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0155 | I Série - Número 005 | 26 de Abril de 2002

 

É aos nossos irmãos timorenses que felicitamos pela escolha que souberam fazer e pela demonstração inequívoca de que desejam justiça e garantias de que os seus direitos estejam entregues em mãos que, como as suas, já demonstraram vontade inabalável e capacidade de encaminhar Timor para o futuro que merece.
Conclui-se mais uma etapa na estruturação da vida democrática do povo timorense.
Um dos pilares mais importantes para esta estruturação é sem dúvida o Comandante Kay Rala Xanana Gusmão, o homem eleito como primeiro Presidente da República de Timor Loro Sae, país livre e independente.
Saudamos a eleição deste resistente e combatente pela liberdade, e estamos convencidos de que o Presidente Kay Rala Xanana Gusmão saberá certamente honrar o nome do heróico povo timorense indo ao encontro dos seus anseios, com os quais esteve sempre em comunhão durante os longos anos de ocupação indonésia.
Estamos convencidos de que o povo timorense saberá, uma vez mais, demonstrar a sua profunda vontade de construir o país com base nos princípios essenciais em que se alicerça a vida democrática, com total respeito pela livre escolha do povo, escolha essa determinante para o cimentar da democracia em Timor Loro Sae
Com total respeito pela opção do povo timorense, determinante para o reforço da democracia, fazemos um apelo a Portugal e a toda a comunidade internacional para continuar a sua actuação com uma política de cooperação e, obviamente, de total respeito pela escolha dos timorenses.
No limiar da independência de Timor Loro Sae, consideramos que as eleições presidenciais constituem, em primeiro lugar, uma vitória inequívoca dos timorenses de que Portugal não está alheio, nomeadamente através do esforço da sua diplomacia e da sua comunicação social, que durante estas duas décadas lutaram irmanados com o povo.
Reiteramos os votos dos maiores sucessos e de um futuro de prosperidade em liberdade e democracia. Os sucessos de um irmão representam simplesmente o sucesso e as aspirações de toda uma nação, a nação de Timor Loro Sae.

Aplausos do PSD, do PS e do CDS-PP.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Almeida Santos.

O Sr. Almeida Santos (PS): - Sr. Presidente, deixe-me que mais uma vez o felicite pela sua eleição para o alto cargo de Presidente da Assembleia da República e lhe deseje as maiores felicidades no exercício do cargo.
Uma saudação muito cordial também a todos os Srs. Deputados.
Creio que tenho de agradecer ao meu grupo parlamentar, nomeadamente à sua direcção, a honra que me concedeu de poder usar da palavra em sua representação a propósito deste voto de congratulação.
Nada me podia dar maior honra e maior prazer porque se alguém viveu intensamente o drama do povo de Timor até ao seu êxito, que se aproxima e se anuncia, se me permitirem, fui eu próprio.
Sofri quando era de sofrer, exaltei-me quando foi justificada a exaltação, sinto-me agora feliz quando a felicidade é possível.
Como calculam, o meu espólio de heróis já vai ficando escasso. À medida que fui avançando em anos, convenci-me de que o heroísmo individual ou tem atrás de si um heroísmo colectivo ou não existe, sobretudo aquele velho heroísmo camiliano, feito de força, de triunfos militares, de coragem física, de poder, esse heroísmo nada me diz.
Xanana Gusmão é a antítese de tudo isso: se é herói, é um herói modesto, é um herói que estava disposto a renunciar àquilo que agora lhe foi oferecido, este triunfo que acaba de ter.
Foi um líder quase ignoto enquanto que o povo de Timor lutou nas montanhas, que depois foi menos ignoto, mas não menos eficaz, quando foi feito prisioneiro pelos inimigos vizinhos; mas nunca vi Xanana Gusmão «pôr-se em bicos de pés» com arrogância, antes sempre ocultando-se por detrás da sua modéstia.
Nisso ele é meu herói.
Mas o meu verdadeiro herói, o tal colectivo que está sempre por detrás dos heróis individuais, é o próprio povo de Timor.
O povo de Timor é um povo admirável. Conheço os seus defeitos, que também os tem, mas tem imensas e enormes virtudes que actualmente escasseiam em muitos povos do mundo de hoje. É um povo com uma coragem indómita, com uma capacidade de sofrimento sem limite e, sobretudo, com um amor à liberdade e um amor à independência do seu país, que resistiu a todos os ultrajes e a todos os sacrifícios, e também, se me permitem, um amor a Portugal que é quase inexplicável.
Logo a partir do primeiro momento que visitei Timor, em 1974, não encontrei explicação para a dedicação que Timor tinha em relação a Portugal, e que manteve estes anos todos, porque durante os séculos em que convivemos com eles, verdadeiramente, pouco fizemos pelo povo de Timor para dizer que fizemos alguma coisa. Mas fizemos algo de muito importante: foi permitir-lhes que fossem eles próprios. Talvez esteja aí a explicação do amor e da dedicação de Timor a Portugal.
Todavia, Portugal paga bem porque não só acompanhou a saga de sofrimento do povo de Timor durante todos estes anos, como acompanhou o entusiasmo dos momentos em que a libertação começou a ser uma expectativa realizada.
Mais: portámo-nos bem como povo e como Parlamento. O Parlamento português portou-se excepcionalmente bem em relação ao povo de Timor e ao seu drama.
Por isso, quero, em nome do meu grupo parlamentar, afirmar alto e bom som que não nos limitamos a votar este voto favoravelmente, que penso que será votado por unanimidade, mas que o fazemos com paixão, com entusiasmo e com amor pela causa do povo de Timor!

O Sr. José Magalhães (PS): - Muito bem!

O Orador: - Sem precisar de ocupar todo o tempo que me foi dispensado, devo ainda dizer aos Srs. Deputados que Timor foi vítima de muitas clivagens e isso pode fazer recear que, a partir deste momento, a unidade de Timor, agora com uma democracia institucionalizada, possa não ser tão fácil quanto desejaríamos. Mas a verdade é que, se alguém pode garantir hoje a unidade do povo de Timor em defesa da sua liberdade, da sua democracia e dos valores por que se pauta (fundamentalmente a defesa dos direitos humanos), é Xanana Gusmão.

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