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3935 | I Série - Número 072 | 02 de Abril de 2004

 

O Sr. Rodeia Machado (PC): - Eles só querem o petróleo!

O Orador: - Sabemos mais: sabemos que a guerra do Iraque não só não combateu com eficácia o terrorismo como prejudicou de forma dramática a luta contra o terrorismo. Quem o afirma, hoje mesmo, é o Prof. André Gonçalves Pereira num artigo publicado no jornal Público.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): - Exactamente!

O Orador: - Sabemos que nada melhorou nem no Iraque nem no Médio Oriente, onde a situação é mais instável que nunca e onde os direitos do povo palestiniano continuam a ser diária e brutalmente espezinhados.
Sr.ª Presidente e Srs. Deputados, perante tudo isto, o Governo português só teria uma saída decente: em primeiro lugar, reconhecer o erro; em segundo lugar, pedir desculpa aos portugueses; em terceiro lugar, anunciar a retirada do contingente da GNR que participa presentemente na ocupação do Iraque.

Vozes do PCP: - Muito bem!

O Orador: - Ao não fazê-lo, o Governo só demonstra que até agora nada aprendeu, nada, e que só aprenderá no dia em que os portugueses lhe ensinarem a lição que o povo espanhol obrigou, recentemente, os seus governantes a aprender.

Aplausos do PCP.

A Sr.ª Presidente (Leonor Beleza): - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Vítor Ramalho.

O Sr. Vítor Ramalho (PS): - Sr.ª Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: Não trago números no bolso. Menos mistificadores da realidade. Bem basta o retorno à sobrevivência que vivemos, na miragem de uma retoma que nunca virá. Venho reflectir sobre o que é mensurável, mas por onde passa tudo.
Não venho também falar sobre alianças que para o Governo parecem ser condicionadoras em absoluto da política externa. Quanto a alianças, e por ler a História, bastou-me o ultimato de 1890 por parte da nossa mais velha aliada.
Venho falar, repito, sobre aquilo que não é mensurável, mas por onde passa tudo: a nossa alma, forjada na dimensão de encontros seculares com povos e países e que nos ajeitou esta forma humanista e tolerante de estarmos, concedendo-nos uma cidadania mundial, apoiada numa fala comum partilhada por mais de 200 milhões de seres humanos que estão dispersos por múltiplos continentes. Hoje, nada se fala consequentemente dela. O que vemos são operações contabilísticas, a propósito de um défice. Só que este é um défice de alma, transformada agora em conversa da tanga, que não coloca os olhos no horizonte para ficarmos mais além, com um pouco mais de céu. Se isso fosse compreendido, outro galo cantaria.

Aplausos do PS.

A nossa grandeza, aquilo que nos projectou para o que somos, adormece, hoje, no baú deste nosso descontentamento, carregando-nos de enormes angústias. Não me conformo.
É por isso que também temos na política externa e nesta na cooperação aquilo que hoje temos. E o que temos é esta incapacidade de se ver que a internacionalização da nossa própria economia, quando se iniciou e cresceu, só se louvou nessa alma e jamais no défice. Com a Europa, bem entendido, mas espraiando-se, à luz do mundo de hoje, globalizado pela reconquista da memória dos caminhos que no passado cruzámos, adequando-nos hoje à realidade. É nesta concepção que deve assentar a nossa afirmação no mundo, incluindo a económica, porque esta é um instrumento de um processo e de um projecto e não um fim em si mesmo.
Diria que é ou deve ser um instrumento de um projecto que está para além dos números e não um fim de operações contabilísticas. Daí que, hoje, este nosso défice de alma se espalhe como uma mancha de óleo a todos os sectores, incluindo o próprio Orçamento. Não é por aí que lá iremos. E porque se espalha tem graves reflexos na política da cooperação. Não foi por acaso que Pessoa, ao reflectir premonitoriamente, afirmou que a nossa pátria é a língua portuguesa. Esta não é uma frase para ser incluída numa poesia. É um encaixe de um projecto sintetizado numa frase.

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