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4295 | I Série - Número 102 | 21 de Março de 2003

 

Infante D. Henrique, o tenha sido também pelo Estado francês com a Ordem Nacional de Mérito de França.
Mulher de uma enorme polivalência, foi uma professora inesquecível, uma ensaísta e investigadora de fôlego e a companheira de toda a vida de um dos grandes poetas do século XX.
O Grupo Parlamentar do Partido Socialista acompanha de forma sentida o voto de pesar pelo falecimento de Andrée Cabbré Rocha e apresenta à família enlutada, e muito especialmente à sua filha, a académica e ensaísta Clara Cabbré Rocha, as suas condolências.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, vamos proceder à votação do voto de pesar n.º 46/IX.

Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.

Srs. Deputados, passamos ao voto n.º 47/IX - De pesar pela morte da escritora Maria Ondina Braga (PS).
Para apresentar o voto, tem a palavra o Sr. Deputado Luís Fagundes Duarte.

O Sr. Luís Fagundes Duarte (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados:
Maria Ondina Braga morreu do modo como sempre viveu: em silêncio. E se o cerrar dos seus olhos teve o eco de umas breves notícias nos órgãos de comunicação social, de seguida, como sempre, uma vez mais, foi o silêncio.
No entanto, poucos escritores portugueses, como Ondina Braga, tiveram a força e a arte de transformar as suas vidas e as suas experiências em páginas de grande literatura: livros como A China Fica ao Lado, que Eugénio Lisboa qualificou como "invulgarmente atraente, porque é feminino e porque é incómodo". Estátua de Sal, A Personagem, Nocturno em Macau, que foi Prémio Eça de Queirós, em 1991, ou Vidas Vencidas, seu último título publicado, em 1998, são disso exemplo.
Desde 1965, Maria Ondina Braga escreveu e publicou perto de uma vintena de livros - crónicas, biografias, contos, romances -, e verteu para português obras de escritores tão importantes como Graham Greene, Pearl Buck, Bertrand Russel, John Le Carré, Herbert Marcuse, Anaïs Nin ou Tzvetan Todorov.
E tudo isto ao mesmo tempo que foi cumprindo em si, e nos livros que ia escrevendo, a tão portuguesa condição de viajante do mundo - e mais dos mundos exóticos do Oriente -, na esteira de um Fernão Mendes Pinto, de um Wenceslau de Moraes, de um Camilo Pessanha, ou de um Ruy Cinatti.
Nascida em Braga a 13 de Janeiro de 1932, Maria Ondina estudou em Cambridge e em Paris, e foi professora de Português e Inglês em Luanda, em Goa (onde se encontrava no momento da ocupação do território pelas tropas indianas), em Macau e, finalmente, em Pequim, onde, entre muitas gentes e coisas, viveu a terrível experiência do "pequinaço" - espécie de depressão que atacava os ocidentais deslocados em Pequim -, que a fez regressar, triste e saudosa, definitivamente, a Portugal, e que daria origem àquele que é um dos seus mais belos e autênticos livros, Angústia em Pequim, publicado em 1984, por ela mesma apresentado como expressão do seu reconhecimento ao povo chinês.
Muito justamente, Maria Ondina Braga orgulhava-se de ter contribuído para o estabelecimento das relações culturais entre Portugal e a China: "não posso esquecer", escreveu ela em Angústia em Pequim, que os chineses "tenham julgado útil a presença de uma escritora como eu para reiniciar relações culturais entre os nossos dois países que, de tão distantes, quase um para o outro se tornaram fabulosos".
É verdade que Maria Ondina Braga não resistiu ao "pequinaço", e desconfio que com essa dor terá morrido; mas cabe-lhe a glória de, com livros como A China Fica ao Lado, Angústia em Pequim ou Nocturno em Macau, ter finalmente encerrado a longa viagem de descoberta da China há mais de quatro séculos encetada por Fernão Mendes Pinto.
A propósito do romance A Personagem, escreveu João Gaspar Simões: "Maria Ondina Braga é a primeira mulher a escrever, entre nós, depois de Irene Lisboa, e com arte de contar muito mais subtil na sua simplicidade quase genial, o livro que a solidão da mulher (...) estava a pedir, desde que em Portugal a mulher descobriu a sua própria solidão".
Foi nesta solidão que Maria Ondina Braga viveu, viajou, escreveu e ensinou. Morreu, na sua cidade natal, no dia 14 de Março de 2003, deixando-nos uma obra de alta valia literária e de grande dimensão humana, que os Portugueses - como a quase todos os escritores que lhes traduzem a alma -, praticamente desconhecem.
Nestes termos, a Assembleia da República ergue-se em comovida homenagem à memória de Maria Ondina Braga, escritora de silêncios, que com os seus livros contribuiu para restituir aos Portugueses o orgulho por um passado colectivo construído à escala do Mundo.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, vamos proceder à votação do voto de pesar n.º 47/IX.

Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, ergamo-nos para 1 minuto de homenagem às duas personalidades aqui evocadas.

A Câmara guardou, de pé, 1 minuto de silêncio.

Srs. Deputados, vamos votar, na generalidade, o projecto de lei n.º 189/IX - Assegura a defesa e a valorização da calçada de vidraço à portuguesa (PCP).

Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PSD e do CDS-PP, votos a favor do PCP e do BE e abstenções do PS e de Os Verdes.

Passamos, agora, à votação do projecto de resolução n.º 128/IX - Sobre a criação de um regime especial das pequenas explorações de pedreiras para calçada ou outros inertes (CDS-PP).

Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD e do CDS-PP e abstenções do PS, do PCP, do BE e de Os Verdes.

Srs. Deputados, vamos votar o projecto de resolução n.º 131/IX - Protecção das explorações de inertes para a calçada de vidraço à portuguesa (PSD).

Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD e do CDS-PP e abstenções do PS, do PCP, do BE e de Os Verdes.

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