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1270 | I Série - Número 031 | 17 de Junho de 2005

 

O Sr. Marques Júnior (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Falar do General Vasco Gonçalves não é tarefa fácil para quem, como eu, teve a oportunidade de conviver com ele, partilhando alguns dos momentos mais exaltantes da nossa História e, simultaneamente, divergindo noutros, em que o nosso futuro colectivo viveu situações de grande incerteza.
Falar de Vasco Gonçalves é revisitar um pouco a Revolução de Abril naquilo que ela teve de mais belo e generoso da utopia e do sonho e, ao mesmo tempo, recordar os tempos de todas as verdades, do derrube de todos os tabus, dos ideais tornados realidade, da eliminação de todas as barreiras e também dos erros, das manipulações, da instrumentalização, dos confrontos imaginados ou reais, dos golpes e contragolpes, é recordar a dinâmica de uma Revolução que superou tudo o que a nossa imaginação, por mais fértil que fosse, podia prever.
Vasco Gonçalves teve em tudo isto um papel importante, sendo justo reconhecer que sempre orientado pelos valores da justiça social e da dignificação do homem. Foi, enquanto primeiro-ministro, um político que se bateu intransigentemente pelos seus ideais, sem qualquer tipo de aproveitamento pessoal, que teve a dignidade e a humildade que outros, noutras circunstâncias, não tiveram: a de, depois de retirado, não ter tido qualquer altitude que procurasse influenciar, de forma ilegítima, o decurso da nossa vida política.
Podemos discordar de muitas das suas posições, principalmente da forma e até dos métodos como pretendia alcançar os seus objectivos. Não podemos, no entanto, esquecer-nos que vivíamos num período revolucionário e pré-constitucional, nem podemos negar-lhe o idealismo e a generosidade com que se bateu pelos valores em que acreditava. É minha profunda convicção que Vasco Gonçalves acreditava sinceramente na possibilidade de, na prática, concretizar rapidamente os objectivos do 25 de Abril e, em particular, a justiça social, como objectivo primeiro do programa do Movimento das Forças Armadas, objectivo que, infelizmente, ainda hoje estamos tão longe de conseguir. E talvez hoje, aqui, também seja a altura de muitos de nós colocarem a mão na consciência antes de fazerem certas críticas.
Foi este o sentido das reformas que procurou levar à prática como primeiro-ministro. É um facto que muitos discordaram da forma como pretendia concretizar esses objectivos, sendo certo que não é possível analisar a situação que se vivia em Portugal nessa altura com os parâmetros de referência que temos hoje, quer nacionais quer internacionais. Mas é necessário, por simples honestidade intelectual, fazer uma análise enquadrada na conjuntura que se vivia e reconhecer que até as medidas económicas mais polémicas tiveram o apoio da maior parte dos partidos ainda hoje representados nesta Câmara. Podia ser questionada a racionalidade económica, mas a verdade é que a dinâmica política condicionou, de forma inexorável, as decisões que foram tomadas.
O General Vasco Gonçalves foi o rosto e a referência para muitos portugueses que lutavam por condições mínimas de dignidade, em particular para as classes mais desfavorecidas da nossa sociedade.
Vasco Gonçalves, de quem discordei muitas vezes, foi, inegavelmente, um grande patriota que lutou pelos seus ideais e procurou, à sua maneira, concretizar os objectivos mais generosos da Revolução de Abril. Nessa altura, mesmo quando não teve sucesso, não podemos negar-lhe a determinação, a coerência e a utopia tão característica dos militares de Abril. Quando, por divergências políticas profundas com outros militares de Abril, abandonou as suas funções, aceitou democraticamente a situação, não abdicando, contudo, do direito de cidadania que ajudou a conquistar. E, nesse quadro, continuou a ter uma intervenção cívica muitas vezes crítica, mas sempre no respeito pelas instituições democráticas e em defesa do povo português.
Vasco Gonçalves será recordado pela generosidade da sua acção política e pela identificação com os grandes problemas e sofrimentos dos mais desfavorecidos.
Vasco Gonçalves, um militar de Abril.
À família enlutada o Partido Socialista apresenta sentidas condolências.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): - Sr. Presidente, Sr. Ministro, Srs. Deputados: "Nós não podemos dar com a nossa economia em pantanas, nós temos de a consolidar. Não se exige só sacrifícios dos trabalhadores, é preciso exigir-se também sacrifícios dos detentores do capital."
Quem o disse foi Vasco Gonçalves.
Esta citação reflecte bem o sentido de justiça social e de exigência de empenho para promover o desenvolvimento do País, um esforço de todos para todos e não o que, infelizmente, nos habituámos a ver posteriormente, ou seja, a exigência de sacrifício dos mesmos trabalhadores para aliviar os detentores do capital.
Vasco Gonçalves esteve com o povo. Como não valorizar um homem que serviu o povo? Que povo aceitaria um pedido de jornadas de trabalho gratuitas para acelerar um processo de desenvolvimento que estava atrasado por força de uma ditadura de 48 anos? Que povo aceitaria trabalhar gratuitamente em prol da sua comunidade quando os serviços públicos ainda não estavam aptos, como se desejaria que viessem a estar, para dar resposta às necessidades dos cidadãos? Certamente só um povo que enaltece os objectivos que se propunham atingir.

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