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3412 I SÉRIE-NÚMERO 95

O Sr. Joel Hasse Ferreira (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Julgo importante sublinhar, no seguimento do que já foi dito, que com Armando de Castro fez-se também universidade fora da Universidade. Nos tempos da ditadura, não foi possível que muitos dos mais brilhantes intelectuais, professores e investigadores ensinassem na Universidade. Ora, Armando de Castro foi um desses; só que foi daqueles que mais se esforçou e que mais trabalho universitário produziu, sem ter tido acesso à própria Universidade. Efectivamente, os seus trabalhos nos domínios da História Económica e da evolução económica de Portugal demonstraram uma compreensão, diria mesmo, um amor pelo País, e um domínio dos factos económicos que fazem com que a sua obra, nesta área, seja uma obra incontornável.
Por outro lado, foi um intelectual democrático, que lutou pela liberdade, que nunca escondeu as suas opiniões e que se manifestou nas mais variadas circunstâncias pela defesa da democracia, conciliando essas tomadas oportunas de posição com um trabalho extremamente denso, extenso e profundo, que foi produzindo ao longo de várias décadas.
Penso que importa meditarmos, simultaneamente, sobre o trabalho que uma personalidade como Armando de Castro produziu, nomeadamente acerca da História Económica de Portugal, e sobre o que foi um regime cuja cultura ainda condiciona algumas atitudes de algumas pessoas em Portugal, esse rosto do fascismo que impediu e dificultou o desenvolvimento cultural, científico e histórico durante algumas décadas.
Neste sentido, além de homenagear Armando de Castro, à família, ao Partido Comunista Português e à Universidade do Porto apresentamos os nossos sentimentos e lamentamos a morte desse intelectual democrático e desse investigador de invulgar craveira que foi Armando de Castro.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, também eu conheci pessoalmente Armando de Castro e, após tê-lo conhecido, fiquei a admirá-lo para sempre. Apareceu-me em Moçambique e vi nele o que já sabia que era: um resistente intemerato, mas um homem de uma extrema modéstia, nota que ainda não foi aqui referida. Nunca vi pessoa mais modesta e ao mesmo tempo mais sábia do que ele na matéria de que era especialista.
Apareceu-me para eu lhe conseguir uma autorização para visitar uma mina da África do Sul, onde laboravam trabalhadores moçambicanos, porque queria conhecer a realidade sobre que iria pronunciar-se. Com alguma dificuldade, como calculam, lá consegui obter a autorização e ele visitou as minas da África do Sul, sobre as quais veio depois a escrever longamente.
Foi, de facto, um investigador notável, de todas as horas. Creio que ele viveu para a investigação científica, nomeadamente na sua vertente económica, e, se mais tempo vivesse, mais volumes teria publicado da obra notável que estava a produzir sobre a Teoria do Conhecimento.
Junto também as minhas palavras e o meu testemunho ao vosso pesar e endereço à família enlutada, ao Partido Comunista Português e à Universidade do Porto os meus muito sinceros pêsames.
Srs. Deputados, vamos, então, proceder à votação do voto n.º 156/VII - De pesar pelo falecimento do Professor Armando de Castro, apresentado pelo PCP.
Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.
Srs. Deputados, vamos guardar um respeitoso minuto de silêncio.
A Câmara guardou, de pé, um minuto de silêncio.
Srs. Deputados, o voto vai ser enviado às entidades a quem apresentámos os nossos pêsames.
Vamos agora passar à interpelação n.º 22/VII - Centrada na questão da paralisia das obras públicas (PSD).
Para introduzir a interpelação, tem a palavra o Sr. Deputado Ferreira do Amaral.

O Sr. Ferreira do Amaral (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: O primeiro facto curioso deste debate é a grande quantidade de membros do Governo presentes ao lado do Ministro que é alvo essencial desta interpelação.
Deduzo que esta presença maciça de governantes se destina a exprimir solidariedade ao Ministro João Cravinho.

O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): - Bem precisa!

O Orador: - Parece óbvio! Como óbvio parece que só se exprime solidariedade a quem está fraco, não a quem está forte.

Aplausos do PSD.

E, de facto, o Ministro João Cravinho, que, aliás, já é conhecido pelo «Ministro zero quilómetros», está fraco! Não porque alguns o queiram politicamente assassinar, mas porque a actuação desastrada o tem levado, de facto, ao suicídio político.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Uma primeira conclusão pode, pois, tirar-se: podem vir aqui os Ministros todos apoiar o Ministro João Cravinho - mais do que uma festa acaba por parecer um velório ...

Risos do PSD.

... porque a verdade é que, agora, não conseguem a obra, as estradas, o investimento e o caminho-de-ferro que prometeram e não fizeram durante estes quatro anos.

Aplausos do PSD.

Protestos do PS.

Sr. Presidente, Srs. Deputados: Entrámos nas semanas finais da presente legislatura. É tempo de balanço do que foi a acção deste Governo nestes quatro anos.
Talvez nenhum outro sector seja mais propício a fazer esse balanço do que o das obras públicas. Nele se espelha, com clareza indisfarçável, a imagem daquilo que o Governo foi capaz de realizar durante quatro anos.
Noutros sectores, com alguns artifícios, com retórica abundante, com propaganda maciça e com ar de vítima, é, porventura, mais fácil enganar, dizer que se fez quando, na realidade, não se fez nada.
A opinião pública pode ser iludida durante algum tempo, acreditando que está a melhorar aquilo que na realidade se mantém como estava ou está até a piorar. Mas as obras públicas não se prestam bem a esse jogo da cabra-

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