário bem na frente, a aceitar que a bola quando passa para o campo do adversário deixa de fazer pingue para, desobedientemente, fazer pongue e que, sendo as armas iguais, no final ganhará o melhor. Leal e dignamente, como mandam as regras.
E quem sabe se V. Ex.ª não ganhará coragem para um destes dias ter pela frente Jorge Sampaio.

Risos do PSD.

Sim, esse mesmo, o secretário-geral do PS é tão candidato a primeiro-ministro como é o Sr. Professor Cavaco.

Aplausos do PS.

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