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0161 | I Série - Número 005 | 26 de Abril de 2002

 

Queria também enfatizar uma sua faceta já aqui recordada e de todos conhecida, porque, para além de um homem culto, bom, bem formado, que tive o gosto de conhecer bem, Armando Cortez era também, e sobretudo, um homem generoso e solidário. A Casa do Artista foi um dos seus grandes sonhos e a materialização desse sonho foi uma das suas tarefas permanentes ao longo de vários anos.
Por isso, estas razões aqui sinteticamente aduzidas são as suficientes para mostrar e sublinhar perante a Assembleia da República, como representante do povo português, o quanto a cultura portuguesa e o País ficaram mais pobres com o desaparecimento de Armando Cortez.
Deste modo, o Governo, juntamente com os Srs. Deputados, quer associar-se a este momento de homenagem, de reconhecimento e de solidariedade para com a família enlutada e, de uma forma particular, para com a sua mulher de muitos anos, a actriz Manuela Maria.

Aplausos do PSD, do PS, do CDS-PP e do BE.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, está encerrado o debate do voto n.º 5/IX, que votaremos em conjunto com aquele que iremos apreciar de seguida.
Srs. Deputados, o voto n.º 6/IX - De pesar pelo falecimento do embaixador Álvaro Guerra (Presidente da AR, PSD, PS, CDS-PP, PCP, BE e Os Verdes) é do seguinte teor: «O súbito falecimento do embaixador Álvaro Guerra enluta a diplomacia portuguesa e também as letras nacionais.
Antes de ter desempenhado, com seriedade e profissionalismo, muitas missões de representação no exterior, do Estado português, Álvaro Guerra era já um escritor de créditos firmados e as suas responsabilidades não o afastaram nunca do supremo gosto de escrever.
Na Índia, em Estrasburgo, na Suécia, Álvaro Guerra juntaria sempre os talentos de diplomata e de ficcionista; notável era também a sua arte de bem receber, de que as sucessivas delegações da Assembleia da República na Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa dão expressivo testemunho.
O compromisso na luta pela democracia e os direitos humanos marcou a sua vida inteira, concedendo-lhe mesmo o privilégio de intervir nos preparativos da Revolução do 25 de Abril.
Por isso, a Assembleia da República, na altura da morte do embaixador Álvaro Guerra, exprime o seu pesar e apresenta condolências à sua viúva, filhos e demais família.»
Tem a palavra a Sr.ª Deputada Teresa Patrício Gouveia.

A Sr.ª Teresa Patrício Gouveia (PSD): - Sr. Presidente, Sr. Ministro dos Assuntos Parlamentares, Srs. Deputados: Também o PSD se quer associar a este voto de pesar pela morte de Álvaro Guerra.
Álvaro Guerra deixou-nos uma obra literária em que retratou com vivacidade e intensidade, a partir de um ponto de observação que era a sua terra ribatejana, vários momentos da sociedade portuguesa. A intensidade da sua obra e desse retrato resulta, sem dúvida, da intensidade com que o próprio Álvaro Guerra viveu o seu tempo, o seu país e os valores em que acreditou.
Álvaro Guerra lutou pela liberdade em Portugal e sofreu as dificuldades dessa luta, que teve um desfecho feliz por ele presenciado e vivido com alegria. A sua acção cívica esteve também intimamente ligada à sua actividade de jornalista na rádio e na televisão, onde também voltou a lutar pela liberdade em Portugal.
Álvaro Guerra, que, para usar palavras suas, era «mais escritor do que outra coisa qualquer», distinguiu-se também como diplomata, uma profissão que exerceu já na maturidade da sua vida literária e cívica. Era um caso não raro de associação entre o escritor e o diplomata, de que temos exemplos bem felizes no mundo da língua portuguesa, como Vinicius, Guimarães Rosa ou João Cabral de Melo Neto. Os que conheceram Álvaro Guerra lembram-se, com certeza, da qualidade do desempenho da sua profissão nestes cargos que ocupou, mas lembram-se, de uma forma mais sentida, da enorme afabilidade e da hospitalidade com que foram por ele recebidos.
Conheci o Álvaro Guerra há quase 30 anos e o que sobretudo retenho, percorrendo as recordações desses anos, é a simplicidade e autenticidade da sua pessoa, a sua qualidade humana inalterada ao longo das muitas contingências e vicissitudes da sua vida. Lembro, de novo, as suas palavras, dizendo que «quando o progresso parece melhorar tudo menos o Homem», é justamente no homem bom que penso agora e que quero recordar aqui, hoje.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Medeiros Ferreira.

O Sr. Medeiros Ferreira (PS): - Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A notícia da morte de Álvaro Guerra foi recebida com pesar e surpresa por todos os seus amigos, que eram muitos. Até na doença Álvaro Guerra foi igual a si próprio, nunca com ela incomodando ninguém e querendo que ela fosse o mais privada possível. A sua morte tão precoce elimina da vida social em Portugal um cidadão que pautou todo o seu percurso pela cidadania activa, desde logo, como jornalista do jornal República.
Numa altura em que o principal combate era o combate pelas liberdades públicas, o combate contra a ditadura e o combate contra a censura, Álvaro Guerra foi um jornalista de causas. Aliás, Álvaro Guerra era um cidadão com causas!
Jornalista na República, foi ele que mereceu a confiança dos oficiais do Movimento das Forças Armadas, ainda na fase conspirativa, para servir de ligação entre a chamada sociedade civil e os militares, tendo, inclusivamente, preparado a redacção do jornal República relativo ao acontecimento que amanhã iremos celebrar nesta Casa. É pena que ele não esteja presente!
Lamento também, Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, que não esteja aqui Mário Mesquita, fundador do Partido Socialista, colega e camarada de Álvaro Guerra no jornal República, que tão bem traçou o seu retrato no jornal Público do passado domingo, peça que merece aqui ser salientada.
Mário Mesquita fala no «sorriso irónico» de Álvaro Guerra. O sorriso irónico de quem não quer ser cínico, mas de quem sonhou muito e de quem olhou para a democracia portuguesa como uma luta de si próprio, uma luta que teve lugar antes e depois do 25 de Abril. Porque, não podemos esquecer, Álvaro Guerra opôs-se à nova censura que se preparava (inclusive na RTP), tendo sido ele a dar o sinal de alerta para as novas censuras que se apresentavam para Portugal.

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