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998 I SÉRIE - NUMERO 26

necessárias no desenho das instituições, das suas atribuições e do modo como exercem as suas competências e, sobretudo, na sua compatibilidade com as formas de democracia directa que não sejam simples concessões à demagogia e ao populismo fácil.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - E não esquecendo, obviamente, a necessidade imperiosa de reformar o próprio Estatuto dos Deputados.
Mas tudo fazendo sem pôr em causa um grande respeito pela instituição parlamentar, que é, sem dúvida, a verdadeira sede da democracia, procurando sempre defender e não denegrir a sua imagem, no conceito popular.
Estou certo de que VV. Ex.ªs, Srs. Deputados, e os que vos sucederem, assim farão. Recordo, a propósito, os momentos altos que aqui vivi, por ocasião da revisão constitucional de 1991, como membro da Comissão Eventual de Revisão e como interveniente na discussão no Plenário, e os passos importantes que, então, a todos foi possível dar.
Permitam-me, Srs. Deputados, que as minhas últimas palavras vão para o Sr. Presidente, meu contemporâneo e meu mestre, em Coimbra, que aqui soube sempre exercer o cargo com a maior dignidade, mas sempre como um primeiro entre iguais. Obrigado pela lição, Sr. Dr. Barbosa de Melo.
E também para os membros do Grupo Parlamentar do CDS, para todos e para cada um, que, enquanto grupo, dignificaram a instituição parlamentar e superaram em muito as possibilidades inerentes ao seu escasso número e que, nos momentos difíceis que ultimamente vivi, me rodearem sempre com provas inexcedíveis de solidariedade que não mais esquecerei.
Os meus Colegas entendem, estou certo, que destaque o Sr. Prof. Adriano Moreira, que continua a ser uma referência para o País e para esta Assembleia, o Professor Narana Coissoró, grande parlamentar, que tem sabido manter em condições sempre difíceis um grupo de cinco pessoas como se mais Deputados tivesse, e ainda o Dr. António Lobo Xavier, amigo e filho de um grande amigo, que, com a sua inteligência e brilho, tantas vezes iluminou, enquanto aqui esteve, este Hemiciclo e os trabalhos parlamentares.
Um grande abraço para todos nesta despedida parlamentar e também para os dirigentes do CDS bracarense, a cujas estruturas regresso nesta hora para as tarefas de simples militante, empenhado na continuidade do partido, que me quiserem atribuir.

Aplausos, de pé, do CDS-PP, do PSD, de alguns Deputados do PS e do Deputado independente Manuel Sérgio.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado Nogueira de Brito, antes de dar a palavra a outros Srs. Deputados, permita-me que, em nome pessoal e em nome de todos os Srs. Deputados, agradeça a clareza e a frontalidade das suas palavras, sublinhe a nobreza das suas ideias reformistas sobre a grande instituição parlamentar inerente à democracia e, por fim, a gentilíssima referência pessoal que quis fazer-me.
É com tristeza que vejo um parlamentar tão brilhante, tão atento e sempre tão bem preparado para as intervenções aqui feitas sair do Parlamento, mas continua a ter, claro está, a minha admiração e amizade.

Tem a palavra o Sr. Deputado Manuel Alegre.

O Sr. Manuel Alegre (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Em nome do Grupo Parlamentar do PS, quero aqui deixar uma palavra de estima, de consideração e de respeito pelo Sr. Deputado Nogueira de Brito.
É conhecida a sua capacidade política. O Sr. Deputado Nogueira de Brito sempre se distinguiu pelo fulgor e qualidade política das suas intervenções- foi um grande parlamentar que enriqueceu esta Casa -, mas também se distinguiu pela cordialidade do seu relacionamento, pelo seu aprumo pessoal e pela dignidade política do seu comportamento.
Se são conhecidas as suas qualidades políticas, queria deixar uma nota pessoal sobre as suas qualidades humanas.
Conhecemo-nos há muitos anos, defrontámo-nos nas noites quentes da Assembleia Magna da Associação Académica de Coimbra. Fomos adversários nas eleições que, então, ali se realizaram e que foram, porventura, as mais disputadas de sempre, em que Nogueira de Brito encabeçava a lista, então, vencida.
Tive ocasião de constatar, nesses tempos de duros e terríveis combates, que ele sempre foi capaz de manter com os seus adversários uma cordialidade de relacionamento e mesmo de amizade, e gostaria de dar aqui o meu testemunho.
Numa situação para mim difícil, em que estava sob a ameaça de prisão, sendo ele meu adversário político, veio dizer-me que a sua casa estava à minha disposição. Foi um acto sincero e nunca esqueci esse gesto, que demonstra qualidade humana num tempo muito difícil, em que os campos estavam muito demarcados. Estivemos sempre em diferentes barricadas, mas sempre conseguimos manter a nossa amizade e as nossas cordiais relações.
Creio que Nogueira de Brito, pelas suas qualidades políticas e humanas, por ser um grande parlamentar, faz falta à direita democrática, ao sistema político e ao Parlamento português. Por isso, respeitando embora a sua decisão, é com mágoa que o vemos partir, mas com a esperança de que um dia aqui volte.

Aplausos do PS, do PSD, do CDS-PP e do Deputado independente Manuel Sérgio.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Pacheco Pereira.

O Sr. Pacheco Pereira (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Há adversários que nos honram e o Sr. Deputado Nogueira de Brito tem sido um dos adversários que mais nos honra. E honra-nos porque tem uma virtude que é difícil de encontrar: a virtude da sabedoria. E nessa sabedoria olha para as coisas da política, para as coisas da História, para as coisas do poder com alguma ironia e também com alguma alegria, que é muitas vezes par dessa ironia. E sabe, com a experiência que só a sabedoria dá, que o poder é frágil, que, pelas suas próprias características, é uma coisa frágil, como também - e mostrou-o hoje - que só há uma maneira de ultrapassar a fragilidade inerente ao exercício do poder: é através da dignidade pessoal, da dignidade dos actos individuais, dos actos que se tomam sozinhos,...

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - ... das decisões subjectivas, da solidão interior que cada um de nós tem de preservar face ao poder, para conseguir ter com ele essa relação de dignidade, a única que efectivamente o fortalece. O seu acto de hoje manifesta essa dignidade e saiba, Sr. Deputado, que estamos todos consigo, com o seu acto, apesar da pena que temos em o vermos ir embora.

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