O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

1276 | I Série - Número 031 | 17 de Junho de 2005

 

Álvaro Cunhal revelou durante toda a sua vida, mesmo sendo sujeito às maiores provações, a mais de 12 anos de prisão, a bárbaras torturas e às duras condições da vida clandestina, qualidades excepcionais como político, militante comunista e como ser humano.
Álvaro Cunhal assumiu o seu intenso percurso de muitas décadas de luta e intervenção, em todas as circunstâncias e até aos últimos dias da sua vida, sempre com uma enorme confiança no futuro.
Com o falecimento de Álvaro Cunhal desaparece um dos mais consequentes e abnegados protagonistas da vida política nacional, que representa para muitos portugueses um exemplo de convicção e combatividade na luta pelos seus ideais.
A Assembleia da República manifesta o seu mais profundo pesar pelo falecimento de Álvaro Cunhal, endereçando à sua família e ao Partido Comunista Português sentidas condolências.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Macedo.

O Sr. Miguel Macedo (PSD): - Sr. Presidente, Sr. Ministro, Sr.as e Srs. Deputados: O Dr. Álvaro Cunhal foi uma figura incontornável da política portuguesa das últimas décadas.
Primeiro, na oposição e resistência ao regime deposto no 25 de Abril, oposição e resistência que pagou com a clandestinidade e com a prisão.
Depois do 25 de Abril, na liderança do PCP, defendendo com persistência um projecto de sociedade com o qual, de resto, temos profundas divergências.
Separam-nos diferenças políticas profundas, frontais e claras. Diferenças, entre outras, no projecto da sociedade, na concepção da democracia, do papel do Estado e na liberdade da iniciativa privada da economia.
Compreende-se, por isso, com inteira honestidade política, que o PSD não acompanhe os elogios políticos contidos no voto de pesar, razão pela qual solicitamos, de resto, que seja votado em separado o último parágrafo do voto de pesar.
Nada disto impede que, com inteiro respeito, no momento da morte do Dr. Álvaro Cunhal, nos associemos às condolências à sua família e ao Partido Comunista Português.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Francisco Louçã.

O Sr. Francisco Louçã (BE): - Sr. Presidente, Sr. Ministro, Sr.as e Srs. Deputados: O olhar sobre a morte distingue-nos certamente no debate político mas também nas atitudes, e começaria por elogiar a atitude do Estado português, que soube estar à altura da homenagem a um dirigente político tão importante e tão impressionante como Álvaro Cunhal, ao contrário de um governo que recentemente excluiu das honras do funeral de Estado uma ex-primeira-ministra, Maria de Lourdes Pintasilgo. Também nas atitudes se sabe ver a diferença...!
Álvaro Cunhal foi homenageado pelo Estado português, mas foi-o sobretudo pelo povo português.
Vivemos ontem, nas ruas de Lisboa, o que terá sido, sem dúvida, o funeral mais participado e mais emotivo que a democracia portuguesa viveu até hoje.
Pode lembrar-se Álvaro Cunhal de várias formas: certamente pelo seu contributo artístico, uma vez que foi pintor, escritor, amou a literatura clássica, foi tradutor de Shakespeare, mas será sobretudo lembrado como dirigente político da luta antifascista.
Por isso mesmo importa dizer da coerência política desse combate, que implicou um empenhamento pessoal como poucas outras pessoas para ele contribuíram. Foi tão único que por isso mesmo foi destacado pelos portugueses.
Não aceitaremos a ideia da historiografia revisora que olha para trás banalizando as diferenças, como se Álvaro Cunhal pudesse ser comparado com Salazar, como se a luta pela libertação pudesse ser uma alma gémea distinta da opressão…
Não iludamos as diferenças, porque foram essas diferenças que construíram a democracia e, nesse combate, Álvaro Cunhal foi um dos maiores, assim como foi, na coerência das suas posições, um construtor do Partido Comunista Português e das lutas políticas e sociais que marcaram os anos do fim da ditadura e do princípio da democracia e as décadas seguintes.
Lembramo-lo em todas estas condições, pelas convergências e pelas divergências que com ele tivemos, homenageando aquele que foi um contributo ímpar para a história portuguesa do século XX e para a revolução democrática que nos permite estar aqui hoje.
Álvaro Cunhal viveu um tempo em que o mundo mudou e fez parte dessa mudança, com coerência e com cabeça erguida, toda a sua vida, dedicando 70 anos ao seu partido, a quem endereçamos as nossas sinceras condolências bem como à sua família.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Nuno Teixeira de Melo.

Páginas Relacionadas
Página 1280:
1280 | I Série - Número 031 | 17 de Junho de 2005   A dignidade é também a ba
Pág.Página 1280