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12 DE MARÇO DE 2010 11

da Madeira: «Há uma árvore de gotas em todos os paraísos. Com o rosto molhado, eu posso ficar com o rosto

molhado, com os olhos grandes. Neste lugar absoluto pelo sopro, fervem as víboras de ouro das nós sobre as

pedras enterradas. Leopardos lambem-me as mãos giratórias. E eu abro a pedra para ver a água

estremecedora.

A água embebeda-me.

Como nos corredores de uma casa brilha o ar, brilha como entre os dedos. A minha vida é incalculável».

Do arquipélago, onde tudo aconteceu naquele fatídico 20 de Fevereiro de 2010, diz outro poeta

madeirense, José Agostinho Baptista: «Uma noite, quando o mundo já era muito triste, veio um pássaro da

chuva e entrou no teu peito, e aí, como um queixume, ouviu-se essa voz de dor que já era a tua voz, como um

metal fino, uma lâmina no coração dos pássaros.

Agora, nem o vento move as cortinas desta casa.

O silêncio é como uma pedra imensa, encostada à garganta».

Afagamos a dor e estancamos o sofrimento lembrando os 43 mortos, os 8 desaparecidos, os 600

desalojados e os milhares de carenciados da tragédia da Madeira.

O nosso pesar deste momento só pode ter um sinónimo: solidariedade — e esta não tem faltado.

Portugal e os portugueses mobilizaram-se para socorrer e ajudar as gentes da Madeira neste momento

difícil.

As correntes de solidariedade que atravessaram o País em direcção à Madeira foram mais fortes do que as

correntes de lama que destruíram a nossa ilha.

É por isso que a poesia volta a fazer sentido.

No poema «Ilha dos Mortos», José Tolentino Mendonça escreveu: «Nenhuma morte é tão longa quanto a

vida — diria quem pela primeira vez visse debaixo de árvores sombrias o sítio do mar, a porta das

constelações com espantos possíveis e, no entanto, uma esperança».

É esta esperança que anima o povo madeirense na tarefa da reconstrução que agora começa. Um trabalho

que contou, desde a primeira hora, com o empenho dos órgãos de soberania e, em particular, do Governo da

República, que, superando intensas divergências políticas, colocou na Região todos os meios humanos e

materiais necessários para acorrer a uma catástrofe desta dimensão. Esperamos que esse apoio possa

continuar e que o sentido de Estado e de responsabilidade agora demonstrado por todas as partes venha a

marcar de forma indelével a obra de reconstrução da Madeira. as

Sr. Presidente, Sr. e Srs. Deputados: Ao longo da sua história, os madeirenses na sua terra e no mundo

defrontaram as maiores adversidades e sempre ganharam porque sempre souberam que é preciso derrubar a

«pedra imensa encostada à garganta» e, sobretudo, que «nenhuma morte é tão longa quanto a vida».

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente: —Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Francisco de Assis.

O Sr. Francisco de Assis (PS): — Sr. Presidente, quero, também, em nome do Grupo Parlamentar do

Partido Socialista, manifestar o nosso profundo pesar pelo que aconteceu na Madeira, enviar as nossas

condolências às famílias das vítimas e manifestar a nossa admiração pela reacção do povo madeirense.

É perante as circunstâncias mais trágicas da existência que muitas vezes vem ao de cima o melhor da

condição humana. E foi isso, também, que tivemos oportunidade de ver na Madeira: perante a tragédia,

perante o cenário de morte e de desolação, que, infelizmente, afectou de forma tão profunda a ilha da

Madeira, os madeirenses reagiram com uma imensa generosidade e com um fortíssimo impulso de

solidariedade. Esse impulso de solidariedade não poderia também deixar de encontrar eco em todos os

demais portugueses.

A tragédia da Madeira foi a tragédia de Portugal inteiro e a solidariedade para com a Madeira foi a

solidariedade de todos os portugueses. Por isso, nesse momento tão trágico, foi possível também constatar

como os homens e as mulheres têm reservas de generosidade e de solidariedade que se manifestam muito

particularmente nesses momentos.

Agora é também tempo, sendo hora de manifestar esse pesar, de dar lugar à esperança, como também

dizia, na sua bela intervenção, o Sr. Deputado José Manuel Rodrigues.

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