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18 DE JUNHO DE 1999 3411

O Sr. João Amaral (PCP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Apresentamos este voto de pesar pelo falecimento do Professor Armando de Castro com a convicção de que, com a sua morte, o País perdeu um dos seus mais dedicados investigadores nas áreas da História Económica, da Teoria do Conhecimento e da Economia pura e aplicada.
Creio que muitas gerações, nomeadamente dos que aqui se sentam, puderam ler em Armando de Castro muito do que foi a História Económica do nosso país e tomar com ele conhecimento da forma de abordar o estudo da História.
Conheci o Professor Armando de Castro em 1965, num ciclo de conferências organizado pela Universidade chamado Perspectivas do Século XIX. E recordo que essas conferências, produzidas por alguns dos mais conhecidos historiadores da altura, foram apaixonadas intervenções em tomo do País e da sua História. Recordo ainda que a intervenção do Professor Armando de Castro se distinguiu das outras, precisamente por ele não ter feito qualquer transigência mas dado uma autêntica lição, com todo o cuidado e com todo o empenhamento, sobre o tema que lhe era proposto, tendo, durante todo o tempo da intervenção, procurado explicar-nos o que era a nossa História Económica do século XIX.
A meu ver, o que mais marcou o Professor Armando de Castro é que ele não se limitou a reunir conhecimentos, ele proeurou sempre questionar as conclusões que tirava e os métodos que utilizava para tirar essas conclusões. Ele interrogava-se permanentemente sobre o sentido da ciência e teorizava em torno da forma como o conhecimento era elaborado.
Armando de Castro, como sabem, era também irmão de Raúl de Castro, que se sentou muito tempo nas bancadas desta Assembleia, designadamente na do Grupo Parlamentar do PCP, representando a Intervenção Democrática.
Armando de Castro foi também um militante da causa democrática, militando no PCP desde 1935, e foi um activo opositor do regime, pagando, por isso, a factura de não poder ser professor até ao 25 de Abril de 1974. Só nessa altura é que pôde ascender à docência naquela que seria naturalmente a sua Faculdade, a Faculdade de Economia da Universidade do Porto, de que foi Director, até se jubilar em 1989.
Creio que Armando de Castro, pela sua personalidade, pelas suas convicções e pelas suas qualidades de investigador e de docente, merece esta homenagem da Assembleia da República na hora do seu falecimento.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Reis Leite.

O Sr. Reis Leite (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Fui apanhado de surpresa com a notícia da morte do Professor Armando de Castro e, mais ainda, quando, ao entrar no Plenário, me pediram que dissesse algumas palavras em sua memória.
O Professor Armando de Castro tem, acima de tudo, uma faceta que me parece extraordinária: é que, tendo sido impedido pelo regime anterior, regime ditatorial e fascista, de ser professor na Universidade portuguesa, foi uma das suas personalidades mais fortes e mais presentes. De facto, no curso de História, em Lisboa, os livros do Professor Armando de Castro eram proibidos, mas constituíam a base da informação de toda a História Económica de Portugal no século XIX, que, como sabem, não era matéria que fosse muito do gosto dos professores então admitidos na Universidade portuguesa.
Porém, julgo que uma Assembleia política, como a nossa, deve realçar, antes de mais, o resistente democrata ao regime anterior. A meu ver, é essa faceta que esta Assembleia devia realçar.
Só tenho a lamentar que, se foi possível ao actual regime democrático compensar o Professor Armando de Castro, fazendo-o, em 1974, Professor da Universidade - e com isso, a Universidade engrandeceu -, este lutador pela democracia morra sem que o Estado democrático o tenha reconhecido publicamente, distinguindo-o, por exemplo, com a Grã Cruz da Ordem da Liberdade, que lhe teria assentado muito bem, aquando de uma comemoração, por exemplo, do 25 de Abril.
Julgo que todos devemos curvar-nos perante a grandeza de um homem notável em várias frentes: um grande intelectual, um grande Professor e um grande democrata.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Augusto Boucinha.

O Sr. Augusto Boucinha (CDS-PP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Também o Partido Popular não pode deixar de associar-se a este voto de pesar pelo falecimento do Professor Armando de Castro.
Tomei conhecimento, há momentos, do falecimento do Professor Armando de Castro e confesso-vos que fui mesmo apanhado de surpresa. Digo-vos isto, porque o Professor Armando de Castro foi meu professor na Faculdade de Economia da Universidade do Porto. Nutria por ele uma grande amizade, partilhei vários momentos da minha vida académica com o seu filho, também chamado Armando, e pude ter algum contacto com o Professor Armando de Castro.
Confesso-vos que estou triste. Penso que Portugal perdeu um grande homem, um grande historiador, um grande Professor, por quem, repito, nutria - e penso que o País - uma grande amizade.
Julgo que esta homenagem prestada pela Assembleia da República ao Professor Armando de Castro não é mais do que o reconhecimento público da grande obra que ele deixou a Portugal.
À sua família o Partido Popular e eu próprio endereçamos sentidas condolências.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Isabel Castro.

A Sr.ª Isabel Castro (Os Verdes): - Sr. Presidente, Sr.ªs e Srs. Deputados: Conheci o Professor Armando de Castro tão-só pelos livros, mas julgo que conhecer a História Política e a História de Portugal era também compreender o que era a organização económica deste País. Ora, é esse património de conhecimento que o Professor Armando de Castro deixou. A compreensão de que a História Económica e a economia têm uma componente ética e moral é algo que, a meu ver, é importante reter.
No momento do seu desaparecimento, julgo que é a compreensão desse facto que hoje importa assinalar e quero reter.
Desse ponto de vista, Os Verdes subscrevem inteiramente o espírito deste voto e endereçam à sua família os mais sentidos pêsames.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Joel Hasse Ferreira.

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