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1143 | I Série - Número 029 | 20 de Dezembro de 2001

 

Srs. Deputados, comemorando-se hoje o centenário do nascimento da grande figura cultural e literária, sobretudo, que foi Vitorino Nemésio, o Sr. Deputado Mota Amaral pediu a palavra para uma breve intervenção, ao que, suponho, ninguém se opõe.
Assim, tem a palavra, Sr. Deputado.

O Sr. Mota Amaral (PSD): - Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Se bem nos lembramos todos, hoje ocorre o centenário do nascimento de Vitorino Nemésio. Não preparei uma intervenção sobre a matéria por pensar que ela seria feita por algum colega com especiais qualificações neste domínio, pois haverá provavelmente entre nós estudiosos de Vitorino Nemésio. Mas, perante esta falta, julgo que seria extremamente injusto que na Casa da Representação Nacional não houvesse uma referência a um acontecimento tão faustoso.
Vitorino Nemésio é, sem dúvida, um dos grandes poetas da língua portuguesa. Escreveu não só no português de Portugal como também no português do Brasil, e com que brilho, tendo também poetado em espanhol e em francês. Serão poucos os casos desta versatilidade registados na história da literatura portuguesa e talvez até mundial. Além disso, Mau Tempo no Canal é sem dúvida um dos grandes romances da língua portuguesa do século XX.
É um motivo de honra para os Açores ter sido o berço de Vitorino Nemésio e, através da sua arte, ver a nossa condição insular transfigurada à própria metáfora da condição humana.
Nesta breve evocação de Vitorino Nemésio, não posso deixar também de recordar o papel de professor e verdadeiro mestre da cultura portuguesa e universal que durante tantos anos Nemésio exerceu, bem como o seu trabalho de comunicador, que, ainda nos alvores da televisão, lhe asseguraram uma lembrança indelével na memória de todos os que puderam assistir a estes programas verdadeiramente inesquecíveis, «se bem me lembro…».
É por isso, Sr. Presidente e Sr.as e Srs. Deputados, que gostaria que ficasse registado nas nossas Actas uma referência modesta, mas bem sentida, a uma data que fica escrita a letras de ouro na história da literatura portuguesa.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: - Também para uma breve intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Rosado Fernandes.

O Sr. Rosado Fernandes (CDS-PP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Quero agradecer ao Deputado João Bosco Mota Amaral por ter lembrado o meu mestre e amigo Vitorino Nemésio.
Eu ter-me-ia certamente esquecido de falar aqui deste assunto, pois não estou habituado a muitas das cortesias desta Casa, mas, como já tive ocasião de ir à Faculdade de Letras fazer uma intervenção sobre Nemésio, gostaria de dizer que fui aluno dele.
Nemésio não era um homem que conseguisse dar uma aula para apontamentos ou para sebenta, divagava, tinha um conhecimento cultural bastante largo, dado sobretudo pela França, e um grande amor à sua ilha. Viveu numa ilha que não era bem os Açores, a ilha era ele mesmo, porque não há dúvida alguma de que é de si próprio que está falar quando conta, narra, descreve com grande minúcia muitos pormenores. Identifica-se com a ilha.
Vitorino Nemésio teve um percurso interessante. Ao ensinar em Montpellier, publicou um livro de versos surrealista chamado La Voyelle Promise. Depois, foi andando por várias águas e, como ele dizia, não era marinheiro, mas, como qualquer ilhéu, era embarcadiço, pelo que, quando o frequentávamos, viajávamos… Eu frequentei-o - como se diz em francês - je l' ai frequenté!…

Risos.

E isto até por um motivo bem diferente, porque, na altura em que ele andava a escrever O Cavalo Encantado, quis desencantar um cavalo. Eu dizia-lhe: «Dr. Nemésio, olhe que o cavalo é uma peça que não custa muito caro, mas, depois, alimentá-lo… A menos que queira fazer dele o cavalo do inglês, ao qual o inglês foi experimentando cortar na ração até que ele morreu!». E acabou por não comprar o cavalo, que ficou na sua imaginação, no seu imaginário. O mesmo aconteceu com a viola. Ele aprendeu música, tocava pessimamente viola, mas estava entusiasmado com ela!
Gostaria de vos recordar que em Janeiro de 1976, era Nemésio director do jornal O Dia, publicou um editorial em verso intitulado Poema a Fernando Lopes Graça.
Fernando Lopes Graça tinha cortado relações com ele, junto à Sá da Costa, no Chiado. E descreve-o: «O Graça todo fusas de fogo na alta pinha»! É um dos melhores poemas satíricos que conheço, o qual, julgo, ainda não está publicado, nem na colectânea da Imprensa Nacional, pois em linguagem musical descreve o contratempo que tinha tido com o seu amigo. A certa altura, refere no verso que o Graça está voltado para ele, meio comovido: «ele talvez sobrestante e eu pentagramado», o que contrasta com o Graça «zangado» que Nemésio «abequadrara», sendo que, em música, abequadrar significa anular um determinado tipo de notas. E depois refere que Lopes Graça se queixara: «esta porcaria da política em que andamos todos metidos», e acrescenta que lhe escrevera uma carta dizendo que «a coisa era cuja» e que «a achou ainda mais suja»!
Desta forma, em verso, descreve o poeta uma situação política e de amizade em termos musicais, porque considerava Graça um «engenho harmónico dissonante»!
É esta a homenagem que lhe presto. Não esperava que os Açores tivessem produzido coisa tão boa!

Risos.

Isto é só para me meter com o Dr. Mota Amaral!
Mas, de facto, os senhores podem orgulhar-se: produziram talvez (não sei, não gosto de dizer… não sou nem do Sporting nem do Benfica, aqui não se trata de clubes) o maior escritor do século passado e um homem absolutamente surpreendente e maravilhoso!

Aplausos do CDS-PP, do PSD e de Deputados do PS.

A Sr.ª Maria Celeste Cardona (CDS-PP): - Notável!

O Sr. Presidente: - Também para uma breve intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Medeiros Ferreira.

O Sr. Medeiros Ferreira (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Honrar a memória de um homem como Vitorino Nemésio é, de certa maneira, fazer uma reflexão sobre a cultura portuguesa no meio do Atlântico e de há muito tempo que eu próprio tenho a noção, que Vitorino Nemésio muito tem contribuído para alicerçar, de que a

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