O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

17 DE JUNHO DE 1993 2649

Embora, formalmente, seja da competência do Hospital de Gaia o atendimento da «totalidade das situações clínicas, salvo casos excepcionais», verificamos, na prática, que tal não acontece. Na verdade, a política desenvolvida nos últimos anos quanto à redimensionação dos serviços já existentes e à criação dos serviços inerentes a um hospital de nível 4, tem-se revelado inadequada e mesmo paradoxal, desprezando-se as valências básicas ë intermédias (medicina interna, cirurgia geral etc. e investindo-se, predominantemente, em valências diferenciadas que apresentam baixos níveis de rentabilidade.
Continuam a não existir os serviços de estomatologia e gastrenterologia, nem sequer as consultas externas, assim como também não há, na Unidade l (Hospital de Santos Silva), um serviço polivalente de cuidados intensivos, que tão necessário se revela.

As valências de oftalmologia, dermatologia e neurologia dispõem, apenas, de consultas externas. A cirurgia geral viu arbitrariamente reduzido o seu número de camas, de 120 para 90, e destas, apenas estão disponíveis cerca de 70, quando, pelo contrário, tendo em atenção o volume da população que o hospital serve, mais de 300 000 pessoas, e os critérios estabelecidos, quer europeus quer nacional, o seu número devia ser de 150 camas.
O serviço de ortopedia, com uma média diária de 75 consultas e de quatro a cinco operações, não dispõe de um bloco cirúrgico autónomo nem de uma área própria de consulta.
Verificou-se uma redução drástica dos serviços de cirurgia pulmonar, que adquirira significativa dimensão e prestígio.
Pelo contrário, os serviços de cirurgia cardíaca apresentam o melhor bloco do País, e mesmo da Península Ibérica, e um excelente laboratório de hemodinâmica. Contudo, a sua rentabilidade é, anormalmente, baixa, uma vez que, após 1991, em face dos maus resultados obtidos, o número de intervenções foi reduzido para uma média anual de quatro dezenas. O laboratório de hemodinâmica funciona, por tal, com custos elevadíssimos, uma vez que os doentes que apoia são operados, não no Hospital de Gaia mas noutros hospitais, muito especialmente no Hospital de Coimbra.

Justificava-se um investimento tão elevado nesta valência, quando o Centro Hospitalar de Gaia se debate com as graves carências já referidas?

No que concerne ao serviço de urgência, a quarta urgência do País, a situação revela-se degradante. Localizada na Unidade 2 (ex-Hospital da Misericórdia), em instalações aviltantes, desprovida dos meios de diagnóstico indispensáveis, dispondo apenas de um bloco operatório comum, nela se amontoam pelos corredores e pelo átrio de entrada as macas dos doentes. Aí, homens e mulheres misturam-se indiscriminadamente, por vezes, descompostos, não se tendo minimamente em conta a dignidade e a privacidade dos pacientes que a ela têm de acorrer.

Por outro lado, continua a não existir uma efectiva cobertura das emergências que afectam os doentes internados. Com efeito, os doentes operados na Unidade 2, nalguns serviços, a partir das 20 horas são apoiados pelos médicos do serviço de urgência da Unidade 2, localizada a 3 km de distância.

Esta situação até há bem pouco tempo era diferente. Mas, com o objectivo da contenção de despesas, passaram a dispensar-se os médicos necessários para acompanharem os doentes internados que se encontram na Unidade 1.

Há já três anos que o Ministério da Saúde, tendo em consideração a degradação a que chegou o serviço de urgência e a sua anómala localização, garantiu que a urgência seria transferida para novas instalações na Unidade 1. Só, que, até ao momento, nem as obras começaram. Quando é que se dá início a esta transferência?

No domínio dos equipamentos, nomeadamente no que diz respeito aos meios de diagnóstico essenciais, as carências revelam-se também dramáticas e arrastam-se há vários anos.

Apesar de, já em 1990, o chefe de gabinete do Ministério da Saúde considerar os equipamentos de diagnóstico por imagens a principal prioridade do plano de investimentos, com os meios necessários para o TAC, radiologia convencional, ultrassonografia, mamografia e angiografía, a verdade, é que, até ao momento, nada se concretizou. O aparelho de TAC continua a não existir, a ecografia funciona a meio tempo, a eletrocardiografia acusa os valores mais baixos de todos os hospitais centrais do País, a endoscopia funciona com o aparelho particular de um médico e a radiologia convencional mantém os aparelhos de há 20 ou 30 anos.

Nestas condições, não é de admirar que muitos doentes, mesmo os internados, sejam obrigados a fazer os exames, por mais simples que se revelem, no exterior.

Razão tem o seu director quando nos afirmou, há bem pouco tempo, que o Hospital Central de Gaia «é como os hospitais do Brasil», ou seja, com um ou outro serviço de qualidade, mas com os serviços de base a nível do Terceiro Mundo.

Com uma gestão autoritária, um sistema administrativo caótico, falta de planeamento dos recursos humanos, instalações degradadas e inadequadas, más condições de trabalho, atrasos crónicos no pagamento de serviços extraordinários do seu pessoal, enormes carências em várias especialidades listas de espera que ultrapassam os dois anos, e um serviço de urgências que envergonha Vila Nova de Gaia e os serviços de saúde em Portugal, o Hospital d Gaia constitui, de facto, um exemplo acabado dos hospitais do Terceiro Mundo. De todos os hospitais gerais do País, este é, sem dúvida, com excepção da cirurgia cardíaca, o que se encontra pior equipado e com as instalações mais degradadas.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Em 1989-1990, estavam previstos 6 a 7 milhões de contos para á construção de um pavilhão e remodelação das instalações existentes. Ao presente, o Governo quer dar apenas 4 milhões de contos para o mesmo fim, e apenas em 1994-1995, isto é, antes das eleições legislativas. E as verbas destinadas às despesas correntes mantêm-se as mesmas nos últimos três anos, e não dão, sequer, para cobrir, adequadamente, os custos dos serviços de urgência.

Páginas Relacionadas