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1275 | I Série - Número 031 | 17 de Junho de 2005

 

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Ministro dos Assuntos Parlamentares.

O Sr. Ministro dos Assuntos Parlamentares: - Sr. Presidente, a cultura portuguesa sofreu nos últimos dias perdas importantes. Estou certo de que Eugénio de Andrade gostaria que também aproveitássemos esta ocasião para lamentar a morte do pintor René Bertholo.
Não tenho nada a acrescentar às palavras expressivas com que já foi caracterizada hoje a sua poesia. Permito-me acrescentar, contudo, como motivo bastante para o encarecimento da memória de Eugénio de Andrade, a sua acção em prol da promoção da leitura e da audição da leitura de poesia. Seja através da sua Fundação, a Fundação Eugénio de Andrade, e das sessões de dizer e de ouvir dizer poesia que ela regularmente patrocinava e continuará, certamente, a patrocinar, seja através da presença amiúde do poeta em escolas básicas e secundárias, explicando aos alunos como deveriam dizer e ouvir dizer poesia. Não me esquecerei do sorriso traquina com que ele tantas vezes dizia que "as sílabas têm veneno" e que, portanto, não as podemos "comer" quando dizemos poesia. Esse é também um motivo muito importante para homenagearmos hoje Eugénio de Andrade.
E a melhor homenagem que lhe podemos fazer talvez seja a de recordar alguns dos seus versos, em particular os versos lindíssimos que dizem: "Colhe / todo o oiro do dia / na haste mais alta / da melancolia." Este País, que "sabe às amoras bravas no Verão", a melhor homenagem que pode fazer a Eugénio de Andrade é justamente a de "colher o oiro do dia na haste mais alta da melancolia" e perceber que a melhor forma de o fazer é continuar a dizer e a ouvir dizer poesia.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, vamos proceder à votação do voto n.º 11/X - De pesar pelo falecimento do poeta Eugénio de Andrade (Presidente da AR).

Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.

Srs. Deputados, vamos, agora, passar à apreciação do voto n.º 13/X - De pesar pelo falecimento do Dr. Álvaro Cunhal (PCP).
Tem a palavra o Sr. Secretário para proceder à respectiva leitura.

O Sr. Secretário (Jorge Machado): - Sr. Presidente e Srs. Deputados, o voto é o seguinte:

Álvaro Cunhal faleceu na passada segunda-feira, aos 91 anos de idade.
Álvaro Cunhal nasceu em Coimbra, em 1913, sendo membro do Partido Comunista Português desde 1931. Iniciou a sua actividade política enquanto estudante da Faculdade de Direito de Lisboa. Participou no movimento associativo e foi eleito, em 1934, representante dos estudantes no Senado Universitário. Militou na Federação da Juventude Comunista Portuguesa, de que foi eleito Secretário-Geral em 1935, ano em que passou à clandestinidade.
Álvaro Cunhal foi preso em 1937 e 1940, sendo submetido a torturas. Libertado após alguns meses de prisão, retomou de imediato a sua luta contra o regime fascista. Participou na reorganização do PCP em 1940/41 e, vivendo de novo na clandestinidade, integrou o Secretariado deste Partido de 1942 a 1949.
Sendo novamente preso em 1949, fez no tribunal fascista que o julgou uma severa acusação à ditadura fascista e uma defesa da política do PCP. Foi condenado, tendo então permanecido 11 anos na prisão, dos quais quase 8 em completo isolamento. Em 3 de Janeiro de 1960 evadiu-se, com um grupo de destacados militantes comunistas, da prisão-fortaleza de Peniche. Sendo de novo chamado ao Secretariado do Comité Central do PCP, foi eleito Secretário-Geral em 1961.
Depois do derrubamento da ditadura fascista em 25 de Abril de 1974, foi Ministro sem Pasta do I, II, III e IV Governos Provisórios e eleito Deputado à Assembleia da República em 1976, 1979, 1980, 1983, 1985 e 1987. Foi membro do Conselho de Estado. Em 1992, no XIV Congresso do PCP, deixou de ser Secretário-Geral do PCP, sendo eleito então Presidente do Conselho Nacional deste Partido, mantendo-se no seu Comité Central até aos dias de hoje.
Álvaro Cunhal foi, ao mesmo tempo, autor de vasta obra, quer publicada, seja no campo político e ideológico, seja no campo literário - nomeadamente com o pseudónimo Manuel Tiago -, quer no plano das artes plásticas.
Álvaro Cunhal dedicou toda a sua vida ao ideal e ao projecto comunistas, mantendo um compromisso e dedicação sem limites aos interesses dos trabalhadores e do povo português, e à soberania e independência do seu país.
Intervindo com o seu partido de sempre - o PCP - ao longo de mais de 74 anos de acção e intervenção política, assumiu um papel principal na história portuguesa do século XX, na resistência antifascista, na luta pela liberdade e pela democracia, nas transformações da Revolução de Abril e na defesa de uma sociedade mais justa. Os seus percurso e intervenção tiveram igualmente, no plano internacional, significativo impacto e reconhecimento.

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