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25 DE MARÇO DE 1994
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0 Orador: - De facto, devemos ter consciência, dada a importância que este assunto tem para Portugal, de que o discurso sobre a Europa, que é uma realidade nova para o nosso país, tem de ser feito com seriedade e não com demagogia.

0 Sr. Ferro Rodrigues (PS): - É isso que não foi feito!

0 Orador: - Por isso, acusei a glosa!

Protestos do PS.

Desafio-os, com a autorização do Sr. Presidente - e isso pode ser feito em sede de comissão -, a "passarem a pente fino" aquilo a que chamaram generosamente de uma acta e a descobrirem uma só afirmação que não possa ser documentada por centenas de volumes, que, eventualmente, se encontrarão na biblioteca desta Casa! Mas esse já não é o caso relativamente àquilo que acabou de dizer. Invocou qualidades... Para preservar o bom nome desta Casa, era melhor ter ficado calado, Sr. Deputado Ferro Rodrigues!

Aplausos do PSD.

0 Sr. Ferro Rodrigues (PS): - É a sua opinião! 0 senhor é que devia ter ficado calado!

0 Sr. Presidente: - Para exercer o direito regimental de defesa da honra e consideração, tem a palavra o Sr. Deputado António Lobo Xavier.

0 Sr. António Lobo Xavier (CDS-PP): - Sr. Presidente, Sr. Deputado Braga de Macedo, quando no meu pedido de esclarecimento falei de algumas contradições políticas, ao responder-me, o Sr. Deputado disse que só um ignorante podia ver aí contradições.
Sr. Deputado, devo dizer-lhe, por um lado, que essa é uma técnica já utilizada recentemente até pelo Sr. Primeiro-Ministro para "fugir" às respostas concretas e, por outro, que aqueles que o Sr. Deputado e o Sr. Primeiro-Ministro acusam de ignorantes são para mim uma companhia muito confortável.

Aplausos do CDS-PP e do PS.

Em segundo lugar, quero dizer-lhe, Sr. Deputado Braga de Macedo, que V. Ex.ª está, porventura, mal habituado: está habituado a desferir ironias maldosas, agressivas e gratuitas do seu púlpito doutoral e da bancada do Governo. Mas agora, que está aqui entre nós, deverá ter cautela e cuidado na forma como procede, como Deputado - para já não falar nas exigências de elegância e de cortesia, que no meio universitário são costume.

Vozes do PS: - Muito bem!

0 Orador: - 0 Sr. Deputado não as tem,...

0 Sr. Ferro Rodrigues (PS): - Mas tem tempo para aprender!

0 Orador: - ... mas tenha, ao menos, a elegância e a cortesia normais nas relações entre os Deputados desta Câmara.

Vozes do PS: - Muito bem!

0 Orador: - Não chegou ainda o tempo de lhe pagar na mesma moeda; não chegou ainda o tempo de, por fartura, lhe devolvermos as descortesias e a agressividade com que

o Sr. Deputado, por vezes, se nos refere. No entanto, e por isso, devo dizer-lhe que o Sr. Deputado não é ignorante,...

0 Sr. Raúl Rêgo (PS): - É malcriado!

0 Orador: - ... mas está cheio de contradições. Portanto, a sua afirmação não vale para todos, não tem um valor geral. 0 senhor, repito-o, não é ignorante, mas está cheio de contradições!
Para finalizar, dir-lhe-ei o seguinte: compreende-se que um político, por táctica, durante algum tempo, disfarce a realidade e a apresente de um modo mais colorido; o que não se compreende é que alguém, durante, toda a vida, disfarce a realidade e persista em fazê-lo. E que alguém que toda a vida persiste em disfarçar a realidade terá de ser considerado como um alienado!
Aplausos do CDS-PP e do PS.

0 Sr. Presidente: - Para dar explicações, tem a palavra o Sr. Deputado Braga de Macedo.

0 Sr. Braga de Macedo (PSD): - Sr. Presidente, Sr. Deputado António Lobo Xavier, começo por referir que tudo aquilo que foi dito quanto às maneiras pode ser sempre corrigido, porque a ignorância desfaz-se aprendendo. Por conseguinte, nada daquilo que foi o meu comportamento aqui... E digo isto com todo o à-vontade, tanto agora ao Sr. Deputado António Lobo Xavier como mais tarde a qualquer um dos Srs. Deputados, porque, naturalmente, há aqui estilos da Casa, que uns aprendem e outros não. Agora, julgo que aqui deve sobretudo seguir-se aquela regra de ser natural e é exactamente isso que quero ser.

0 Sr. Narana Coissoró (CDS-PP): - Natural?!

0 Orador: - Exactamente, natural.

0 Sr. Narana Coissoró (CDS-PP): - Bruto!

0 Orador: - Por isso mesmo, Srs. Deputados do Partido Socialista, a minha visão do natural não é, de modo nenhum, uma visão ilumunista do "bom selvagem".
Agora, há aqui, de facto, um aspecto político decisivo: um partido que tem, pelo menos, três discursos europeus um, na Assembleia; outro, no Largo do Caldas e outro ainda (ou já o teve) em Estrasburgo -, que toma posições absolutamente ao revés de tudo o que se está a passar ao nível do consenso entre os povos europeus e que se atreve a falar de contradições naquilo que, como comecei por dizer, é a unidade na diversidade, a própria natureza da construção europeia, que não é federalista nem um modelo fechado, indo ao ponto de acusar o chefe de Governo comunitário com mais experiência, o que é unanimemente reconhecido, afirmando que invoca a ignorância e que essa é qualquer atitude menos simpática para os que sabem menos! Não esperava isso de si, Sr. Deputado António Lobo Xavier! É que o senhor também tem pergaminhos académicos e, ao invocar essa delicadeza de trato - que, aliás, lhe reconheço -, não pode, depois, como ferrete escondido numa roupagem do século XVIII - aí também iluminista , fazer uma acusação absolutamente gratuita a propósito daquilo que foi um discurso construtivo e abrangente. Na afirmação de que a nossa participação na Europa tem de ser uma participação aberta, que tenha em conta a liberdade, o desenvolvimento e a lusofónia, o que há que nos divida? Não muito!