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33 | I Série - Número: 072 | 25 de Junho de 2010

Estima-se que a libertação de petróleo daquele poço negro que abriram no mar seja o equivalente a 60 000 barris de petróleo/dia. A recolha deste lixo tem equivalido a 15 000 barris de petróleo/dia, sendo portanto claramente insuficiente.
Antes do desastre, a BP assegurava que, em caso de acidente, tinha ao dispor tecnologia que a possibilitaria gerir um derrame de 250 000 barris/dia — mais do quádruplo, portanto.
Depois do acidente, a BP admite que não estava preparada para uma situação destas em águas tão profundas e o que vai confirmando é a sua efectiva incapacidade em assegurar a captura do petróleo que enegrece as águas atlânticas.
Actividades económicas delapidadas, vidas humanas perdidas, ecossistemas marinhos amplamente destruídos, são algumas das consequências severas deste derrame de crude. São muitas delas consequências irreversíveis que deixam a marca negra de uma actividade económica que foi altamente lucrativa para a BP.
As reacções da BP, entretanto, foram totalmente absurdas e inaceitáveis, desde a alusão a que este derrame era apenas uma gota no oceano até à manifestação grosseira de que a sua preocupação estava virada para as perdas dos seus accionistas e para os avultados custos que teria com operações de limpeza, que já lhe custaram 1500 milhões de dólares, e com a abertura de um fundo de compensação, destinado a processos indemnizatórios, de 20 000 milhões de dólares, que dará para um mínimo das indemnizações devidas.
Não é a primeira vez que as petrolíferas, incluindo a BP, têm acidentes nos Estados Unidos, mas isso não foi suficiente para travar este desastre nem para evitar que o Presidente Obama tivesse, há cerca de 3 meses, aprovado e anunciado um plano para alargar a exploração petrolífera ao largo da costa atlântica, uma decisão que foi bastante contestada pelos ecologistas norte-americanos.
Nem foi a primeira vez — de resto, até já ocorreu vezes de mais — que ocorreram graves acidentes petrolíferos por este mundo fora: ao largo de Trinidad e Tobago foram derramados, em 1979, cerca de 340 milhões de litros de crude, o que decorreu da colisão de dois petroleiros; em 1980, no Golfo do México, foram libertados mais de 500 milhões de litros de uma plataforma que explodiu; em 1983, a colisão de um petroleiro com uma plataforma derramou mais de 300 milhões de litros ao largo da costa de Angola; em 1989, o Alasca assistiu directamente a uma enorme libertação de crude; em 1991, explodiu um petroleiro que derramou cerca de 300 milhões de litros de crude no Golfo Pérsico; no mesmo ano, a costa do México assistiu a um outro derrame que durou 9 meses, decorrente de colapso de uma plataforma petrolífera; em 2005, explodiu uma refinaria da BP no Texas. São apenas alguns exemplos dos graves acidentes ocorridos, os quais parecem cair permanentemente no esquecimento quando se fazem novas negociatas de exploração petrolífera.
Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Este acidente no Golfo do México provoca danos enormíssimos, e alguns irreparáveis, ao nível social, ambiental e económico.
Pergunta-se, neste momento, em que todos sabemos o que sabemos: vale a pena correr estes riscos em muitas circunstâncias? Vale a pena pôr tudo isto em causa, com estes riscos associados? Sr.as e Srs. Deputados, este acidente deu-se com a melhor tecnologia de ponta. E foi com esta melhor tecnologia que se deu um dos piores desastres ecológicos! A BP disse que estava preparada para tudo. Os decisores acreditaram, os reguladores acreditaram, ninguém testou a BP. E, confrontada com o acidente real, a BP diz que não é capaz e os decisores e reguladores bradam à BP para que acautele o que eles não acautelaram com a BP.
A BP falhou na ânsia de lucrar mais e mais com o seu negócio, mas falhou também o planeamento e a transparência dos decisores e a supervisão dos reguladores.
Aliás, neste momento, há cientistas que confirmam que não fazemos uma menor ideia do que se passa, de facto, no fundo do oceano em termos de actividades de exploração, porque os poderes económico e político não revelam tudo quanto haveria para revelar.
E para quem gosta de deixar tudo ao critério do mercado e da regulação, veja-se o que daí resulta.
Aqui, bem se podia aplicar aquele dito popular corrente «e quem se lixa é o mexilhão»! Mas vê-se aqui uma visão bem ampla de «mexilhão», porque são vidas, são sustentos, são ecossistemas que colapsam! Aqui, a lição imediata a retirar é que esta questão da gestão dos riscos fica sempre aquém dos interesses económicos em jogo. É assim com o nuclear, é assim com os transgénicos, é assim com a co-incineração, é

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