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50 | I Série - Número: 072 | 17 de Abril de 2008

Portanto, Amitai Etzione considera que o facilitismo do divórcio, com leis sem culpa, nos anos 1960 e início
dos anos 1970, nos EUA, prejudicou profundamente a sociedade e que, quando este país já estava a voltar
atrás, nos anos 1990 a Europa Ocidental foi adoptando estes princípios. Princípios estes que estão chegando
a Portugal, agora, com carácter de urgência.
6 — Em Portugal, a taxa de crescimento do número de divórcios tem sido das mais altas da Europa nos
últimos 25 anos. No curto espaço de tempo entre 1980 e 2006, passámos de 5843 para 22 881 divórcios,
segundo dados do Instituto Nacional de Estatística; ou seja, enquanto nos EUA o número de divórcios duplicou
em 30 anos, em Portugal em apenas 16 anos mais do que quadruplicou, e ainda antes de mais estes
facilitismos. Um recente estudo realizado pelo Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) revela que
cerca de 100 mil famílias portuguesas sofrem de graves dificuldades financeiras, número que vai aumentando
e está relacionado com os chamados «3 Dês»: do divórcio, do desemprego ou da doença. Em 15 de Abril de
2008 o boletim económico da Primavera do Banco de Portugal, sobre a taxa de desemprego em 2007, refere
que atingiu os 8%, «um registo historicamente elevado no contexto da economia portuguesa».
As famílias portuguesas estão a ser cada vez mais destruídas, com alarmantes e evidentes consequências.
Além de alguns aspectos que anotei, por exemplo, o nosso país, ocupa o 2.º lugar europeu quanto à gravidez
na adolescência (o 1.º lugar cabe ao Reino Unido), a delinquência, o crime, o consumo de drogas, a violência
aumentam. É fundamental que, com urgência, aprendamos com os erros dos outros.
7 — Em relação ao Reino Unido, o Institute of Economic Affairs, de Londres, publicou em 2007 a obra de
Patricia Morgan The War Between the State and the Family: How Government Divides and Impoverishes, com
bem fundamentada divulgação de como as políticas conservadoras e trabalhistas dos últimos decénios
incentivaram a separação das famílias. Perante o aflitivo cenário das famílias inglesas, a autora apresenta
algumas sugestões para corrigir os enormes danos causados: 1 — tornar a permitir a realização de contratos
de casamento mais consistentes e estáveis, em que as partes que os quebrem unilateralmente e sem justa
causa sejam obrigadas a assumir as suas responsabilidades; 2 — acabar com a discriminação contra as
famílias tradicionais assentes no casamento — o Estado não devia penalizar em caso algum pelo facto de se
estar casado; 3 — o Estado devia deixar de subsidiar (directa e indirectamente) as formas de vida
«alternativas»: a verdadeira alternativa liberal consiste em permitir que as pessoas tomem as suas opções,
mas assumindo as suas responsabilidades, com os respectivos custos incluídos.
Foi pois sem surpresa que há dias um relatório da UNICEF relativo à felicidade das crianças, no ano de
2007, coloca o Reino Unido no último lugar em 21 países industrializados. A propósito, a revista Time de 7 de
Abril de 2008 ocupa a capa com o assunto Unhappy, Unloved and Out of Control. A reportagem intitula-se:
«Mean Streets — An epidemic of violent crime, teen pregnancy, heavy drinking and drug abuse fuels fears that
British youth is in crisis». O texto evidencia os generalizados problemas sociais, como falta de coesão também
inter social, inter racial, etc, óptimos terrenos para o terrorismo.
Richard Layard, da London School of Economics, que tem estudado as causas da felicidade (e que eu citei
no ponto 4) declarou agora à Time algumas causas da situação: «a very individualistic culture, in which a huge
emphasis is placed on personal success and less on good fellowship», «young people live in a world with very
little meaningful contact or engagement with adults».
8 — No Reino Unido, como noutros países, tem-se nas últimas décadas seguido a moda de a família (que,
lembro, «é o elemento natural e fundamental da sociedade», segundo a expressão da própria Declaração
Universal dos Direitos Humanos) se fundar quase unilateralmente em direitos, não assumindo deveres (dos
cônjuges entre si, dos pais para com os filhos e dos filhos para com os pais), o que torna impossível construir
uma sociedade verdadeiramente solidária, pois a família é a primeira escola de amor, verdade, solidariedade.
Os catastróficos resultados destas políticas anti-família estão bem presentes.
9 — Eduardo Lourenço, confrontado com a questão de uma ideia condutora para a Europa, respondeu: «a
fraternidade cristã» e que «a Europa ou será cristã ou não será», segundo afirmações feitas em Bruxelas (in
Público, 14 Outubro 1991).
A expressão «a Europa ou será cristã ou não será» faz lembrar a de André Malraux (1901-1976) «o século
XXI será religioso ou não será», duas fantásticas antevisões do tempo presente.
Os anos recentes vivem profundos sobressaltos: aumento da intolerância e violência a vários níveis,
progressivas desigualdades entre ricos e pobres, corrosivos problemas sociais, crise alimentar, etc.

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