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24 DE OUTUBRO DE 1996 147

A Assembleia da República testemunha o seu pesar a Beatriz Cal Brandão e a toda a sua família e rende sentida homenagem ao cidadão cuja memória permanecerá entre nós como referência política e afectiva e como exemplo de patriotismo e total dedicação à causa da Liberdade e da Democracia.

Tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Lacão.

O Sr. Jorge Lacão (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Morreu Mário Cal Brandão. Morreu uma insigne personalidade de Portugal, que entra, seguramente, no património histórico, na referência espiritual e na página dos grandes exemplos daquilo que foi o espírito e a tenacidade da resistência à adversidade e do combate de toda uma vida pelos valores da liberdade, da solidariedade e da democracia.
Mário Cal Brandão representou para tantos de nós um exemplo vivo daquilo que é o bom cidadão, que, pela causa comum e pelo interesse público, põe acima de tudo uma vida ao serviço de valores, muito mais do que a referência a quaisquer tipo de interesses.
Mais do que alguém que, correligionário, deixa as fileiras do Partido Socialista, Mário Cal Brandão representa, seguramente, para todos nós, o valor e a personalidade de um democrata e de um homem insigne, que será sempre recordado por todos os democratas portugueses, independentemente das suas preferências políticas e ideológicas.
O advogado dos pobres, como era conhecido no Porto aquele que, para além da coerência das ideias, fez da sua vida um testemunho permanente de coerência, Mário Cal Brandão foi tantas vezes para tantos de nós mais eloquente pelo exemplo concreto do que pelas próprias palavras. E até nisso quantas vezes soube ser discreto e chamar a atenção, pelo exemplo tranquilo, mas perseverante, de que, de facto, os valores de uma vida se devem sobrepor às pressões do quotidiano que tantas vezes nos afastam das referências essenciais.
Que com a morte de Cal Brandão fiquemos mais perto daquilo que essencialmente nos liga, o orgulho de, com ele, termos partilhado os valores de uma sociedade livre, de um mundo que queremos cada vez mais fraterno e de uma sociedade que queremos cada vez mais justa, com homens cada vez mais conscientes, socialmente mais conscientes dos seus direitos e dos seus deveres.
Tudo isto, com o exemplo da sua vida, nos legou Mário Cal Brandão. Por isso, Sr. Presidente, é daqui que testemunhamos a nossa profunda emoção e nela evocamos também essa companheira de uma vida ao seu lado, a Beatriz Cal Brandão, a quem publicamente exprimimos, neste momento, a nossa dor, e com ela, ao mesmo tempo, partilhamos esse gesto insigne de um cravo atirado para a companhia eterna de Mário Cal Brandão.
O símbolo da liberdade que Mário Cal Brandão representou permanecerá connosco.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Nuno Abecasis.

O Sr. Nuno Abecasis (CDS-PP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Quando os anos vão passando, vai-se adquirindo alguns privilégios, e um deles, que não é motivo de alegria, é o de nos referirmos a figuras com quem convivemos nesta Assembleia. É o caso de Mário Cal Brandão que, ao longo de várias legislaturas, aqui foi também meu companheiro de Parlamento e de quem recebi as maiores atenções. Tive ocasião de observar e apreciar a finura do seu trato e a convicção das suas ideias. É isso que hoje recordamos e homenageamos nesta Assembleia, aproveitando a ocasião para apresentar à sua mulher, também ela Deputada durante longos anos neste Parlamento, os nossos profundos sentimentos de saudade e a nossa lembrança feliz de um homem que honrou esta Casa.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Lino de Carvalho.

O Sr. Lino de Carvalho (PCP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Subscrevemos e associamo-nos, obviamente, a este voto de homenagem à memória de Mário Cal Brandão, em solidariedade com a sua esposa e, no fundo, com todos os socialistas, a cuja família pertenceu.
Mário Cal Brandão - o resistente, o antifascista e o democrata -, apesar de divergências de percurso, uniu-nos a todos nos valores da liberdade, da democracia e da solidariedade.
Por isso, nesta hora, juntamos também a nossa voz a esta homenagem sentida à memória de uma figura que desapareceu do nosso país.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra a Sr.ª Deputada Isabel Castro.

A Sr.ª Isabel Castro (Os Verdes): - Sr. Presidente, muito brevemente, para, em nome do Grupo Parlamentar de Os Verdes, dizer que nos associamos a este voto de pesar no sentido exacto em que a perda e o desaparecimento de Cal Brandão é o desaparecimento de alguém que agiu pela liberdade, que foi claramente um lutador contra o regime fascista. É, portanto, alguém que tem a ver com a nossa história recente e que, por isso mesmo, nesta exacta medida, devemos aqui saudar.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Barbosa de Melo.

O Sr. Barbosa de Melo (PSD): - Sr. Presidente e Srs. Deputados, a bancada do Partido Social Democrata associa-se a toda a expressão de pesar que vem narrada no voto que V. Ex.ª, Sr. Presidente, leu à Câmara.
Estamos, na verdade, a homenagear um homem que é, em nosso juízo, um grande exemplo de civismo e de probidade moral e política, cuja biografia está aí plena e claramente retratada.
O nome de família Cal Brandão chegou à minha memória, muito antiga, não através de Mário Cal Brandão mas de Carlos Brandão e de um livrinho que li há muitos anos, Funo ou Guerra em Timor. Um livro onde se narra a saga dos deportados políticos que se uniram e animaram os timorenses na luta contra a ocupação do território de Timor Leste pelas forças japonesas, nos anos 40. É essa a família, é essa a saga de onde vem Mário Cal Brandão.
Ao evocar o irmão, evoco alguém que me prendeu muito fundo na minha juventude, mas quero, aqui, nesta Câmara, referir Mário Cal Brandão por si mesmo.

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