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3454 I SÉRIE-NÚMERO 95

Mas não era assim por se reconhecer que as realidades são complexas; era porque se tornava útil o princípio do impedimento progressivo.
Só se faria alguma coisa quando não podia deixar de fazer-se. Decidir seria, e é, um contratempo, um risco, um fardo. E era como se o Ministro do Planeamento se opusesse permanentemente ao Ministro das Obras Públicas; era como se o Ministro das Obras Públicas quisesse e o Ministro do Planeamento obstasse, sendo ambos a mesma e única pessoa. Ou, numa interpretação mais benévola e menos conflitual, era como se pudesse colocar uma tabuleta à porta do escritório do Ministro, com os dizeres: «não incomodem que estou a planear».

Risos do PSD.

O País, esse, parou durante quatro anos! Entretanto, o dinheiro que havia para investir em obras esgotava-se noutras aplicações. E os portugueses, a quem as obras se destinavam e destinam, entretinham-se a contar os anos que faltavam para o grande acontecimento.
Imagine-se que por cada obra a fazer passavam a existir quatro anúncios, três aberturas de concurso, várias anulações e outras tantas datas de lançamento...
Veja-se o que aconteceu com o comboio na ponte, o que aconteceu com os IP e os IC, o que aconteceu com as auto-estradas, o que aconteceu com o aeroporto em lugar ignoto ou o que aconteceu com os comboios pendulares.
É que, havendo várias formas de governar, esta é uma das mais curiosas e peculiares. Há aqui um conflito inultrapassável entre o seu pensamento e a boa norma de governo. É que não acreditamos que se governe por anúncios, por enganos, por artifícios, por adiamentos, mas V. Ex.ª fá-lo.
Para um estilo de governar como o do Governo a que pertence, talvez seja bom fugir a compromissos fixos, deixar em aberto as oportunidades todas. Pode mesmo repousar-se na política da ocupação da comunicação social, usando os seus recursos e a imaginação associada para multiplicar as obras que não existem e as inaugurações que tardam.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Pode dar-se a ideia, fazendo a reconversão apressada de um Primeiro-Ministro em maquinista, que os comboios já passam na ponte sobre o Tejo.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Pode dar-se a ideia que o metro de superfície já conseguiu vencer o burro em Odivelas.

Risos do PSD.

Pode dar-se a ideia que a TAP já foi privatizada, quando os trabalhadores sofrem a angústia de ver destruída a sua companhia e os portugueses antecipam a sua queda.
Podem manter-se em funções administrações incompetentes só por mero calculismo ou utilidade políticas.
Podem nomear-se, em pouco tempo, em colecção, três presidentes para a Junta Autónoma das Estradas.
Em suma, pode fazer-se isso tudo e deixar o País em transe; só que quem assim procede destrói o factor principal que sustenta a acção governativa.
Há ministros, Sr. Ministro João Cravinho, que se suicidam depois, e só depois, de assassinar a sua credibilidade. Conheço um! É que, além do mais, há ministros que se tornam mais conhecidos pelas controvérsias com os seus colegas, pelos conflitos com os autarcas do mesmo partido, pelas querelas com presidentes dos institutos públicos, pela iminência dos golpes e contra-golpes. Há ministros que se reconvertem em personagens de tragédia.
Impressionou-me o último artigo que V. Ex.ª fez publicar na revista Visão. Cito-o porque é um documento e um testemunho - aliás, não me recordo de ver um escrito com um tom tão lamuriento e depressivo. Dele se soltam frases que ficam na memória de todos como um amargo testamento político. Permita-me que cite excertos dos trechos finais: «Deixo muitas inaugurações à vista, na certeza de que esses caminhos já abertos darão a outros grandes alegrias, tempo e disponibilidade para corrigir o que deixo errado, reorientar o que deixo desviado...»
Descontando o manifesto exagero do que V. Ex.ª diz deixar à vista e ninguém vê, é justo salientar que V. Ex.ª sente ser muito o que deixa errado e desviado é verdade.

Aplausos do PSD.

Foi talvez o momento de maior sinceridade e franqueza de que V. Ex.ª foi capaz.

O Sr. Ministro dos Assuntos Parlamentares: - Repita lá isso que não ouvimos!

O Orador: - Eu depois repito tudo, a pedido do Sr. Ministro dos Assuntos Parlamentares.

Risos do PSD.

Tenho a impressão que o País já tinha notado isso e que não eram apenas os malfadados partidos da oposição que o salientavam. Aliás, é curiosa a sua maneira de anular as críticas. Se elas provêm da oposição, correspondem a meros intuitos de mal-dizer; se elas provêm do coro dos fazedores de opinião, inserem-se numa campanha.
Confesse, Sr. Ministro, que V. Ex.ª se sente encostado à parede. Ninguém, nem os mais denodados militantes do seu partido, tem grande ideia da sua prestação.
Se se fizer uma apreciação descomprometida à sua herança, conclui-se que V. Ex.ª não deixa obra feita; deixa alguns vagos conceitos estratégicos, quando muito propostas de execução, experiências incertas e a confusão lançada.
As jóias da sua coroa, as SCUT, quando estiverem e se estiverem a funcionar em pleno (daqui a muitos anos), farão com que o Estado assuma um encargo de 70 a 100 milhões de contos, a preços actuais. O receio é, como o povo diz, que venha tudo isto a ser pago «com língua de palmo»... E, mesmo neste ambiente, o Sr. Ministro tem a audácia de anunciar o que se irá investir nos próximos anos, como se a sua sombra tutelar permanecesse no Ministério e lhe garantisse a perenidade, como se o novo Ministro, qualquer que ele seja, qualquer que seja o partido a que pertença, deva ser tributário das suas opções, como se aos seus sucessores não deixasse liberdade para se determinar no que entendam dever ou não fazer ou na escolha das prioridades elegíveis.
É impressionante Sr. Ministro! O facto é que os números mentem mesmo, principalmente quando são manipulados, quando não pode haver certeza nas escolhas,

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