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6 DE JANEIRO DE 1995 1033

Vozes do PSD: - Não!

O Orador: - E - exemplo-limite - ter a coragem de pôr ordem na fiscalidade, regularizando, contra todas as pressões, as dívidas fiscais - medida difícil e estritamente do domínio da decisão política, matéria em que nenhum governo do PS teria a coragem de mexer - é obra de um governo fantasma?

Vozes do PSD: - Não!

O Sr. José Magalhães (PS): - Está mal informado!

O Orador: - Não se convençam demasiado com as vossas palavras nem com o mundo em que vivem e não brinquem connosco.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - A segunda dessas propostas a que queremos responder é a ideia do PS, também absurda, de trazer para esta Assembleia o debate político interno do PSD habitual em vésperas de um congresso decisivo para o partido e para o país, como se o PS e os seus membros quisessem ser parte dos órgãos internos do PSD.

Aplausos do PSD.

Também dizemos com clareza: não! Só faltava que o PS quisesse agora discutir na Assembleia da República quem vai ou não vai ser líder de um partido alheio e que escolhas serão feitas e em que tempo. Isso seria o equivalente - e vamos ver se os senhores estão dispostos a fazê-lo - a querer discutir na Assembleia da República aã é o Dr. Sampaio, o Dr. Gomes ou o Dr. Cárdia o candidato do PS à Presidência da República.

Aplausos do PSD.

Mas a razão é mais de fundo! Tudo isto porque o PS é dependente da estratégia do PSD, que copia com o atraso de uma batalha perdida, e fica muito confuso, no entretanto, enquanto não sabe o que deve copiar.

Aplausos do PSD.

A verdade é que actuando assim são os partidos da oposição que se tornam reféns das opções políticas do PSD. Em todos eles, e em particular no PS, a formulação de uma política alternativa de governo é substituída todos os dias por um estranho «bailado» de palavras sobre aquilo que o PSD e o seu presidente possam ou não fazer. Isso porque a extensa enunciação de medidas demagógicas - aumentos de salários e das pensões de segurança social, dissolução dos órgãos de decisão do Estado em formas de basismo «consensual», degradação da autoridade, que correspondem às propostas do PS, não podem ser consideradas uma verdadeira política, pois não constituem um objecto de actividade, um trabalho, mas, sim, um discurso feito para encher o vazio.

O Sr. Silva Marques (PSD): - Muito bem!

O Orador: - Se há drama ou psicodrama ele encontra-se no patente nervosismo com que o PS vê a sua dependência estratégica do PSD, ou no sobressalto com que o PS, num raro momento de lucidez, se apercebe que as toneladas de demagogia em que se enterra diariamente e em que se enterrou nos últimos 10 anos o impede, seriamente, de encarar a possibilidade sequer de governar.

O Sr. Silva Marques (PSD): - Muito bem!

O Orador: - Também eles perceberam como é que a economia, os mercados financeiros e a opinião pública reagiriam depressivamente à mera hipótese de os socialistas, já não digo ganharem as eleições, mas, estarem lá, existirem, serem, ao lado do PSD, quando este toma medidas difíceis e sofre na sua popularidade por toma-las.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Para os socialistas é tudo fácil, embora eles saibam que não podem ser tomados a sério! E os portugueses não o fazem! Um candidato a Primeiro-Ministro que lhes promete, no dia seguinte à sua posse, que lhes daria um salário quase o dobro acima da inflação - e mais: certamente lhes daria uma inflação do dobro do seu salário -, que lhes garantiria uma coisa a que chama «rendimento mínimo garantido», que já ele próprio abundantemente confessou não saber quanto custa...

O Sr. Ferro Rodrigues (PS): - É falso!

O Orador: - ... - e quem sabe, sabe que é não só má solução, como custa muito -, taxas de juro baratas, casas quase grátis.

Protestos do PS.

O Sr. Rui Rio (PSD): - Não se exaltem! Calma!

O Orador: - Nós podemos não saber muita coisa, mas sabemos bem o que vos incomoda!

Protestos do PS.

Ao lado disto, o célebre «bacalhau a pataco» - versão pré-histórica da demagogia socialista feita por alguns dos vossos avós republicanos - é um pobre exercício.
O actual líder parlamentar do PS já uma vez classificou esta política de «frenesim», sintetizando numa palavra uma política que não tem qualquer objecto útil que não seja dizer todos os dias que existe: «eu existo», «eu estou cá», «eu faço conferências de imprensa», «eu faço Estados Gerais», como se estivesse na Revolução Francesa.
A confusão criada pela dependência estratégica do PS das decisões do PSD e de Cavaco Silva revela a total ausência de um pensamento de Estado e de governo ou sequer de autonomia na acção política na prática oposicionista do PS.
Aliás, nem sequer o PS percebe que a sua enorme agitação e exuberância é a melhor homenagem que faz ao PSD e ao seu líder, convertido pela perturbação no PS em verdadeiro centro da vida política portuguesa, capaz de, pela sua decisão, mudar muita coisa.

Aplausos do PSD.

Mas podemos, desde já, acalmar o PS: pode o PS estar sossegado que o PSD vai estar nas eleições de 1995 com os mesmos objectivos de 1991.
O PSD não condiciona a sua política - que faz em função do que entende ser o interesse nacional - ao «frenesim» do PS.

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