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5759 | I Série - Número 125 | 19 de Maio de 2006

 

que, visto, mais parece do século XIX do que do século XXI.
É sabido que o fogo, quando chega nada poupa, devasta e desertifica. Assim fez na Pampilhosa. Como se não chegasse a sina de um concelho esquecido na serra, no interior, o fogo destruiu a floresta, única riqueza daquelas gentes de vida dura e pobre! Naquelas aldeias, a maioria dos que lá ficaram vivem com a pensão mínima e completam a sobrevivência com os pequenos rendimentos da floresta.
Nos 11 dias de incêndio, em Agosto passado, arderam 2100 colmeias, 6 cabras e 518 ovelhas ficaram sem pasto, arderam 276 currais, arderam máquinas e alfaias agrícolas, arderam oliveiras e videiras. As pessoas mais carentes deste país, aquelas que ainda resistem a vir para os subúrbios de Lisboa, ou do Porto, ficaram mais pobres ainda. Refiro-me ao tal interior desertificado que todos prometem melhorar, tratar e acarinhar quando discursam nas efemérides nacionais! Ardeu floresta, pinheiros, eucaliptos e castanheiros, floresta de propriedades privadas (de muitos proprietários), muitos filhos da terra que têm pequenos pinhais que ninguém sabe bem onde começam e onde acabam… Arderam estaleiros de madeira nobre e máquinas e armazéns das duas pequenas empresas da zona. Ardeu o alcatrão das estradas, no valor de mais de 3 milhões de euros, sistemas de abastecimento no valor de 269 000 € e máquinas municipais no valor de 220 000 €. A corporação de bombeiros perdeu mangueiras, moto-bombas, pneus e duas viaturas no combate ao fogo.
Na Pampilhosa da Serra, vivem hoje 5220 pessoas, das quais 2340 são pensionistas - 5220 dá uma média de 12 habitantes por quilómetro, e mais de metade são pensionistas. De acordo com o censo de 1940, viviam cerca de 17 000 almas no concelho. Ficaram poucos, pobres e muitos velhos, que vão ouvindo os discursos sobre a necessidade de apoiar o interior do País. Palavras! Porque nem quando a catástrofe lhes bate à porta e entra pela casa dentro alguém apoia ou se lembra dos mais pobres dos pobres deste país. Só se lembram deles para palco de propaganda política!
O incêndio da Pampilhosa da Serra foi tão brutal e tão devastador que foi este o fogo que o Sr. Primeiro-Ministro escolheu para visitar quando as suas férias africanas terminaram. Foi à Pampilhosa da Serra com o Dr. António Costa, Ministro da Administração Interna, prometer apoio às populações e à Câmara Municipal. O Sr. Ministro da Administração Interna, esse foi mesmo duas vezes ao fogo da Pampilhosa e de lá falou às pessoas e à comunicação social. Prometeram auxílio, prometeram ajudas, garantiram às pessoas que não estavam a aproveitar-se do seu sofrimento para aparecerem nas televisões, mas para ajudar e garantir os apoios necessários a quem lá vive.

O Sr. Pedro Duarte (PSD): - Muito bem!

A Oradora: - Falso! Nove meses depois, nunca mais se lembraram da Pampilhosa da Serra. É sintomático de como se está na política em Portugal. O Primeiro-Ministro e o Ministro da Administração Interna, quando foram à Pampilhosa - e todos se lembram disso -, perante a solicitação do Presidente da Câmara de que o Governo declarasse o concelho em calamidade pública, para assim poderem receber fundos comunitários, afirmaram peremptórios que era mais favorável ao concelho que o Governo o não fizesse, porque assim teriam mais apoios. Mentira! Visitei o concelho com o respectivo Presidente da Câmara e com outros autarcas eleitos recentemente. Até hoje, nenhum apoio chegou a ninguém, nenhum apoio chegou à Pampilhosa da Serra.
Pior ainda: apagado o fogo, nem o Ministro António Costa nem os seus Secretários de Estado respondem sequer aos faxes e aos pedidos de audiência do Presidente da Câmara. Uma vergonha!
Em 21 de Agosto, cito a Lusa, o Primeiro-Ministro, engenheiro José Sócrates, dizia na Pampilhosa da Serra: "O Governo desbloqueou já e activou os mecanismos que tem à sua disposição para apoiar, quer os concelhos e as câmaras, quer as pessoas que são afectadas pelo fogo mais directamente". Ainda não chegou esse apoio. Até hoje, nenhum apoio receberam, nem a Câmara, nem as populações.
Percorri todo o concelho, um concelho calcinado e cheio de cinzas. Na Câmara, vi um molho de faxes e cartas (de que tenho fotocópia) dirigidas ao Ministro António Costa, sem que, porém, tenha havido resposta. Cartas e faxes dirigidos ao Ministro e aos Secretários de Estado do Ministro e sem resposta. O Presidente da Câmara conseguiu levar lá o Secretário de Estado Eduardo Cabrita, convidando-o para presidir à festa do feriado municipal, para, assim, ultrapassar o silêncio dos faxes e lhe pedir a ajuda que prometera!
Nove meses depois, a madeira apodrece na floresta, algumas estradas foram arranjadas, se bem que todas com dinheiro e meios municipais, a Câmara ainda não recebeu um cêntimo e "anda de Herodes para Pilatos" a tentar conseguir um contrato-programa para a Pampilhosa recuperar do incêndio. A máquina ardida, essa, sim, foi já recuperada, mas com a cotização solidária dos municípios vizinhos que a tinham em compropriedade. Se as aldeias têm hoje água, é porque a Câmara refez as condutas e, se as pessoas das casas ardidas têm casas, é porque a Câmara avançou na reconstrução. Talvez um dia o INH (Instituto Nacional de Habitação) reembolse o dinheiro gasto. Mais ainda: as verbas até hoje distribuídas para ajudar quem perdeu tudo foram o resultado das contas privadas e da solidariedade dos portugueses.
Nove meses depois, ninguém esqueceu o fogo nem os dramas vividos naqueles 11 dias que transformaram a Pampilhosa, para usar uma expressão batida, no inferno de Dante. Mas também não esqueceram como foram usados para servir de mero cenário de falsas promessas de solidariedade e de apoio.

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