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7 DE ABRIL DE 1994
1797

imaginou um poeta brasileiro, quando pedir licença para entrar pelas portas do Céu, lhe respondam: "Entra Agostinho, você não precisa de pedir licença".

Aplausos gerais.

'0 Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Raúl Rêgo.

0 Sr. Raúl Rêgo (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Associamo-nos ao voto proposto pelo Sr. Deputado Adriano Moreira, não com a sua eloquência, mas com a boa vontade de sempre do companheiro que fui de Agostinho da Silva na Seara Nova e na sua obra de renovação e, sobretudo, de divulgação cultural.
Para Agostinho da Silva a cultura não era um meio de promoção, mas um meio de comunicação e fraternidade que ele impunha a tudo. Aliás, ele, que era um erudito, divulgava a sua erudição e quase rastejava essa erudição, colocando-a inteiramente ao nível do povo. É que não há ciência para os ricos, pois esta tem de ser para a Humanidade, para todos os cidadãos ou, então, não é ciência!
Agostinho da Silva, em Portugal, no Brasil, em toda a parte, foi sempre um divulgador cultural nos seus exemplos e nas suas lições. No Brasil, depois do regresso, sempre limitado por todos os condicionalismos, ele venceu-os. É essa sua persistência e teimosia que constitui também uma grande lição daquele que tem qualquer coisa para comunicar e a comunica contra tudo e contra todos.
Associamo-nos ao voto de pesar, porque morreu, sem dúvida, um democrata. Mas a sua lição deve persistir e tomar-se realidade para todos nós.

Aplausos gerais.

0 Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Lélis.

0 Sr. Carlos Lélis (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Neste último domingo, morreu, português, quem foi durante longo tempo cidadão do mundo. Agostinho da Silva, perdido na sua movimentação pelo mundo, não era, devo confessá-lo, um dos meus autores de cabeceira - apesar de ter escrito mais de 200 livros - e foram os jornais e a televisão que mo fizeram entrar porta dentro.
Também nunca terá sido a profundidade do seu pensamento que me prendeu ao seu diálogo, mas sim a sua capacidade, quase marginal, de fazer tombar barreiras, de abrir janelas, de mostrar caminhos. Gosto de lembrá-lo vivo, porque gosto de lembrar o seu lado irreverente entre tanta gente, como nós, sempre tão bem comportada.
Herdeiro de outros pensadores, Agostinho da Silva, não quis ser académico, não se portou como académico e, com o avançar dos anos, encontrou naquela sua raiva mansa um segundo fôlego de comunicar. Lá para onde terá ido, deve estar a pregar outras partidas verbais, dizendo, talvez, que nem sabe sequer como lá chegou ou dizendo, talvez, que não sabe por que é que os outros lá estão.
Andarilho das cinco partes da Terra e dos continentes, o vagamundo Agostinho da Silva, no domingo, parou e a paragem é sempre para nós mais sensível, mais visível, quando se refere a alguém que vimos em movimento, alguém que vimos com um pulsar de vida. Agostinho da Silva, ao ver-nos todos aqui in memoriam, talvez fizesse um anti-discurso, não porque fosse contra mas porque era- e ~a ser- diferente. A nossa saudade por ele, a saudade que ele nos ensinou também ser saudade do futuro, vai ser a forma como o haveremos de lembrar, projectando a sua lembrança no futuro, num futuro com uma grande comunidade que não será por certo o Quinto Império mas a do Brasil, o seu Brasil, e este nosso Portugal.
Agostinho da Silva, sempre rebelde, morreu neste domingo, num domingo de Páscoa que, por ironia, era um dia de ressurreição.

Aplausos gerais.

0 Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Octávio Teixeira.

0 Sr. Octávio Teixeira (PCP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Também nos associamos ao voto de pesar pelo falecimento de Agostinho da Silva e com isto, muito singelamente, queremos relembrar o livre pensador, o pedagogo, o amante dos valores da modéstia e da liberdade.

Aplausos gerais.

0 Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Manuel Sérgio.

0 Sr. Manuel Sérgio (PSN): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Agostinho da Silva é para mim um herói da cultura, que o mesmo é dizer um homem, homem acima de tudo, homem a quem nada do que é humano foi alheio.
Morreu um herói da cultura, isto é, morreu um homem e sempre que um homem morre o mundo fica mais pobre, apesar do legado cultural que nos deixa e que nos cumpre criticar e desenvolver. Agostinho da Silva, um herói da cultura, ou seja, morreu um homem livre e libertador!
Subscrevi o voto de pesar n.º 101/VI e, assim, apresento sentidas condolências à família enlutada.
Aproveito também para relembrar a figura do meu mestre, Professor Delfim Santos, que um dia, na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, me iniciou na leitura de Leonardo Coimbra e de Agostinho da Silva. São homens como estes que são, simultaneamente, a memória e a profecia de uma Pátria. Escutar a sua mensagem é o mínimo que se exige a cada um de nós.

Aplausos gerais.

0 Sr. Presidente: - Srs. Deputados, solicito à Câmara um minuto de silêncio em memória de Agostinho da Silva.

A Câmara guardou, de pé, um minuto de silêncio.

Srs. Deputados, vamos votar o voto de pesar entretanto apresentado.

Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade, registando-se a ausência de Os Verdes e do Deputado independente Raúl Castro.

Este voto será comunicado, com o essencial das intervenções aqui produzidas, à família do Professor Agostinho da Silva.
Srs. Deputados, o período antes da ordem do dia compreende hoje um debate de urgência, a pedido do Grupo Parlamentar do Partido Socialista e ao abrigo do artigo 77.º do Regimento da Assembleia da República, sobre a situação no Vale do Ave.
0 debate vai ser iniciado com uma intervenção do Sr. Deputado António Braga, a quem concedo, desde já, a palavra.

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