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3102 | I Série - Número 074 | 16 de Janeiro de 2003

 

pela profundidade, pelo brilho e pela dignidade que emprestava sempre ao debate político democrático.
João Amaral - já aqui foi dito e nunca é demais realçar - foi um grande parlamentar, um dos parlamentares mais brilhantes da democracia portuguesa. Aqui travei com ele, em muitas ocasiões, vários debates. Eu adorava debater, discutir, travar debates com João Amaral. Era um gosto. Mas apreciei sempre, sobremaneira, de um modo muito particular, a forma séria, coerente, corajosa, determinada e, ao mesmo tempo, elegante como ele travava os debates com os seus adversários.
De João Amaral bem se pode dizer, com toda a propriedade e sem qualquer exagero, que as suas intervenções nesta Casa prestigiavam a política e prestigiavam o Parlamento.
João Amaral foi, acima de tudo, um homem que viveu plenamente uma ideia de cidadania, com grande integridade, com grande coragem, com um enorme carácter. Merece, por isso, a nossa mais sincera e profunda homenagem.
E, por isso, queria, nesta ocasião, em nome do Governo, expressar aqui o lamento pelo desaparecimento de alguém que, tendo dado muito durante muitos anos a esta Casa e ao País, nos deixa a todos, todavia, uma sensação de vazio e a certeza de que ainda teria muito a dar a Portugal.
Permitam-me que, em meu nome, nesta ocasião muito digna, dê também o meu testemunho pessoal de dor pelo desaparecimento do Dr. João Amaral, endereçando à família enlutada, de uma forma particular à sua viúva e aos seus filhos, o abraço que eu e seguramente todos nós que aqui estamos gostaríamos de dar ao Dr. João Amaral e que infelizmente já não podemos dar.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Bernardino Soares.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: A Assembleia da República presta hoje uma justa homenagem a um homem e a um militante comunista que deu ao Parlamento talvez o melhor da sua vida.
O João Amaral foi, por excelência, um grande parlamentar - o que, aliás, todos aqui assinalaram -, que, através das suas indiscutíveis qualidades, capacidades e méritos, deu um destacado testemunho de ética, de serviço público, de generosidade na defesa dos interesses populares e na combativa afirmação de grandes causas democráticas que fazem parte do património e da maneira de ser e de estar do PCP, assim prestigiando a Assembleia da República e a acção política em democracia.
Recordamo-lo pela qualidade e rigor das suas intervenções, pela vivacidade que sempre pôs em todos os debates. Lembramos aquela fina e certeira ironia com que, não poucas vezes, desarmava os seus adversários de debate. Lembramos a dignidade com que, enquanto Vice-Presidente da Assembleia, dirigia os trabalhos parlamentares.
O Parlamento deve-lhe também um permanente empenhamento na sua dignificação, no respeito pelas suas competências e na valorização da discussão e do contraditório político.
Cultivou sempre, no exercício dos seus mandatos, a ligação profunda à sociedade e aos seus problemas, especialmente nos círculos que representou. Eleito por Lisboa e depois pelo Porto em várias legislaturas, o João Amaral conseguia a extraordinária proeza de ser ao mesmo tempo do Porto e de Lisboa, sem que ninguém, num lado ou noutro, se incomodasse com isso.
João Amaral destacou-se igualmente como autarca de Lisboa, tendo presidido, desde 1990, à sua Assembleia Municipal, com isenção e rigor reconhecidos, ainda ontem, por todos os quadrantes políticos.
Mas neste momento de tristeza lembramos igualmente o camarada e o militante comunista que travou connosco, nesta bancada, tantas e tantas batalhas políticas, que com o seu saber ajudou a construir a intervenção e as propostas do PCP e que aqui deixou laços de amizade e respeito. E são essas batalhas e esse percurso que mais guardamos da sua memória. Consideramos que o que melhor respeita a verdade, a história e os laços que se estabelecem entre os homens é não confundir nem o mérito e o reconhecimento da sua intervenção ao longo de quase quatro décadas nem as questões humanas com outras questões político-partidárias.
João Amaral pautou a sua vida por uma intensa intervenção cívica, cultural e política, desde a luta estudantil antifascista, antes do 25 de Abril, à importante intervenção no Ministério do Trabalho e na Secretaria de Estado da Estruturação Agrária em vários governos provisórios, sempre comprometido com as causas da justiça social, da liberdade, da democracia e do seu aprofundamento.
Neste momento de pesar e tristeza pelo desaparecimento prematuro do João Amaral, quero ainda expressar, também aqui, na Assembleia da República, em nome do Grupo Parlamentar do PCP, a nossa solidariedade para com a sua família.

O Sr. Presidente: - Sr. Ministro dos Assuntos Parlamentares, Sr.as e Srs. Deputados, também quero juntar as minhas palavras breves ao pesar que a Assembleia unanimemente exprime por ocasião da morte do nosso antigo Colega João Amaral.
Conheci-o no meu regresso ao Parlamento, em 1995, e ambos partilhámos as tarefas de vice-presidentes. Quero dar testemunho, corroborando o que já foi afirmado também, do grande empenho que ele sempre dedicou à sua tarefa e do seu compromisso vital com a democracia, com o engrandecimento e o prestígio do Parlamento.
Ao longo do nosso trabalho em conjunto, para mais tendo gabinetes vizinhos um do outro, desenvolvemos um diálogo estreito e uma sincera amizade. Muitas vezes, entrávamos pela porta dentro um do outro, sem cerimónias, até por pormenores como quando tínhamos de trocar correspondências que nos eram dirigidas a um e iam parar ao gabinete do outro, visto que tínhamos também em comum, além da nossa raiz açoriana - já que ele também era nascido nos Açores -, o primeiro e o último nome. Havia muita correspondência que se dirigia a um e ia parar à mão do outro.
Confirmámos, assim, uma bela amizade, que se estendeu aos seus familiares, sobretudo aos seus dois filhos, João e António, que com muita frequência aqui vinham almoçar com o pai, pelo que também convivíamos em conjunto.
A convite do mais novo de eles, António, fomos ambos a um colóquio na escola secundária que ele frequentava, perto do aeroporto, para apresentarmos as nossas visões sobre o 25 de Abril. Tenho pena de que esta nossa prestação não tivesse sido gravada, porque, com certeza, evidenciaria, entre os nossos pontos de vista divergentes, tantas e tantas convergências no que diz respeito às questões

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