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3662 I SÉRIE-NÚMERO 108

O Orador: - Disse V. Ex.ª, Sr. Deputado Pacheco Pereira, que este Congresso do PSD democraticamente - e muito bem - foi um congresso que não consistiu apenas num ritual de sacralização de lideranças. Mas nós não vamos esquecer que, durante 10 anos, o PSD fez congressos atrás de congressos, que foram meros rituais de sacralização de uma liderança.

Aplausos do PS.

E não vamos esquecer, Sr. Deputado Pacheco Pereira, que V. Ex.ª era um dos sacerdotes que mais activamente participava nesses congressos de celebração e de sacralização de uma liderança.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Por isso, temos o direito de pensar que o problema, hoje, no PSD, não é o de estarem distanciados do desejo da sacralização, mas o de estarem distanciados da liderança, que, neste momento, não conseguem sacralizar.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Compreendo perfeitamente o seu discurso e até tenho alguma solidariedade íntima em relação à dificuldade do seu papel aqui hoje. É que o seu papel foi o de dar um tom grandiloquente àquilo que foi minúsculo; foi procurar fazer crer ao País, através desta Câmara, que, de facto, no Congresso do PSD se discutiram questões essenciais, quando todos sabemos que só se discutiram questões acessórias. É fazer crer ao País que, no Congresso do PSD, foi o País que esteve em causa, quando, no Congresso do PSD, foram estreitamente os problemas internos do PSD que estiveram em causa.

Aplausos do PS.

É fazer crer ao País que o PSD resolveu os seus problemas de liderança, quando basta abrir uma revista e ler a entrevista daquele que é um dos homens do futuro do PSD, o líder da JSD, para perceber que nada verdadeiramente ficou resolvido neste Congresso, a começar. pela sua própria liderança.
E V. Ex.ª prestou-se aqui a este difícil e complexo papel, que foi justamente o de dar um tom diferente, o de procurar atribuir uma importância maior àquilo que, de facto, não passou de um congresso doméstico, para não dizer um congresso de cozinha, já que me repugna um pouco usar as expressões que o vosso prócere distrital do Porto costuma utilizar, quando se refere ao Congresso que os senhores levaram a cabo no passado fim-de-semana.
Estamos dispostos a contribuir para a transformação da vida política portuguesa e a introduzir-lhe novos factores de moralização. Só que, Sr. Deputado Pacheco Pereira, há uma diferença: é que nós não precisamos de passar do poder para a oposição para estarmos preocupados com essas questões, para compreendermos as preocupações do País e para manifestarmos interesse em encontrar resposta e em garantir a resolução desses mesmos problemas. A nossa diferença é que nós agimos em função da convicção e os senhores em função da posição que conjunturalmente ocupam na vida política portuguesa.

Aplausos do PS.

E os portugueses sabem distinguir isto.

O Sr. Presidente: - Agradeço-lhe que termine, Sr. Deputado.

O Orador:- Termino já, Sr. Presidente.
E já que está tão preocupado com as questões da democraticidade nas ilhas, posso dizer-lhe que não está seguramente mais preocupado do que eu. Por isso, desafio-o, Sr. Deputado Pacheco Pereira, em nome do seu sentido democrático e da sua cultura liberal - e não me atreveria a chamar-lhe, alguma vez, um homem ainda prisioneiro da mentalidade estalinista -, da cultura liberal a que chegou - e chegou a tempo, porque se chega sempre a tempo a uma cultura liberal e democrática - desafio-o, repito, a que denuncie e se afaste do estilo, do comportamento e da atitude profundamente antidemocráticas e antiliberais, que, dia-a-dia, são assumidas pelo vosso candidato à presidência do Governo Regional da Madeira.

Aplausos do PS.

Faça isso! É em nome da seriedade que lhe faço este apelo. O seu voto de protesto, o voto de protesto do seu partido, é um voto de protesto hipócrita e sem sentido, se não for acompanhado. de uma declaração clara nessa matéria. Mostre que está realmente preocupado com estas questões e que a sua preocupação não é meramente de conjuntura. Mostre que é um democrata de sempre e um homem preocupado como acho que foi sempre e não apenas nos momentos eleitorais.

Aplausos do PS.

Protestos do PSD.

O Sr. Presidente: - Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Pacheco Pereira.

O Sr. Pacheco Pereira (PSD): - Sr. Presidente, Sr. Deputado Francisco de Assis, V. Ex.ª disse que mudávamos de posição em relação à nossa situação face ao poder e, como passámos do poder para a oposição, mudámos de atitude em relação a uma série de questões de Estado.
Devo dizer-lhe que, se aprendemos alguma coisa com a perda do poder, ainda bem que assim foi, porque esse é o caminho certo. O caminho errado é passar-se da oposição para o poder e, nas primeiras semanas ou nos primeiros meses em que se exerce esse poder, esquecer-se tudo o que se disse de certo durante os muitos anos em que se esteve na oposição.

Aplausos do PSD.

Esse é que é o pior dos caminhos!
Porque, a nós, ainda nos podem dar o benefício da dúvida de que, quando chegarmos outra vez ao poder, seremos coerentes com aquilo que estamos a dizer quando estamos na oposição, mas os senhores, neste momento, não podem ter qualquer benefício da dúvida, porque, ao fim de 10 anos de oposição, mostraram que tudo aquilo que de certo disseram nesse período esqueceram no dia seguinte ao da vossa chegada ao poder.
E não é preciso ir mais longe: um fenómeno que os senhores menosprezam também, com a arrogância e displicência que têm, é o clientelismo e os saneamentos sistemáticos na função pública, criando uma espiral e uma continuidade de vingança no comportamento dos partidos

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