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5249 | I Série - Número 095 | 17 de Junho de 2004

 

e a irrelevância.
Foi contra esses três males que António de Sousa Franco se levantou, como no seu tempo se tinha levantado o Infante D. Pedro, Duque de Coimbra, "o Europeu", sabendo que tinha de lutar contra ventos e marés. Eis porque o tema europeu, eis porque a sua militância europeia tem tudo a ver connosco e com o modo como formos capazes de organizar o nosso futuro.
Uma palavra muito especial para a Dr.ª Matilde Sousa Franco, que, nas galerias, assiste a esta sessão, pela sua extraordinária coragem, por aquilo que nos tem ensinado nestes dias, em determinação, em respeito pela memória de quem nos deixou mas está bem presente entre nós.
António de Sousa Franco deixa-nos um sentimento de profunda saudade, mas não esquecemos a sua esperança, não esquecemos o seu entusiasmo, a sua alegria, o seu brilhantismo, o seu sentido de humor, a sua inteligência rara.
António de Sousa Franco está e continuará connosco.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra a Sr.ª Deputada Assunção Esteves.

A Sr.ª Assunção Esteves (PSD): - Sr. Presidente, Sr. Ministro dos Assuntos Parlamentares, Sr.as e Srs. Deputados: Há dias em que as palavras falham. Assim é hoje, assim foi naquela manhã de quarta-feira. A campanha interrompida por um silêncio de dor e absurdo.
Falo como testemunha do gelo que nos atravessou, na coligação, das lágrimas de João de Deus Pinheiro, o mais directo concorrente de Sousa Franco. Falo como amiga, ex-aluna, cidadã que teve e tem a Sousa Franco como referência.
Encontrei-o em Roma, nas vésperas do confronto eleitoral e disse-lhe o que mais me conforta nesta hora de tristeza: que sentia uma grande honra em tê-lo como protagonista nesse confronto. Sousa Franco, com ternura, quase que se desculpava com a proximidade do dia 13, como que a relativizar a diferença partidária que nos separava.
Sousa Franco atingiu o que de mais sublime um ser humano pode atingir: um pensamento que brilha num coração que bate, o golpe de asa da civilidade que é, ela também, suporte da moralidade.
Se alguém teve um comportamento ético admirável e atingiu a excelência da cidadania, esse alguém foi, de certeza, Sousa Franco.
Culto, arguto, homem de convicções e, por isso, profundamente humano, Sousa Franco soube como ninguém que a melhor forma de homenagear o pensamento é transformá-lo em acção.
Nada de mais sublime do que o filósofo que arregaça as mangas, o pensador que ocupa o seu lugar na ordem do mundo e assume inteiramente as suas responsabilidades nessa ordem.
Nada de mais excelente do que a cidadania que assume que, tal como a liberdade, também a felicidade é um ideal da esfera pública.
Sousa Franco protagonizou a verdadeira atitude moral, a do comprometimento, a da entrega, a da missão. A missão que ultrapassa o interesse próprio ou mesmo dá ao interesse próprio outra leitura, porque ninguém pode ser feliz quando fecha os olhos ao destino dos outros.
Sousa Franco recusou o puro prazer de reflectir à porta fechada, deu asas ao pensamento e converteu-o em regra de vida; recusou um ideal de justiça meramente contemplativo, não se demitiu.
A universalidade do discurso europeu assentava-lhe com perfeição, porque a universalidade é inevitável numa forte consciência dos valores públicos da justiça. E também o optimismo em relação ao futuro, imprescindível ao agir político. E também o sentido da obra comum. E também o desejo de um mundo sem muros nem barreiras. Tudo isso presente em Sousa Franco.
Afinal, há uma espécie de eternização neste sentido profundo do outro, neste sentido de responsabilidade que se compromete com o destino de todos, que é, afinal, o grande sentido da política.
Sousa Franco foi assim: ponte entre saber e solicitude, exemplo de uma humanidade partilhada, cidadania que capricha na mais pura excelência.
Quando o homenageei pela última vez, perguntei-me como pode morrer o pensamento. Mas o pensamento não morre; não morre, se ele foi ainda acção; não morre, se ele saiu da biblioteca, atravessou as portas de casa e foi à luta no centro da cidade. Assim não morre!
À família e ao País, a manifestação de dor de todos os militantes do PSD, de uma dor profunda, partilhada, eternamente sentida.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Diogo Feio.

O Sr. Diogo Feio (CDS-PP): - Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O Grupo Parlamentar do CDS-PP associa-se ao voto de pesar, apresentado pelo Partido Socialista, pela morte de António Luciano de Sousa Franco.

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